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Gen Ex Pinto Silva – A Guerra Híbrida e a Crise na Ucrânia

A GUERRA HÍBRIDA E A CRISE NA UCRÂNIA

Pinto Silva Carlos Alberto[1]

1.     GENERALIDADES.

A guerra russa no século 21 deu início a um novo paradigma, aquele em que os estados estão em conflito permanente entre si, e a maneira que ela melhor opera é nas sombras. Esse modelo, conhecido pelos americanos e pela maioria dos ocidentais como Guerra Híbrida, é chamada pelos russos como Guerra de Nova Geração.

2.    POLÍTICA.

O principal objetivo político da Rússia é ver o fim da ordem mundial dominada pelo Ocidente. Parar a invasão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na área de influência histórica da Rússia, ou “Near Abroad”, e alcançar a hegemonia regional são objetivos subalternos da política da Rússia.

3.    NARRATIVAS.

Quando desapareceu a União Soviética, em 1991, a pretensão dos liberais e democratas russos era a de que a nova Federação Russa, provida de uma moderna economia de mercado e liberdades políticas, “retornaria à Europa”.[2]

Rússia desenvolveu criar uma “narrativa útil” [3], para justificar a ação de agressão em seu “Near Abroad”[4], que repousa em uma “identidade de vítima”, na qual eles (Rússia) estão sob constante ataque do Ocidente, politico, cultural e territorial.

De acordo com essa ideologia (O “Ocidente” é um inimigo voltado contra a “Civilização Russa”), a pátria russa está “em perigo”, mas o “grande líder” Putin “saberá levar a nação ao bom caminho”. Tal sentimento nacionalista é generalizado no país, e não deve ser menosprezado como um mero detalhe”.

4.    IDENTIDADE RUSSA.

A Rússia elaborou uma definição operacionalizada da “Identidade Russa”, que é maleável e pode ser manipulada de acordo com seus interesses políticos e estratégicos, e marcada por quaro características russos étnicas: Falantes da língua russa; Praticantes ortodoxia oriental; Pessoas eslavas; e a extensão geográfica do Império Russo.

A “Identidade Russa”, operacionalizada pelo presidente russo, Vladimir Putin, serve de ímpeto e justificativa para ações belicosas na Europa e além.

5.     ESTRATÉGIA RUSSA.

Os russos entenderam que devem travar uma Guerra Política [5] e permanente [6] contra o Ocidente, não com a finalidade de preparar o terreno para uma invasão, mas com o objetivo de dividir, desmoralizar e distrair o suficiente para e não haver resistência ao seu objetivo de desestabilização política de um opositor na defesa dos seus interesses

6. FORÇA A SER EMPREGADA.

No nível nacional, “força” pode ser entendida como as ferramentas de poder: diplomacia, informação, militar e econômica.

Nos níveis estratégico, operacional e tático, a “força” opera em terra, no ar, no mar e por meios informacionais, cibernéticos e eletrônicos. O método de empregar força, é tão nebuloso quanto o domínio em que a força é aplicada.

O objetivo é iniciar as ações de um conflito limitado em “zona cinza” [7] e obter vantagens antes que a comunidade internacional possa intervir com força suficiente para negar o acúmulo de objetivos conquistados.

A Rússia usa uma progressão de passos pequenos e incrementais para aumentar seu controle efetivo sobre áreas disputadas e evitar a escalada para o conflito militar.

O conflito limitado e a busca de objetivo restrito torna esse objetivo alcançável no ambiente operacional contemporâneo da Guerra Híbrida.

7.    NÍVEL ESTRATÉGICO, OPERACIONAL E TÁTICO.

Estrategicamente, as operações da Rússia são em “zona cinza” não sendo formalmente declaradas guerras, mas com avanços rápidos para objetivos limitados. Combinam ações militares e não militares, maximizando sua capacidade de empregar os instrumentos nacionais de poder para atingir seus os fins planejados.

A Guerra Política Permanente, novidade nas relações internacionais, cria condições em que o lado que pode atuar primeiro e passar despercebido na busca de seus objetivos políticos, provavelmente adquire uma posição vantajosa antes que a comunidade internacional possa perceber a situação, e trabalhar para objetar essa ação.

