Ex-Embaixador americano no Brasil 2010-2013, membro do Dialogo Interamericano, e ligado ao Partido Democrata
Nota DefesaNet O agressivo artigo do ex-embaixador americano no Brasil Thomas Shannon, e influente, mesmo aposentado, do Departamento de Estado e ligado umbilicalmente ao Partido Democrata publicado na Revista Crusoé marca o início de um ciclo.. DefesaNet considera como o início da Task Force Brazil (Força Tarefa Brasil – TFBR), ou a formação do grupo de intervenção e desestabilização do Governo Brasileiro, independente de ser Jair Bolsonaro ou não o Presidente, e do Brasil como Nação.. A TFBR já tinha o ex-ministo Sergio Moro, como agente desestabilizador e interventor agindo para os Departamentos da Justiça e do Tesouro (possivelmente incluindo a área de inteligência). A lista membros da Task Force Brazil é ampla e inclui vários nomes ativos na política, imprensa e judiciário nacional. Também o eterno interventor, o ex-presidente FHC. O Editor DefesaNet |
A delicada verdade sobre uma velha parceria
Thomas Shannon
Ex-Embaixador americano no Brasil 2010-2013, membro do Dialogo Interamericano, e ligado ao Partido Democrata
01 Janeiro 2021
Revista Crusoé
Negrito DefesaNet
A relação entre Brasil e Estados Unidos é uma das peças fundamentais da diplomacia do século XXI. Sendo as duas maiores democracias e as duas maiores economias do continente americano, ambos os países são autossuficientes em energia, produzem e exportam mais alimentos do que qualquer outro país e têm as maiores reservas mundiais de água doce e de terra arável.
Ambos abrigam populações diversificadas e dinâmicas e têm atraído pessoas de todo o mundo em busca de oportunidades para construir um futuro para si mesmas e para suas famílias.
Ambos detêm alguns dos patrimônios ambientais mais importantes do mundo, o que lhes dá uma voz importante no direcionamento do debate global sobre as mudanças climáticas.
E ambos se dedicaram a construir estruturas de diálogo político e cooperação que, em grande parte, mantiveram a paz no Ocidente. Em um mundo cada vez mais moldado por conflitos e por confrontos, essa é uma conquista notável.
Essa combinação de propósito nacional e de ambição global é única. No entanto, defini-la apenas em termos estratégicos seria limitá-la. A parceria que define essa relação não é só entre governos, mas mais entre sociedades.
Como os dois países se globalizaram, os encontros que impulsionam o relacionamento são crescentemente entre nossos setores privados, nossas sociedades civis e nossas comunidades de fé. Isso acrescentou profundidade e riqueza ao relacionamento, que reflete uma experiência histórica compartilhada. Também deu um rosto humano à nossa diplomacia, permitindo compreender a parceria não apenas em termos de poder nacional, mas também em termos de oportunidades e bem-estar individuais.
A sincronia entre nossas duas sociedades levou, mais recentemente, ao mimetismo político. Os governos do presidente Donald Trump e de Jair Bolsonaro refletem um ao outro e espelham nossas sociedades em um momento de profunda mudança política. Isso permitiu a ambos os governos avançarem em alguns aspectos de nossa agenda bilateral, especialmente na área de comércio.
Entretanto, o nacionalismo econômico que sustenta os dois governos e as visões de mundo idiossincráticas de seus líderes limitaram a capacidade do Brasil e dos Estados Unidos de moldar uma parceria maior e mais coerente.
Definir a relação entre Brasil e Estados Unidos em termos da relação entre seus líderes é um erro, pois falha em captar o alcance maior do relacionamento e obscurece as possibilidades de cooperação e de colaboração. Também cria riscos desnecessários, uma vez que os líderes nas democracias vêm e vão, e o presidente Trump está prestes a partir.
Então, o que pode acontecer com a relação bilateral entre os dois países durante a presidência de Joe Biden? Em primeiro lugar, é importante notar que o presidente eleito conhece bem o Brasil e a América Latina. Nenhum presidente americano começou seu mandato com o conhecimento e a experiência na região que Joe Biden conquistou ao longo de 40 anos no Senado e oito anos como vice-presidente. Ele conhece a importância do Brasil e tem um conhecimento bem desenvolvido da trajetória histórica de nossa cooperação.
Em segundo lugar, o presidente eleito é um político que conhece a importância de um acordo. Ele verá a relação com o Brasil não em termos pessoais, mas em termos dos interesses e valores que ligam nossas duas nações. Ele não permitirá que ressentimentos ou ofensas interfiram em sua busca por atender os interesses nacionais americanos.
E terceiro, ele vê o papel do Brasil em termos globais. Quando visitou país em maio e junho de 2013, o então vice-presidente Biden proferiu um discurso no porto do Rio de Janeiro. Lá, definiu o Brasil como uma potência mundial em ascensão e disse que a medida da relação seria definida pelas coisas que os países poderiam realizar juntos.
