A Amazônia e o G 20: os 110 milhões de dólares prometidos para o Fundo Amazônia serão
aplicados onde de fato interessa, ou serão destinados “a outros fins”?
Professor Coronel R1 Moretzsohn
Militar da reserva e especialista em
Inteligência e Contrainteligência, formado pela atual Escola
Brasileira de Inteligência, da ABIN. Serviu como Oficial de
Inteligência em Tefé/AM
Caras e caros.
Conforme consta no otimista sítio do Banco Central do Brasil, na internet, e como tentamos acreditar, “o G-20 é um fórum informal que promove debate aberto e construtivo entre países industrializados e emergentes sobre assuntos-chave relacionados à estabilidade econômica global”.
Fonte: bcb.gov.br/rex/g20/port/mencaog20.asp?frame=1
Pois bem, nas vésperas da reunião do G 20, desta feita sediada no Brasil em 18 e 19 de novembro, foram anunciadas as doações de 50 milhões de dólares dos EUA e de 60 da Noruega para o Fundo Amazônia. Não agradou: “Além de ser pouco, não está garantido”, segundo o ambientalista e jornalista chapa branca André Trigueiro (GloboNews) divulgou no Instagram, opinião compartilhada por muitos que acompanham o tema.
“Dos muitos que acompanham o tema”, este modesto autor talvez seja um dos poucos que já tenha, de fato, vivido na Amazônia, o que me autoriza a pensar diferente: o Brasil não deveria aceitar (muito menos pedir) doações externas para dar solução a seus antigos problemas internos, advindos de nossa secular má governança, fruto das escolhas ruins de nossos eleitores e da inação de nossas instituições.
Desde a época colonial, nações que financiam outras exigem contrapartidas – as quais, neste sensível assunto em pauta, significam ingerência.
Por outro lado, também acredito que deveríamos, sim, colocar todo o peso das instituições de estado para mitigar os riscos socioambientais e de segurança da Amazônia Legal, começando pelo bem-estar das pessoas que lá vivem. Dinheiro derivado de impostos já existe e apenas necessita ser bem gerido, como sabemos.
Ainda que os dólares estrangeiros não sejam o bastante, atravessadores, lobistas e oportunistas de todas as tribos estão de tocaia, seguindo o mandamento “Farinha pouca? Meu pirão primeiro”.
Essa dinheirama chegará às mãos certas? Será convertida em coisas práticas, necessárias, urgentes e úteis? É o que me permito rascunhar nestas parcas linhas.
Residi no interior do Amazonas por 3 anos, e realizei missões de reconhecimento por boa parte do lado oeste daquele estado, incluindo as fronteiras com a Colômbia e o Peru, enquanto coletava informações de inteligência, segurança, socioeconômicas e ambientais numa área correspondente a inacreditáveis 6% do território brasileiro!
Vejamos algumas reais necessidades da população pobre de lá, nunca lembradas pelos especialistas em E.S.G. (Responsabilidade Ambiental, Social e de Governança), que abusam do gerúndio ao divulgarem
seus serviços no Linkedin, mas que não conhecem nem a floresta, nem os caboclos ribeirinhos.
Estas sugestões sobre onde se aplicar o dinheiro não estão em ordem de prioridade.
Índice dos assuntos tratados:
- 1) Reduzir os casos de escalpelamento de Mulheres
2) Vacina contra a malária.
3) Aquisição e distribuição de óculos de proteção contra a luz solar.
4) Educação sexual e prevenção às DST/AIDS para adolescentes, jovens e adultos.
5) Hanseníase (lepra).
6) Violência contra a mulher.
7) Incesto.
8) Trabalho análogo ao escravo: depoimento sobre as condições desumanas de trabalho dos coletores de castanha do Pará.
9) Violência pública, tráfico de pessoas e corrupção.
10) Uso do mercúrio, pirataria ambiental e silvestre.
Estruturei uma rede de cooperadores patrióticos em 14 localidades, batizada por mim de Rede Urutau, a ave mais misteriosa do Brasil, cujo triste trinado assombra e acompanha a noite da selva, e recebia informações regularmente sobre a presença de estrangeiros, suspeitos de envolvimento com o tráfico internacional e sobre as guerrilhas na Colômbia e no Peru, enviadas em cartas sociais de uma folha manuscrita e que demoravam 20 dias para chegar.
Mas, chegavam.
Conclusões parciais:
Como é possível antever, todas as infrações aqui listadas somente serão combatidas por meio de políticas de estado bem estruturadas e perenes, planejadas e empreendidas por pessoas especializadas, capazes, determinadas e honestas.
A participação proativa dos serviços de inteligência nacionais e estaduais, e das forças policiais em seus vários uniformes, é decisiva na coibição dos delitos, assim como a fiscalização ilibada pelos órgãos ambientais e aduaneiros.
Minha experiência de monitorar 6% do território brasileiro com dois sargentos e um cabo não foi bem-sucedida por motivos compreensíveis, e para mitigar a fragilidade de não ter meus próprios olhos em todos os lugares, recrutei olhos alheios, estruturando, desenvolvendo e implantando a metodologia APLIS (Arranjo Produtivo Local de Inteligência e Segurança), conforme descrito no link a seguir, publicado neste excelente espaço, em maio de 2022:
O dinheiro para isso? Acho que o prometido pelo Biden e pela Noruega acabaram lá pelo item 3.
Melhor assim: somos nós que temos de dar conta dos nossos problemas – começando pelas escolhas políticas que fazemos.
Agradeço, caras e caros leitores e leitoras, por terem chegado até aqui, esperando haver sido útil. Por isso, finalizo essas linhas lembrando Henfil:
- “Se não houver frutos, valeu a beleza das flores;
se não houver flores, valeu a sombra das folhas;
se não houver folhas, valeu a intenção da semente”.
Fiquem com Deus
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