O presidente da Rússia, Vladimir Putin, chamou de “roubo” o uso de ativos russos congelados no Ocidente para ajudar a Ucrânia a resistir contra as tropas russas – e prometeu reagir. O líder também reiterou que a guerra só terá uma trégua se a Ucrânia abrir mão dos quatro territórios ocupados pela Rússia. Na prática, significaria a rendição de Kiev.
(RFI) A reação ao acordo anunciado pelos líderes do G7, reunidos na Itália, não tardou. Para aumentar o apoio financeiro à Ucrânia, os países decidiram viabilizar o uso de bilhões de dólares de ativos russos congelados no exterior desde o início do conflito, por meio da entrega dos lucros de juros para Kiev, em forma de empréstimo. Estima-se que o mecanismo resultaria em US$ 50 bilhões.
Nesta sexta-feira (14), Putin disse que, “apesar de todas as trapaças, roubo continua sendo roubo e não ficará impune”.
“Os países ocidentais congelaram parte dos ativos e reservas cambiais da Rússia, e agora estão pensando em uma base jurídica para se apropriar deles de maneira definitiva”, declarou Putin a funcionários do Ministério das Relações Exteriores.
Na véspera, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, havia afirmado que “é justo que a Rússia pague”. Ele foi convidado a participar da cúpula do G7, que reúne Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido. A Rússia foi expulsa do grupo desde iniciou a ofensiva na vizinha ucraniana, em fevereiro de 2022.
Zelensky defende o confisco dos € 300 bilhões em ativos do Banco Central russo congelados pela União Europeia e pelo G7 – alternativa que os blocos rejeitam por razões jurídicas.
Acordo é apenas ‘pedaço de papel’, diz Moscou
O governo da Rússia também minimizou o acordo de segurança assinado entre Estados Unidos e Ucrânia, considerando o acerto um “simples pedaço de papel”, sem nenhum valor jurídico. O acordo, similar ao que o governo dos Estados Unidos tem com Israel, compromete Washington a treinar o Exército ucraniano, fornecer equipamento de defesa, organizar exercícios e cooperar na indústria de defesa.
“O fato é que [estes acordos] são apenas pedaços de papel (…) Estes acordos não são nada, não têm valor jurídico”, declarou a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, citada pelas agências de notícias do país.
O acerto, com duração de 10 anos, também foi anunciado na quinta-feira durante a reunião de cúpula do G7, no sul da Itália.
“Os Estados Unidos estão enviando hoje um poderoso sinal de nosso forte apoio à Ucrânia, agora e no futuro”, afirmou o governo americano, em um comunicado. Zelensky avaliou que o acordo é uma “ponte” para que o país entre um dia na Otan.
Putin exige que Ucrânia abra mão de territórios e da Otan
Sobre esse aspecto, Vladimir Putin declarou que apenas negociará com a Ucrânia se o país retirar as tropas das quatro regiões que Moscou reivindica e se Kiev desistir da adesão à organização atlântica. O líder também criticou a conferência de paz organizada na Suíça neste fim de semana, para a qual o Kremlin não foi convidado.
“Assim que Kiev começar a retirada efetiva das tropas [das regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia] e assim que notificar que abandona os planos de adesão à Otan, daremos imediatamente, no mesmo minuto, a ordem de cessar-fogo e iniciaremos as negociações”, indicou Putin aos funcionários da diplomacia do país.
As exigências constituem um pedido de rendição da Ucrânia – cujo objetivo é manter a sua integridade territorial e soberania.
Putin proclamou, em setembro de 2022, a anexação das quatro regiões do leste e do sul da Ucrânia, além da Crimeia em 2014.
Quando à cúpula de paz na Suíça, o presidente russo alegou que se trata de “um estratagema para desviar a atenção do mundo inteiro” dos verdadeiros responsáveis pelo conflito – que são, segundo ele, os países ocidentais e o governo ucraniano.
“Quero sublinhar que sem a participação da Rússia e sem um diálogo honesto e responsável conosco, é impossível alcançar uma solução pacífica na Ucrânia e para a segurança da Europa em geral”, afirmou Putin.
Devido à ausência de Moscou na mesa de negociações, países como a China e o Brasil também decidiram não participar do encontro.
Com AFP