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Comentário Gelio Fregapani – Situação do problema venezuelano e possível evolução

Assunto: Situação do problema venezuelano e possível evolução

Tendo em seu território a maior reserva de petróleo do mundo, a Venezuela que fornecia um terço do consumo norte-americano se acostumara a viver desse rendimento, importando alimentos e outras necessidades que deveriam ter produzido internamente.  Em consequência do desperdício e da corrupção seu comércio era deficitário apesar da riqueza em petróleo e as reservas tornaram-se a garantia da dívida. As petroleiras legalmente se apoderariam dos ativos em caso de falta de pagamento. As petrolíferas sabiam que a Venezuela tentaria mudar e procuravam mantê-la na situação de dependência.

A corrupção governamental facilitando a política rapace das petroleiras causou a reação que culminou na eleição de Hugo Chávez, que nacionalizou o petróleo. O apoio diplomático dos EUA às suas empresas tornou inevitável o embate entre os dois governos. Uma greve interrompeu o fornecimento e os EUA, para não usar sua reserva de guerra procurou outra fonte, mas só o Iraque (ainda sob embargo) tinha condições de aumentar a produção em curto prazo. O Iraque concordou em fornecer o petróleo, mas não em dólares. Esta foi a verdadeira causa da Segunda Guerra do Iraque.

Nesse quadro geopolítico a Rússia e a China, cada uma com seus motivos, apoiavam a Venezuela bem como o nosso governo de então, mais pela aversão esquerdista aos EUA do que pelo repúdio à indefensável agressão americana no Iraque e apoiou diplomaticamente aos países hostis aos EUA e materialmente a Venezuela e na medida que ela se afastava daquele país passava a se abastecer no nosso. O incremento das nossas exportações e a simpatia ideológica dos governos petistas com o chavismo se traduzia por apoio diplomático e tecnológico e até financeiro. Nota-se que o apoio governamental não correspondia totalmente ao apoio popular, pois os agrados aos vizinhos esquerdistas desagradavam a nossa gente e a China e a Rússia ainda eram considerados comunistas e inimigos no nosso imaginário popular.

A situação interna da Venezuela se complica. Chávez falhou tabelando os preços, assim como Sarney fizera entre nós, com idênticos resultados e foi incapaz de evitar a evasão dos melhores cérebros para o exterior levando sua riqueza e principalmente seu conhecimento, o que baixou o rendimento do setor petrolífero deixando a economia no chão. Contudo, Chávez mantinha sua liderança baseado em seu discurso nacionalista e no enfrentamento à exploração das petroleiras, mas suas medidas administrativas deram mau resultado bem como suas aproximações com países de tendência comunista, mas o pior de seus erros foi a escolha de: um sucessor despreparado e irresponsável –  Nicolás Maduro.

A economia que já era bastante decadente desabou de vez. A inflação foi à estratosfera e a pequena produção de bens evaporou. Faltou comida nas mesas e tornava-se evidente que a causa de tudo eram as medidas socializantes do governo. Este, sentindo-se ameaçado, recorreu a medidas violentas e o país entra em clima de guerra civil.

A pressão internacional contra o governo da Venezuela se intensificou, mas seu efeito foi contrário, pois a reação à pressão estrangeira é o único argumento que move uma significativa parte da população que põe o orgulho nacional acima do sofrimento do seu povo. Essa gente, constituída majoritariamente pelos militares é, em qualquer nação, a mais disposta a combater mesmo em inferioridade de condições. Provavelmente sem pressões estrangeiras a Venezuela já teria resolvido seus problemas, a custo talvez de uma guerra civil,

No quadro global as atitudes da Rússia e da China quase equilibram forças das pressões, seja para prejudicar seus adversários do Ocidente, seja por necessitarem do petróleo e de outros recursos naturais da Venezuela. Não é provável que alguma das grandes potências esteja disposta a iniciar uma guerra mundial quer para derrubar, quer para manter governo do Maduro, mas pode haver uma escalada na esperança que o adversário não encare o perigo, pode haver uma avaliação errada. Afinal as duas Guerras Mundiais começaram assim. O fato é que a situação já evoluiu de uma questão interna da Venezuela para uma mundial, com veladas ameaças entre grandes potências. Ainda que a maioria dos geopolíticos já acreditassem que os EUA levariam vantagem na queda de braço nessa disputa pela Venezuela. A eleição do Presidente Bolsonaro certamente influiu neste e em outros cenários geopolíticos no xadrez geopolítico mundial.

Sobre uma Guerra improvável

Quase podemos descartar uma intervenção estrangeira na Venezuela, mas se houver guerra, esta começará internamente entre as facções venezuelanas.  Neste caso provavelmente a Colômbia auxiliará com “voluntários”, talvez os EUA com apoio aéreo, mas sem tropas terrestres, pois isto criaria uma guerrilha sem fim. O nosso País permaneceria apenas cuidando do próprio território, evitando um antagonismo que demoraria a passar.

Seria impossível um conflito direto entre nós e a Venezuela? – Mesmo que seja quase impossível, o impossível não existe. Pode acontecer que num surto de loucura o Maduro pretenda, contando com a supremacia aérea local, apresentar uma pequena vitória contra nossas simbólicas forças na fronteira. Também pode acontecer que uma bem-montada ação com bandeira falsa seja convincente para nos convencer a revidar, tal como aconteceu na II Guerra Mundial. Parece impossível, mas acontecendo é melhor não contar com aliados, facilmente seria deteríamos qualquer ofensiva inimiga ao sul de Caracaraí, nas florestas da BR 164, com as tropas locais da Amazônia, trazidas por via fluvial e uma vez destruídas por “comandos” a artilharia antiaérea inimiga, nada mais nos impediria de atravessar a Grande Savana e ir até o centro de poder do inimigo.

Felizmente isto tudo é hipotético e esperemos que não aconteça.

Que o Criador abençoe nosso esforço para a paz, mas se tivermos que combater, nos inspire a lutar sempre com inteligência para que mereçamos a vitória.     

Gelio Fregapani

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