Governo de Kiev aponta que metade do armamento prometido pelos aliados ocidentais está sendo entregue com atraso. Zelenski diz que 31 mil combatentes ucranianos morreram desde o início da invasão russa.
(DW) Metade das armas ocidentais prometidas à Ucrânia estão sendo entregues com atraso, lamentou neste domingo (25/02) o ministro do país, em meio a um apelo para que os aliados ocidentais enviem mais armamento para que o país consiga conter a Rússia.
“Uma promessa não constitui uma entrega”, disse Rustem Umerov, durante um fórum organizado por ocasião do segundo aniversário do início da guerra. “E 50% dos compromissos não são cumpridos no prazo”, criticou.
Os atrasos, segundo o ministro, colocam a Ucrânia em grande desvantagem na guerra contra a Rússia, apontando como consequência “perdas humanas e de território”.
No momento, o exército ucraniano enfrenta uma situação extremamente delicada na frente de batalha e, após quatro meses de combates violentos, foi obrigado a abandonar a cidade de Avdiivka, no leste do país.
Dificuldades
Apesar da insistência de Kiev, os aliados ocidentais vêm enfrentando dificuldades nos últimos meses em aprovar novos pacotes de ajuda à Ucrânia.
Nos Estados Unidos, congressistas republicanos, adversários do presidente democrata Joe Biden, bloqueiam há várias semanas um pacote de 60 bilhões de dólares para a Ucrânia. Na União Europeia, por sua vez, há atrasos na entrega de 1 milhão cartuchos de artilharia para a Ucrânia. Segundo Kiev, apenas 30% do material foi entregue até agora.
Apesar dos sinais preocupantes, o primeiro-ministro ucraniano, Denis Shmigal, se declarou convencido de que Washington “não vai abandonar” Kiev e aprovará a ajuda.
Nos últimos dias, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, insistiu com os aliados ocidentais para que enviem a ajuda prometida de maneira mais rápida. Ele pediu mais munições, sistemas de defesa aérea e aviões de combate.
“Sabem muito bem do que precisamos para proteger nossos céus, para reforçar nosso Exército em terra, do que precisamos para apoiar e continuar nossos êxitos no mar. E sabem perfeitamente de que precisamos a tempo”, afirmou Zelenski durante uma reunião por videoconferência do G7, que reúne as principais potências ocidentais.
O presidente ucraniano disse ainda que os atrasos nas entregas de armamentos contribuíram para o fracasso da contraofensiva de Kiev no ano passado.
A ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, que visitou o sul da Ucrânia neste fim de semana, declarou que a ajuda dos aliados não deve ser “minimizada como se fosso algo em vão”.
“Salva vidas todos os dias”, insistiu na cidade de Mykolaiv, perto do Mar Negro. No sábado, Baerbock admitiu, no entanto, que a Ucrânia precisa de mais armas para defesa, em particular de longo alcance.
Kiev exige há meses que Berlim entregue mísseis Taurus, uma das armas mais modernas da Força Aérea alemã, mas o governo do chanceler federal Olaf Scholz tem evitado dizer diretamente se pretende enviar esse tipo de armamento para Kiev.
Zelenski afirma que a Ucrânia perdeu 31 mil combatentes
Ainda neste domingo, Zelenski disse que 31 mil soldados ucranianos foram mortos durante a invasão em grande escala da Rússia, divulgando o primeiro número oficial de perdas militares em mais de um ano.
O líder ucraniano disse a repórteres que não poderia divulgar dados sobre feridos, apontando que isso ajudaria no planejamento militar russo. “Trinta e um mil soldados ucranianos foram mortos nesta guerra. Nem 300 mil, nem 150 mil. No entanto, essa é uma grande perda para nós.”
A Ucrânia não divulgava um número sobre suas perdas militares desde o final de 2022, quando o assessor presidencial Mykhailo Podolyak disse que 13 mil soldados ucranianos haviam morrido desde o início da invasão, em 24 de fevereiro daquele ano.