A estratégia militar russa também é subscrita por uma “estratégia de dominio”. No passado, a Rússia tentou uma estratégia que buscava o domínio holístico sobre seu império. No entanto, os russos descobriram que a busca desta versão era muito dispendiosa. Como resultado, a Rússia criou uma abordagem operacional baseada no domínio limitado e breve.

A melhor maneira de manter os vizinhos fracos é através de ações secretas que combinam forças não convencionais, operações cibernéticas e operações de informação,  para desestabilizar seus governos.

A Rússia alterou o equilíbrio de segurança no Mar Negro, Mediterrâneo Oriental e Oriente Médio através da criação de grandes zonas de exclusão antiacesso / negação de área. A projeção de poder da Rússia nessas regiões foi alargada pela implantação do sistema de defesa aérea S-400 na Criméia em agosto de 2016 e na Síria em novembro de 2015.

6.   CONCLUSÃO.

A Guerra Híbrida russa opera nas sombras em tempos de paz e é usada para desestabilizar inimigos, enquanto possui a capacidade de empurrar para o final convencional do espectro, para lutar e ganhar compromissos convencionais, batalhas e operações na proximidade da sua fronteira.

Os resultados são a capacidade de escalar um modelo que primeiro busca alcançar seus objetivos políticos através de ações encobertas e, em seguida, usa forças partisans se a ação secreta for ineficaz ou insuficiente. Se as forças partisans são incapazes de atingir os objetivos, a guerra híbrida russa irá empregar tropas russas convencionais para manter o “status quo”.

A Guerra Híbrida russa fornece um modelo de sucesso para as nações imitarem. Nações com meios comparáveis na busca de objetivos limitados provavelmente verão a abordagem russa da Guerra Híbrida como um exemplo de como operar agressivamente sem provocar uma grande resposta internacional do ponto de vista militar.

Nota DefesaNet

No exercício ZAPAD2021 (OESTE), realizado exatamente como os deslocamentos, que estão sendo desenvolvidos agora para a Operação Allied Resolve 2022 (Rússia – Bielorússia), chamou a atenção, que muitos exercícios foram reallizados com tropas da Rosgvardia (Guarda de Fronteiras e Segurança Interna). Agora na segunda leva de mobilizações analistas russos identificam grandes deslocamentos desta força. Os caminhões blindados são usados para transporte de tropas e também de prisioneiros, como foi na Síria, operados pelas tropas Spetnaz e PMC Wagner. Segundo o Conflict Intelligence Team ( @CITeam_en)   equipamentos de Controle de Tumultos também estão sendo mobilizados. A Rússia sabe que ações podem ocorrer na retaguarda, inclusive em solo pátrio. 

Acima também imaem retirada de twitter do  @CITeam_en

Fontes de consulta:

– Avaliação da guerra híbrida russa: uma ferramenta bem-sucedida para a guerra limitada. Amos C. Fox e Andrew J. Roso.

– Making Sense o Russian Hybrid Arfarei: A Brief Assessment f the Russo–Ukrainian War by Amos C. Fox Andrew J. Roso


[1] Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES.

[2] Ronaldo Pedreira Silva.: outubro 2017 – Blogger.

[3] História.

[4] Área de influência.

[5] “Guerra Política”, foi conceituada por George Kennan como “o uso de todos os meios de disponíveis de uma nação para alcançar objetivos nacionais sem entrar em guerra (aquém da guerra).

[6] O termo “Permanente”, por sua vez, não possui relação direta com a duração das guerras. Diz respeito, na verdade, à condição assumida pelo Estado de que qualquer ação de política externa, em defesa de interesses nacionais, é um “conflito na zona cinza”

[7] De acordo com Hal Brands, o “conflito na zona cinza é uma atividade coercitiva e agressiva por natureza, mas deliberadamente concebida para permanecer abaixo dos limites de um conflito militar convencional”. Ou seja, “a Zona Cinza se caracteriza por uma intensa competição política, econômica, informacional e militar, mais acirrada que a diplomacia tradicional, porém inferior à guerra convencional”.

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