- Elisa Martins
- Direto da Cidade do México
Casos de violência como os 49 corpos mutilados encontrados no último final de semana em uma estrada em Monterrey, no Norte do México, e o assassinato de cinco jornalistas nas últimas semanas transformam a segurança em tema prioritário na campanha dos principais candidatos às eleições presidenciais de 1º de julho. Mas nenhum deles apresentou propostas que se distanciem da estratégia do presidente Felipe Calderón e sua guerra ao crime organizado iniciada em 2006 e que já contabiliza 50 mil mortos. Preocupados com a segurança e a economia do país, os eleitores não veem como o país poderá vencer o crime organizado e começar uma nova etapa quando também inicie um novo governo.
"Os candidatos falam em propostas diferentes, como se tivessem a solução para o problema que enfrentamos, mas apresentam sugestões praticamente iguais. Josefina Vázquez Mota, do Partido Ação Nacional (PAN), a candidata governista, defende a continuidade de Calderón. Peña Nieto do Partido Revolucionário Institucional (PRI) fala em mudança, mas ainda não conseguiu articular como, nem López Obrador do Partido da Revolução Democrática (PRD) sabe explicar como daria um giro radical", explicou ao Terra o analista político Genaro Lozano, do Instituto Tecnológico Autônomo do México (Itam).
Para Lozano, os candidatos não afirmam que a guerra vai acabar, que vão tirar o Exército das ruas, nem consideram a descriminalização das drogas. "Dizem que vão escutar especialistas e debater o tema, mas isso já acontece desde o atual governo. Tentam humanizar o problema, falam das vítimas, reafirmam a importância de fortalecer a Procuradoria de Atenção às Vítimas, mas não há novidade nessa postura", acrescentou.
Uma das propostas de campanha com mais difusão é a de criação de uma nova polícia, mais profissionalizada e capaz de combater a corrupção e a impunidade dentro dos próprios escalões do governo. O Exército só deixaria as ruas, afirmam os candidatos, quando existir essa polícia renovada que possa combater a delinquência organizada, tarefa hoje assumida em grande parte pelas forças armadas principalmente na fronteira com os Estados Unidos. A iniciativa de uma nova polícia que responderia a um comando único foi incentivada pelo presidente Felipe Calderón, mas ainda não conseguiu apoio no Congresso.
A legalização das drogas de baixo impacto, outro assunto em pauta, ainda não ganhou força dentro da estratégia do atual governo, e menos entre os candidatos. Mas alguns setores da sociedade já questionam com mais convicção o argumento de que o consumo de drogas aumentaria com uma possível liberação, e insistem para um avanço na discussão com os Estados Unidos e países produtores de drogas como Colômbia e Bolívia como uma alternativa para diminuir as fontes de renda do crime organizado e erradicar cultivos – conscientes de que essa não seria a única solução para resolver o domínio dos grupos delinquentes.
Medo de abordar o problema
Segundo o Instituto de Ação Cidadã do México, ao menos 71% dos municípios do país estão sob a influência do narcotráfico. Como se isso fosse um atestado de ineficiência do atual governo, analistas insistem na importância de que os candidatos se afastem da estratégia do presidente Felipe Calderón. O conselho vale principalmente para a governista Josefina Vázquez Mota, cujo principal motivo de fracasso e de disputa por um segundo lugar com Obrador e não pela liderança com Peña Nieto seria justificar a estratégia de segurança adotada atualmente.
"Apesar de ser prioritário, o assunto só ganha mais destaque dentro de um esforço midiático quando se apresentam eventos de violência no país. É como se os candidatos temessem que, ao detalhar suas propostas, se metam em uma discussão arriscada e sejam mal-interpretados ou percam votos. Isso é um erro, porque os eleitores estão ávidos por propostas novas, e não que nos digam que essa é uma guerra longa que acabaremos vencendo, mas ninguém sabe quando", afirma Lozano.
