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22ª Brigada de Infantaria de Selva: a Brigada da Foz do Amazonas

dia 28 de agosto de 2014, a Pedra Fundamental da Brigada da Foz foi oficialmente lançada. Ao centro, Gen Ferreira e Gen Div Madeira, Cmt 8ª RM; à direita, autoridades de Macapá e o Gen Bda César, Ch EM CMN; à esquerda, o Major Brigadeiro Borba Cmt 8º COMAR; e o Cel Guerra Ch CCOp CMN

Coronel R1 José Arnon dos Santos Guerra
EBlog
Maio 2024

Em 12 de janeiro de 1616, a cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará foi fundada. As intenções portuguesas que residiam naquele sítio eram as mais diversas e defender a foz do rio Amazonas a mais importante. Um século e meio depois, os portugueses entenderam que a foz se situava na margem norte do grande rio e ali, então, fixaram o Forte São José de Macapá.

A partir dessa iniciativa, o estado do Amapá transformou-se e se desenvolveu ao longo da história do Brasil, inclusive em relação à Defesa, chegando ao século XX sem significativas alterações na configuração das forças militares ali desdobradas. Até o início do século XXI, o estado tinha apenas uma unidade de Infantaria de Selva, o Comando de Fronteira Amapá/34º Batalhão de Infantaria de Selva, com apenas duas companhias em Macapá e uma terceira destacada em Clevelândia do Norte, a antiga Colônia Militar do Oiapoque (1919).

No dia 13 de junho de 2013, com a criação do Comando Militar do Norte (CMN), o cenário militar passou a evoluir com a intenção de se instalar na capital a sede de uma grande unidade da Força Terrestre. Em dezembro, esse propósito começou a se tornar uma realidade e o projeto de tirá-la do papel teve seu primeiro passo com um reconhecimento, em 18 e 19 de dezembro.

Nenhum projeto dessa magnitude é simples, ainda mais quando se trata da Amazônia e da transposição de uma via fluvial do porte do Amazonas. Os custos aumentam, as dificuldades logísticas se multiplicam, os meios  escasseiam e as pessoas precisam se manter motivadas o tempo todo. O Comandante Militar do Norte manteve a missão e o prazo:

– Dia 31 de julho de 2014, vamos lançar a Pedra Fundamental da Brigada da Foz.

Comparando-se com as demais Brigadas que se instalaram na Amazônia, o tempo parecia exíguo para cumprir a missão, e foi. O trabalho no Comando Militar de Área era intenso, havia muito a se fazer todos os dias: a rotina de um QG de General de Exército; coordenação das instruções e das operações; as tarefas de um novo comando de área em implantação; etc. Contudo, o planejamento metódico, balizado por marcos, etapas, objetivos claros, diretrizes simples e liderança estratégica, facilitou a manobra. O tempo avançava, os problemas apareciam e as soluções surgiam uma a uma, numa cadência sincronizada.

Nos intervalos de rajada, como se diz entre os espíritos aguerridos, o Comandante (Cmt) transitava por Brasília e Macapá, buscando os apoios necessários para a consecução do projeto. Quando estava no terreno, fiscalizava todos os detalhes, principalmente os de Engenharia, onde o eficiente apoio da Comissão Regional de Obras/8 foi um dos fatores de sucesso da empreitada. Em todas as portas em que batia, o Comandante era bem recebido e até com um certo semblante de surpresa das autoridades: “Por que não fizemos isso antes?”.

Quando se tem um prazo a cumprir, o gargalo da ampulheta aumenta de tamanho conforme a complexidade da tarefa, o tempo avança muito rápido. Julho se aproximava e os trabalhos se avolumavam, sempre com nuances de ineditismo, afinal, o CMN também era recém-criado, o que era uma novidade para todos os militares do QG. Acrescentem-se às imensas dimensões e desafios oferecidos pela área que compreende os estados do Pará, Maranhão e Amapá (o Bico do Papagaio, região norte do Tocantins, foi incorporado ao CMN em 2015) e se notará que as exigências sobre o EM se exponenciavam no primeiro semestre de 2014.

O projeto foi conduzido com observação rigorosa do arcabouço legal vigente e o processo licitatório foi concluído em 25 de junho de 2014. Respeitou-se o período legal para sua homologação, enquanto a Pedra Fundamental era procurada no município de Pedra Branca do Amapari, 200 Km a noroeste da capital. Em 25 de julho, uma semana antes da data estipulada; a missão foi dada como cumprida para o Gen Ferreira. Este, por sua vez, informou ao Comandante do Exército e a sua decisão foi realizar o lançamento no mês seguinte, durante as comemorações da Semana do Soldado.

Fig 3: dia 28 de agosto de 2014, a Pedra Fundamental da Brigada da Foz foi oficialmente lançada. Ao centro, Gen Ferreira e Gen Div Madeira, Cmt 8ª RM; à direita, autoridades de Macapá e o Gen Bda César, Ch EM CMN; à esquerda, o Major Brigadeiro Borba Cmt 8º COMAR; e o Cel Guerra Ch CCOp CMN.


Esse momento revestiu-se de grande importância para todos os amapaenses, por criar oportunidades como geração de emprego e renda; aumento da segurança; desenvolvimento social e tecnológico; entre outros. A prova disso é a comparação do antes e depois de Marabá (PA), São Gabriel da Cachoeira e Tefé, no Amazonas, Boa Vista (RR) e Porto Velho (RO). Gerações de militares nessas localidades, assim como seus habitantes, são testemunhas dos valores que uma Grande Unidade da Força Terrestre leva para os locais onde moram.
Após o lançamento, as obras iniciaram de imediato, posto que o objetivo subsequente era inaugurar a sede da Brigada, sem muita pressa e sem tanto atraso, o que aconteceu em 26 de janeiro de 2018, com a instalações prontas e a assunção do seu primeiro comandante no Posto de Comando, o General de Brigada Luiz Gonzaga Viana Filho. Esse fato concluiu um caso de sucesso e exemplo de sinergia para a consecução de um projeto militar.

Fig 4: Em 28 de agosto de 2014, tão logo se encerrou a cerimônia, os operários iniciaram os trabalhos de construção dos pavilhões da Brigada e dos PNR de oficiais e sargentos.


Em resumo, a atual 22ª Brigada de Infantaria de Selva é sucedânea do reduto do Macapá (1738) e concretizou com modernidade a percepção do Exército da importância estratégica da Amazônia Oriental. Para os pioneiros do CMN, e muito provavelmente para grande parte dos amapaenses, essa Grande Unidade continuará a ser carinhosamente chamada de Brigada da Foz, hoje um repositório de esperanças e nostalgias dos que viveram aquele momento ímpar da nossa história militar, registrado, entre outras, por essas palavras:

O monólito à frente, marcado pelo depósito basáltico de milhões de anos, guarda traços das incalculáveis riquezas do estado do Amapá. Essas riquezas, capazes de transformar a nossa sociedade, não serão mais guardadas apenas por novas camadas minerais, antes, o serão pela vontade desta e das futuras gerações de brasileiros.

Este ato simbólico evidencia a vocação da Brigada da Foz que, ao implantar-se no estuário do Amazonas, traz os ventos do futuro e nos ensina a promover iniciativas do Estado que valorizam os recursos públicos, os quais a sociedade, silente, atenta e esperançosa, coloca à disposição do Exército Brasileiro.


Registre-se, ainda, que esta Grande Unidade da Força Terrestre fortalece o interesse nacional por esta região estratégica, com respeito à sustentabilidade ambiental, além de proteger para o Brasil este opulento solo que a natureza deu sem nada pedir em troca.

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