Não considerar o Hamas um grupo terrorista, impor condenações desproporcionais a Israel e demorar a se pronunciar sobre a violência sexual perpetrada pelo Hamas são evidências apontadas por André Lajst
A Assembleia Geral da ONU encerrou o ano de 2023 com o total de 21 resoluções condenando as ações de países específicos. Destas, 14 foram contra Israel e apenas 7 contra outras nações.
Países como Coreia do Norte, Síria, Mianmar e Irã, conhecidos pelo histórico de violações aos direitos humanos, receberam apenas uma condenação cada. A Rússia, que segue em guerra de agressão contra a Ucrânia e cometeu diversas violações na Crimeia, foi contemplada duas vezes. Os Estados Unidos também receberam uma condenação pelos embargos a Cuba.
Hillel Neuer, diretor executivo da UN Watch, organização não-governamental de vigilância às ações das Nações Unidas, se manifestou sobre as condenações a Israel, classificando-as como “surreais”, com o propósito de “demonizar o Estado judeu”, o que fomenta o crescimento das manifestações antissemitas ao redor do mundo.
“O ataque desproporcional da ONU contra o Estado judeu mina a credibilidade do que deveria ser um organismo internacional imparcial”, disse Neuer em um comunicado à imprensa. Ele ainda destaca que os ataques desproporcionais a Israel apenas ressaltam que “a maioria automática da ONU não tem interesse em ajudar verdadeiramente os palestinos, nem em proteger os direitos humanos de ninguém; o objetivo dessas condenações rituais e unilaterais é fazer de Israel o bode expiatório”.
André Lajst, presidente-executivo da StandWithUs Brasil, explica que o tratamento desigual da ONU em relação a Israel já vem de longa data, com um histórico extenso de preconceito e perseguição, mas esse viés tem ficado cada vez mais claro desde os atentados terroristas do Hamas de 7 de outubro. “É lamentável e inadmissível que um órgão como a ONU, bem como suas agências, criadas com os propósito de promover a paz entre as nações depois da Segunda Guerra Mundial, tenha esse posicionamento – condenar desproporcionalmente um país que defende seu povo após sofrer o maior atentado terrorista da sua história, enquanto ignora não só atrocidades feitas com a população israelense, mas também as ações de diversas ditaduras sanguinárias pelo mundo”, ele afirma.
Em relação à disparidade de tratamento também no que diz respeito ao sofrimento de sua população, Israel criticou a ONU pela resposta tardia a respeito das violências sexuais cometidas pelo Hamas contra mulheres israelenses. A agência ONU Mulheres apenas emitiu um comunicado sobre as acusações de crimes sexuais durante a guerra, condenando “inequivocamente os ataques brutais do Hamas”, no dia 1º de dezembro, quase dois meses depois do início do atentado.
Em 21 de dezembro, o assunto entrou em pauta novamente na ONU com a fala de Pramila Patten, representante especial do secretário-geral para a violência sexual em conflitos, que apelou à libertação imediata, segura e incondicional de todos os civis israelenses que estão mantidos como reféns pelo Hamas, principalmente as mulheres. Patten lembrou que todas as formas de violência sexual e a tomada de reféns são estritamente proibidas pelo direito internacional humanitário e pelos direitos humanos, e pediu que todas as denúncias horríveis de violência sexual alegadamente cometidas pelo Hamas sejam rápida e rigorosamente investigadas, ressaltando a disponibilidade da ONU para investigar de forma independente tais violações.
“O custo desta guerra para civis inocentes, de ambos os lados, é demasiado elevado e deve acabar. Sabemos que em circunstâncias de rapto ou detenção, especialmente as mulheres correm um risco acrescido de sofrer diferentes formas de violência, incluindo a sexual”, afirmou a representante.
Lajst explica que outro fator que contribui com a falta de ação da ONU sobre o Hamas é que a organização sequer o considera um grupo terrorista. “Apesar de várias nações classificarem o Hamas como terrorista, incluindo países da União Europeia, Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Japão, o Conselho de Segurança não inclui os responsáveis pela maior tragédia da história recente de Israel em seu rol de grupos terroristas. Sem essa definição, o Hamas não é condenado da maneira que deveria pelas Nações Unidas e países membros, incluindo o Brasil, que segue a determinação da ONU de não chamar o Hamas de terrorista, mesmo com as atrocidades que cometeram contra a população israelense e a sua própria, que é usada como escudo humano”, pontua o cientista político.
O especialista conclui dizendo que a motivação principal de Israel para continuar com a guerra é resgatar os israelenses mantidos em cativeiro pelo Hamas, e que “Israel fará de tudo para trazê-los de volta em segurança, tomando as decisões que qualquer outro país tomaria para defender seus cidadãos e assegurar que terroristas não voltem a cometer barbáries contra sua população”.