Ministro da Defesa russo visita tropas na Ucrânia
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, inspecionou as tropas russas posicionadas em áreas ocupadas da Ucrânia, particularmente as forças invasoras que recentemente participaram da conquista da cidade ucraniana de Avdivka, informou o Ministério da Defesa russo neste sábado (24/02), dia do segundo aniversário do início da invasão em larga escala ordenada por Moscou.
Durante a visita, Shoigu ouviu um relatório do coronel-general Andrei Mordvichev, comandante do agrupamento de tropas “Centro”, sobre a situação atual naquele setor da linha de frente no leste da Ucrânia. Mordvichev disse a ele que “durante a operação para liberar (sic) Avdivka, o inimigo foi expulso de suas posições a mais de 10 quilômetros de distância” e que as forças russas estavam continuando sua ofensiva naquela direção.
Após a captura de Avdivka, acrescentou, “cerca de 200” soldados ucranianos foram capturados em operações para “limpar” a cidade. As forças russas esperam capturar outros 100 soldados, que supostamente ainda estão na cidade, segundo o comandante. Nenhum desses relatos pôde ser confirmado de forma independente.
“Vantagem está do nosso lado”
Shoigu também participou da condecoração das tropas. Nesta semana, o chefe do Estado-Maior do Exército russo, Valeri Gerasimov, também condecorou os combatentes russos em Avdivka. “Hoje, em termos de proporção de força, a vantagem está do nosso lado”, disse Shoigu, esquecendo-se de que, a rigor, a proporção de força sempre esteve do seu lado.
O líder do Kremlin, Vladimir Putin, havia ordenado anteriormente que seus comandantes militares traduzissem o sucesso obtido em Avdivka para outros setores da frente de batalha, coincidindo com o aniversário de dois anos do início de uma guerra que, de acordo com o planejamento inicial de Moscou, deveria durar apenas algumas semanas.
Ao mesmo tempo, a Rússia celebra o aumento das ações na frente de batalha e reivindicou vitórias como a tomada de Avdiivka, no leste do país, em 17 de fevereiro, após meses de combates violentos.
As tropas russas também passaram à ofensiva em outra área da região leste, nas proximidades Mariinka.
“Hoje, em termos de proporção de forças, a vantagem está do nosso lado”, afirmou o ministro da Defesa da Rússia, Serguei Shoigu, durante uma visita às tropas neste sábado.
Putin ainda parabenizou na sexta-feira o que chamou de “heróis” de seu Exército que lutam na Ucrânia. Quase 500.000 pessoas se alistaram nas Forças Armadas em 2023 e outras 50.000 em janeiro, enquanto a economia do país foi orientada para apoiar a máquina de guerra.
A oposição russa foi dizimada pela repressão do Kremlin e recentemente sofreu um duro golpe com a morte de seu principal líder, Alexei Navalny, em 16 de fevereiro em uma prisão na região do Ártico.
Neste sábado, a polícia russa prendeu várias pessoas, incluindo jornalistas, durante uma manifestação de esposas de soldados russos que exigem o retorno dos militares que estão na batalha da Ucrânia.
Todos os sábados, esposas dos soldados depositam flores no túmulo do soldado desconhecido, uma ação simbólica perto do muro do Kremlin, conhecida como movimento “Put Domoi” (caminho para a casa, em russo).
Ao comentar as sanções que isolaram a Rússia do mundo ocidental, o ex-presidente russo e atual número dois do Conselho de Segurança, Dmitri Medvedev, afirmou que o país se vingará das medidas.
“Temos que nos recordar e nos vingarmos deles sempre que possível. São nossos inimigos”, escreveu no Telegram após as novas restrições anunciadas nos últimos dias por Estados Unidos, UE e Reino Unido.
jps/as (AFP, Reuters)