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Ocidente subestima o terrorismo do século 21


Murillo Ferrari


A ameaça de uma aliança jihadista internacional liderada pelo Estado Islâmico (EI) é crescente e subestimada pelo Ocidente, que não sabe como enfrentá-la. A opinião é da doutora em terrorismo pela London School of Economics, Loretta Napoleoni, autora do livro A Fênix Islamista. A seguir, trechos de sua entrevista ao Estado.

O que podemos esperar do EI em um futuro próximo?

Hoje, o EI lidera uma aliança internacional, na qual eles seriam uma espécie de “guarda-chuva ideológico”, e cuja natureza não é só religiosa, mas também anti-imperialista. Basicamente, é uma frente contra as oligarquias do mundo muçulmano, mas também contra o Ocidente.

Quem aderiu a essa coalizão?

A iniciativa atrai outros grupos jihadistas, desde que eles sejam sunitas, como fez o Boko Haram (que jurou lealdade ao EI em março). Existem pequenos grupos no Paquistão, Afeganistão, Tunísia, no sudeste da Ásia, por exemplo, que podem se juntar a esse movimento.

Ele aumentaria os lugares onde o EI pode realizar ataques?

Sim, claro. É uma situação em que o perigo pode estar em qualquer lugar, porque a mensagem do EI é: “independente de onde você estiver, faça o que for possível”. É assim que o terrorismo anti-imperialista do século 21 se organizará, com uma instrução distribuída, por exemplo, no universo digital a qualquer um que se solidarize com a causa e assumindo a “necessidade” do ataque. Uma pessoa com uma arma em São Paulo, por exemplo, após ter contato com a ideologia do EI na internet, atirar nas pessoas na rua. É importante ressaltar que, ao contrário do que alguns dizem, não são apenas pessoas com distúrbios mentais que praticam esses atos.

Como assim?

Existe uma nova forma de ser terrorista que os países ocidentais subestimam. Muitas dessas pessoas são jovens. Alguns talvez nem compreendam a divisão entre sunitas e xiitas. E, ao contrário dos movimentos anti-imperialista do passado, que exigiam certo tipo de conhecimento de teorias econômicas, hoje muitos desses jovens consideram lutar pelo EI como uma aventura.

Documentos do governo brasileiro mostram preocupação para a Olimpíada de 2016. Há risco?

Os grandes eventos, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, contam com um esquema de segurança muito refinado e esses militantes, esses “lobos solitários” agem de forma amadora. É muito mais provável que, caso ocorra algum ataque, não seja dentro das dependências da Olimpíada, mas em locais próximos. É quase um paradoxo. Ao mesmo tempo em que esses eventos atraem atenção para atos terroristas, as pessoas estão mais seguras participando desses eventos do que à margem deles.

Se o Ocidente subestimou o EI, como enfrentá-lo agora?

Essa é uma questão complicada. A estratégia atual, de ataques aéreos de uma coalizão lideradas pelos EUA, não está funcionando. O que é importante fazer agora, fora da frente de combate, é desenvolver ações para garantir que os jovens não sejam seduzidos pelo movimento jihadista. Ou seja, focar na integração dos grupos que estão à margem da sociedade é uma forma de combater o recrutamento e enfraquecer os jihadistas.

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