Oportunidade para aproveitar
Estamos em meio a grande manobra geopolítica onde megapotências disputam, se não nossa amizade, pelo menos os nossos recursos e se possível o nosso apoio. Os EUA e seus aliados disputam com a China e seus aliados uma intensa guerra comercial com potencial para uma indesejável escalada.
Não é a primeira vez que acontece já a um século e pouco atrás os EUA e a Inglaterra ensaiavam uma disputa diplomática pelo acesso à borracha, mas a analogia mais próxima foi no início da II Guerra Mundial, quando a Alemanha desenvolveu intensa atividade diplomática apoiando-se em significativa parcela de sangue germânico na população do Sul, enquanto a Inglaterra, truculentamente, apreendia nossos navios que traziam material da Alemanha, a qual entregava pontualmente mesmo com prejuízo de suas tropas.
É fácil imaginar para que lado inclinasse a opinião pública brasileira, mas com a decisão norte-americana de entrar na guerra, esse país desencadeou um fantástico programa de atração que envolveu desde guerra psicológica com notícias falsas até auxílio real para o desenvolvimento e hoje se sabe, preparativos para uma invasão do saliente nordestino.
De qualquer forma o auxílio americano ao nosso desenvolvimento foi eficiente e resultou na Siderúrgica de Volta Redonda, mas foi diminuindo após a vitória mesmo quando éramos aliados durante a Guerra Fria. Após a implosão da União Soviética a antiga cooperação transformou num bloqueio ostensivo ao nosso desenvolvimento tecnológico, especialmente o desenvolvimento nuclear. Os EUA não mais tinham adversários a altura e não mais precisavam de aliados.
Agora, a História tende a se repetir, ao menos no início da atual disputa, a China se prepara para ter que enfrentar uma guerra antes de estar pronta e procura não somente garantir o abastecimento de sua imensa população bem como de matérias primas, enquanto os EUA, cientes que o tempo trabalha em favor da China, esforçam-se para isolá-la e estudam seriamente se necessitam desencadear operações bélicas antes que o potencial chinês cresça demasiado e torne a vitória duvidosa.
O que é certo: está na hora de ambos cortejarem o nosso País, o qual, com um mínimo de bom senso, não deve aderir a nenhum dos lados sem uma contrapartida que justifique. O Brasil não tem porque se aliar e se comprometer: os bônus não compensam, de modo algum, os ônus.
A posição estratégica geográfica do Brasil permite que o Brasil não se alie, nem embarque em nenhuma aliança. Devemos sim examinar como a rivalidade entre os adversários pode ajudar o nosso desenvolvimento e nossos negócios,
A China, além de acenar com seu mercado, dá mostras de nos ceder tecnologia e oferecer vantajosas obras de infraestrutura. Ela sabe que a identidade cultural conta ponto em favor dos EUA e que não conseguirá superar essa barreira e que o máximo que poderá fazer será fortalecer o Brasil, se este quiser garantir a neutralidade. Quanto aos EUA, ainda não se empenharam na disputa pela aliança com o nosso País, pois essa oferta da OTAN nos é desvantajosa, mas assim que despertarem tenderão a fazer novos acordos como aconteceu no passado com Volta Redonda.
Enquanto permanecer esta disputa comercial podemos facilmente tirar vantagem. Em caso de escalada a melhor ainda é a neutralidade, mas parece certo que os EUA impedirão o transporte de nossos produtos para a China e a China só não fará o mesmo para os EUA por falta de condições, não por falta de vontade. Conforme o evoluir do cenário se repetirão as condições da II Guerra e a manutenção da neutralidade só poderá ser conseguida pela dissuasão.
Já é consenso que a forma mais fácil de vencer uma esquadra é impedir que ela fosse construída. As restrições impostas ou aceitas pelos governos anteriores nos colocaram em um patamar de vulnerabilidade impensável para qualquer país.
A nossa indústria bélica, desmontada intencionalmente já havia sido a maior fonte de divisas de toda a indústria, mas o setor de defesa não só é uma fonte de receitas, pela exportação de armamento mas também um grande fator de desenvolvimento de alta tecnologia e foi a principal causa de inovações, ao desenvolver novos produtos, muitos de uso dual, militar e civil, úteis à defesa e ao desenvolvimento.
Hoje vemos algo preocupante: as empresas estratégicas sendo desnacionalizadas. Emblemático é o caso da Embratel, mas pior ainda é o impedimento de nossa própria indústria de construir armas que realmente dissuadam como mísseis intercontinentais e armas nucleares.
Bombas atômicas? – que horror, dirão os pacifistas. Serão idealistas ou apenas hipócritas? Lembram os deputados que votam pelo desarmamento, mas são protegidos por seguranças armados e carros blindados, pagos pela população? Eles não percebem que até hoje ninguém ousou atacar um país com capacidade nuclear?
A questão não é nem de inteligência, a questão é de sobrevivência.
Que Deus proteja o nosso País se tomarmos decisões erradas.
Gelio Fregapani