O envolvimento de tropas norte-coreanas na guerra travada pela Rússia contra a Ucrânia exige “uma resposta firme”, disse o secretário de Estado americano, Antony Blinken, depois de participar de uma reunião nesta quarta-feira (13), em Bruxelas, com o secretário-geral da Otan, Mark Rutte.
(RFI) O governo dos Estados Unidos afirma que soldados norte-coreanos estão mobilizados em operações de combate na região russa de Kursk, onde o Exército ucraniano iniciou uma ofensiva em agosto e ocupa uma parte da área.
“Tivemos uma reunião sobre o apoio à Ucrânia (…) e este novo elemento de tropas da Coreia do Norte agora quase literalmente no combate. Isso exige e terá uma resposta firme”, afirmou Blinken.
Segundo Kiev, cerca de 11 mil militares norte-coreanos foram destacados para enfrentar os batalhões ucranianos nesta região fronteiriça estratégica, tomada de surpresa pelo exército ucraniano. O objetivo dessa operação é de estabelecer uma relação de força com Moscou em uma eventual negociação de cessar-fogo. As tropas norte-coreanas se envolveram no conflito, mas, por enquanto, não em território ucraniano.
No início da semana, a Coreia do Norte ratificou um tratado histórico de defesa com a Rússia. O pacto selou uma cooperação militar cada vez mais estreita entre os dois países, aliados durante a Guerra Fria. A ministra norte-coreana das Relações Exteriores, Choe Son Hui, viajou recentemente a Moscou, onde afirmou que seu país “se manteria firmemente do lado dos camaradas russos até o dia da vitória”.
Pyongyang tem fornecido à Rússia mísseis antitanque e mísseis terra-ar portáteis, assim como fuzis, foguetes, morteiros, granadas e outras munições.
Blinken denuncia colaboração da China e do Irã
Em Bruxelas, Blinken também denunciou que a China colabora com a Rússia em seu “esforço bélico” contra a Ucrânia, assim como o Irã. Ele insistiu que é essencial conter a globalização do conflito entre Rússia e Ucrânia por meio de um esforço para “trabalhar mais estreitamente”.
“Nos últimos anos, a Otan fortaleceu seus vínculos com os parceiros na região do Indo-Pacífico, e intensificaremos esses elos nas próximas semanas e meses”, disse.
Em um comunicado conjunto divulgado na sexta-feira (8), a Otan e aliados dos EUA – Austrália, Coreia do Sul, Japão, Nova Zelândia – e a Ucrânia condenaram “energicamente” a mobilização das tropas norte-coreanas no território russo. A Coreia do Sul já deu sinais de que poderia aumentar o fornecimento de armas à Ucrânia, para Kiev se defender nesta nova fase da guerra e no retorno de Trump à Casa Branca.
Na capital belga, Blinken também se reunirá com o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Andrii Sybiga, com o atual chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, e com sua sucessora designada, Kaja Kallas.
Na audiência de confirmação no Parlamento Europeu, Kallas, ex-primeira-ministra da Estônia, enfatizou na terça-feira que a UE deve manter o apoio à Ucrânia “pelo tempo que for necessário”.
Preparando o terreno para o corte de verbas prometido por Trump
A viagem de Blinken a Bruxelas acontece no momento em que Kiev e seus aliados europeus temem que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, interrompa a ajuda ao país. Trump já conversou por telefone com o presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky. Segundo o jornal The Washington Post, ele também falou com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, embora o Kremlin tenha negado qualquer conversa entre ambos.
Durante a campanha eleitoral, Trump prometeu acabar com a guerra entre Rússia e Ucrânia em apenas um dia, antes mesmo de assumir o poder. Mas ele não explicou como alcançaria o objetivo. Ele também sugeriu que seu governo poderia limitar a ajuda bilionária à Ucrânia, ao questionar os gastos porque, segundo ele, a guerra está em “ponto morto”.
O governo de Joe Biden tenta acelerar a transferência de armas e financiamento para a Ucrânia. O democrata deixou claro que planeja avançar nas semanas restantes de seu mandato US$ 9,2 bilhões (cerca de R$ 52 bilhões) em verbas já aprovadas no Congresso para armas e outras formas de assistência à segurança da Ucrânia.
“Nossa abordagem permanece a mesma dos últimos dois anos e meio, que é colocar a Ucrânia na posição mais forte possível no campo de batalha para que, em última análise, esteja na posição mais forte possível na mesa de negociações”, disse Jake Sullivan, assessor de Segurança Nacional de Biden, ao programa “Face The Nation” da CBS News.
O senador Marco Rubio, escolhido por Trump para suceder Blinken, disse em uma entrevista recente que os Estados Unidos devem reconhecer que a guerra na Ucrânia chegou a um impasse e que deveriam demonstrar “pragmatismo” em relação ao apoio militar futuro.
Rússia intensifica ataques a Kiev
No front leste ucraniano, a Rússia conquistou centenas de quilômetros quadrados em outubro e ameaça cidades de importância estratégica, como Pokrovsk. Além disso, o Exército russo intensificou desde o início de outubro os ataques com drones contra a capital ucraniana.
Nesta quarta-feira, as tropas de Moscou foram ainda mais longe e lançaram este tipo de dispositivo ao lado de mísseis.
“As Forças Armadas russas fizeram um ataque combinado de mísseis e drones contra Kiev, pela primeira vez em 73 dias”, destacou a administração militar da capital.
O ataque durou mais de duas horas, mas não provocou mortes graças aos sistemas de defesa antiaérea, acrescentaram as autoridades militares.
Com AFP