Dito isso, o governo Bolsonaro tem feito quase todo o possível para complicar a transição na relação bilateral. O presidente Bolsonaro e membros de seu governo romperam com a longa tradição brasileira e expressaram preferência pelo presidente Trump nas eleições de novembro. Bolsonaro também criticou publicamente o então candidato Biden após comentários durante um debate, no qual o então candidato pediu uma ação mais orquestrada do Brasil sobre o desmatamento.
Essa gafe, no entanto, perde relevância quando é comparada com a disposição do presidente Bolsonaro de repetir as alegações infundadas de fraude do presidente Trump nas eleições dos Estados Unidos. A preferência partidária baseada na amizade pessoal é perdoável, assim como a defesa da soberania nacional. No entanto, atacar a integridade e a credibilidade do processo eleitoral americano é um ataque à legitimidade da democracia americana e à presidência de Joe Biden. É algo que não será facilmente perdoado e não será esquecido.
“No entanto, atacar a integridade e a credibilidade do processo eleitoral americano é um ataque à legitimidade da democracia americana e à presidência de Joe Biden. É algo que não será facilmente perdoado e não será esquecido.”
Por causa disso, o tom da parceria única entre Brasil e Estados Unidos agora depende em grande parte do Brasil. Caberá ao presidente Bolsonaro mostrar disposição de se engajar e fazê-lo em assuntos que, como o vice-presidente Biden deixou claro no Rio de Janeiro em 2013, permitam aos dois países cooperar em questões de importância global.
A primeira e mais imediata cooperação deve ser em relação à pandemia, tanto de seu controle por meio de vacinação e tratamento, como de suas consequências econômicas. Isso abrirá a possibilidade de cooperação científica e médica, além da cooperação em comércio e investimento para ajudar nossas economias a se recuperar.
A segunda questão, do ponto de vista do governo Biden, envolve a mudança climática e a gestão ambiental. Isso não precisa ser um problema incendiário. O Brasil desenvolveu ao longo de décadas uma capacidade de diplomacia ambiental que vinculou questões como mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável e avanço tecnológico.
A sociedade brasileira entende que o seu país desenvolveu um capital ambiental que a torna um ator necessário e essencial nas negociações globais sobre mudanças climáticas. A maneira como se constrói a cooperação em torno do avanço das tecnologias ambientais e como se busca o desenvolvimento econômico e social de maneira que respeitem a biodiversidade, protejam as florestas tropicais e promovam o bem-estar dos povos indígenas terá um impacto positivo no relacionamento bilateral e além.
Em terceiro lugar está a questão da China. Embora seja um importante parceiro comercial do Brasil e dos Estados Unidos, os esforços desse país asiático para se inserir mais profundamente nas economias da América do Sul e construir sua infraestrutura 5G têm causado inquietação e preocupação. Nenhuma de nossas economias pode se separar da China, mas o Brasil e os Estados Unidos estão bem posicionados para garantir que a presença econômica chinesa em nosso continente respeite os valores democráticos e as economias de mercado, os quais definem as Américas. Eles também precisam respeitar o compromisso anticorrupção e com a transparência, uma característica definidora do envolvimento comercial dos Estados Unidos.
À medida que os Estados Unidos se preparam para a posse de Joe Biden como presidente, é importante para ambos os países compreender a natureza duradoura de nosso relacionamento e defini-lo em termos do bem-estar de nossas sociedades.
Vivemos em um mundo irremediavelmente globalizado, no qual a tecnologia está se espalhando e impulsionando mudanças a uma velocidade histórica. O mundo viveu muitos momentos de grandes mudanças globais. Mas o que vivemos hoje é uma mudança que acontecerá mais rápido, mais implacavelmente e afetará mais pessoas do que em qualquer momento da história humana.
Neste momento, é hora de o Brasil e os Estados Unidos entenderem nossa parceria em termos globais. É hora de entender nosso compromisso comum com a democracia, os direitos humanos, o Estado de Direito, a sociedade aberta, as economias de mercado, o comércio justo e regulamentado e a resolução pacífica de disputas como a peça central de uma agenda diplomática mais ampla. É hora de entender que somos definidos por uma ambição comum: usar a governança democrática para criar sociedades democráticas.
Machado de Assis certa vez escreveu em Cartas Fluminenses: “Eu sei que Vossa Excelência preferia uma delicada mentira; mas eu não conheço nada mais delicado que a verdade”. A “delicada verdade”, ou verdade primorosa da relação entre o Brasil e os Estados Unidos, é que se trata de uma parceria do século XXI. É uma parceria que reflete o dinamismo de nossas sociedades e o encontro com um mundo em mudança. Pode ser uma parceria de esperança e de realizações, e de grande valor para o mundo, se assim desejarmos.
“É uma parceria que reflete o dinamismo de nossas sociedades e o encontro com um mundo em mudança. Pode ser uma parceria de esperança e de realizações, e de grande valor para o mundo, se assim desejarmos.”