Insegurança para o exercício do jornalismo
No mais recente episódio de violência no país, um jornalista do Estado de Morelos foi assassinado no último domingo. Repórter experiente em cobertura de violência e simpatizante do PRI, ele foi encontrado pelas autoridades com marcas de tortura. No mesmo dia, o jornal El Mañana, de Nuevo Laredo, no Norte do país, publicou em um editorial sua decisão de deixar de noticiar fatos relacionados ao crime organizado, diante da falta de condições para o exercício da profissão. O jornal já tinha sofrido um atentado em 2006 e, na sexta-feira 11, sua sede foi alvo de um atentado com explosivo e disparos.
"Não há segurança para publicar temas da disputa entre os grupos delinquentes. Existe um grande risco de ficarmos no meio dessa briga, porque o que afeta um cartel é mal-visto por outro. É uma guerra onde não se respeita ninguém", contou ao Terra um repórter do El Mañana que preferiu o anonimato. "É difícil dizer quando poderemos voltar a publicar notícias de violência. As condições de insegurança teriam que diminuir, e não só para os jornalistas, mas para a sociedade em geral", afirmou.
Violência assombra o pleito
O dia das eleições, 1º de julho, será um novo desafio para candidatos e cidadãos. O Instituto Federal Eleitoral afirma que as eleições estarão protegidas, mas esta semana reconheceu a existência de mais de nove mil seções eleitorais conflituosas – ao menos um terço delas por questões ligadas à insegurança e presença de grupos delinquentes, vandalismo e diversas atividades ilícitas. O cenário seria diferente, no entanto, do que acontecia na Colômbia nos anos 1990.
"Não existe esse panorama de sequestros massivos de candidatos, embora já tenhamos visto assassinatos de alguns prefeitos e a existência de candidaturas ligadas ao narcotráfico. Certamente alguns municípios terão problemas, mas a violência não colocaria em risco todo o processo eleitoral. Em 1994, o líder na corrida presidencial, Colosio, foi assassinado, e seis meses depois ocorreram eleições", lembra o analista Genaro Lozano. Os mexicanos esperam não ter que passar por uma repetição da História, e sim começar uma nova página.
Confira as propostas dos candidatos para conter a violência.
Enrique Peña Nieto
Promessas: o candidato do Partido Revolucionário Institucional afirma que a tranquilidade voltará ao país e que as famílias não se sentirão aterrorizadas pelo crime.
Medidas: defende que é preciso aumentar os investimentos em segurança. Hoje o México destina 1,5% do PIB para este tema, enquanto na Colômbia o investimento na área seria de 5%. O candidato afirma ainda que vai aumentar a capacidade de ação do Estado, revisar o sistema penitenciário, criar uma nova polícia e agir com mais inteligência e menos confronto direto nas linhas de fogo, principalmente no Norte do país.
Josefina Vázquez Mota
Promessas: a candidata do Partido Ação Nacional diz que fará "coisas diferentes" em segurança, mas pouco critica a estratégia do atual presidente Felipe Calderón, da mesma legenda.
Medidas: insiste na criação de uma nova polícia, mais preparada para combater a corrupção e a impunidade, principalmente nos municípios mais vulneráveis à ação do crime organizado. A ideia foi incentivada no governo de Calderón e ganhou o apoio dos demais candidatos. Josefina afirma também que vai criar um novo Ministério do Interior para a segurança, aumentar as prisões de segurança máxima e, em um anúncio polêmico que não se sabe se seria certo, apoia a cadeia perpétua para "narcopolíticos".
Andrés Manuel López Obrador
Promessas: o representante do Partido da Revolução Democrática afirma que vai aplicar no país as mesmas medidas que adotou quando era prefeito da Cidade do México, hoje uma das metrópoles mais seguras do país.
Medidas: é o que mais defende a retirada do Exército das ruas, mas concorda, como os demais candidatos, que isso só aconteceria quando as condições permitissem e uma nova polícia "incorruptível" pudesse assumir a segurança dos cidadãos. O esquerdista insiste na importância dos programas sociais para afastar os jovens da delinquência.
Gabriel Quadri
Promessas: o candidato do Partido Nova Aliança (Panal) expõe a incapacidade do Estado para lidar com o controle do território.
Medidas: Quadri defende a privatização das prisões, exceto as de segurança máxima. A medida seria complementada por um novo sistema de justiça penal mais imparcial. Ele também aumentaria a Polícia Federal em dez vezes, mas sem tirar o Exército das ruas a princípio, a exemplo dos demais candidatos.