Fanatismo, terrorismo e alianças com grupos criminosos: Hezbollah (Imagem: AP / Hussein Malla)
Flávio César Montebello Fabri*
Colaborador DefesaNet
Segundo o Global Terrorism Index – GTI – 2024, Israel foi apontado como um dos países que foram mais impactos pelo terrorismo em todo mundo (no ano passado). Aliás, as baixas (por ação terrorista) em Israel atingiram em 2023 seu patamar mais elevado, com um total de 1.210 mortos e 4.537 feridos (em 20 ataques). O número de mortos em atentados terroristas em Israel, desde 2007, é de 1.312 pessoas.
A maioria das baixas fatais ocorreu em um único dia, quando o grupo terrorista Hamas** lançou uma série de ações coordenadas que resultaram na morte de aproximadamente 1.200 pessoas. Desde que o GTI começou a ser publicado, foi o maior ataque terrorista registrado e o maior em número de baixas desde o dia 11 de setembro de 2001, quando terroristas tomaram quatro aeronaves nos Estados Unidos, sendo que duas delas foram lançadas contra as torres gêmeas do World Trade Center na ilha de Manhattan (Nova Iorque), uma contra a sede do Departamento de Defesa (Pentágono – Washington D.C.) e outra que caiu na Pensilvânia, em uma região pouco povoada, restando um total estimado de 2.977 mortos (além dos 19 terroristas). A ação do Hamas (contra Israel) foi considerada uma das quatro únicas (conforme o GTI) com mais de 1.000 pessoas mortas, sendo assim, uma das maiores atrocidades testemunhadas pela humanidade. T
al fato ocorreu em 7 de outubro de 2023, em ataques coordenados, havendo a participação de outros grupos como Jihad Islâmica Palestina, o RPC, que é a sigla para Comitês de Resistência Popular (seria o braço armada das Brigadas al-Nasser Salah al-Din, sendo o RPC o terceiro maior grupo que atuava em Gaza, com um contingente inferior apenas ao das Brigadas Izz al-Din al-Qassan – IQB do Hamas e das Brigadas Al-Quds – AQB da Jihad Islâmica, sendo que todos são fortes aliados e colaboravam com efetivos que integravam a força policial local), a Frente Popular para a Libertação da Palestina, a Frente Democrática para a Libertação da Palestina, entre (possivelmente) outros grupos.
A denominada (pelo Hamas) Operação Inundação de Al-Aqsa resultou, após a invasão do território israelense, também na tomada de aproximadamente 250 reféns, com 132 destes mantidos na região de Gaza em janeiro de 2024.
Para quem se interessa sobre os grupos terroristas palestinos, é interessante consultar o sítio eletrônico do European Council on Foreign Relations – ECFR (Conselho Europeu de Relações Exteriores: ecfr.eu) e o seu mapeamento político.
Um fato que colabora para elevar o risco de desestabilização no Oriente Médio é a adesão de outros grupos na ofensiva contra Israel. Um deles, o Hezbollah***, lançou (a partir do Líbano) diversos foguetes contra o território israelense, o que motivou a resposta por intermédio de ataques aéreos.
O Gabinete do Diretor de Inteligência Nacional dos EUA (Office of the Director of National Intelligence – https://www.dni.gov/) disponibiliza um guia por intermédio do Centro Nacional de Contraterrorismo (NCTC). Se a respeito do Hamas, ele elucida que “foi formado no final de 1987, no início da primeira intifada (revolta) palestina, suas raízes estão no ramo palestino da Irmandade Muçulmana e é apoiado por uma estrutura sociopolítica robusta dentro dos territórios palestinos… a carta do grupo apela ao estabelecimento de um estado palestino islâmico no lugar de Israel e rejeita todos os acordos feitos entre a OLP e Israel”, em relação ao Hezbollah podemos ler que:
- “Formado em 1982 em resposta à invasão israelense do Líbano, o Hezbollah (o “Partido de Deus”) é um grupo terrorista xiita baseado no Líbano que defende o empoderamento xiita a nível mundial. O Hezbollah esteve envolvido em numerosos ataques (…) incluindo os atentados suicidas com caminhões-bomba contra a Embaixada dos EUA em Beirute em abril de 1983, ao quartel da Marinha dos EUA em Beirute em outubro de 1983 e ao anexo da Embaixada dos EUA em Beirute em setembro de 1984, bem como o seqüestro do TWA 847 em 1985 e o ataque às Torres Khobar na Arábia Saudita em 1996.
O Hezbollah têm participação no governo libanês desde 1992. Com a aprovação em 2004 da Resolução 1559 do Conselho de Segurança da ONU, que apelava ao desarmamento de todas as milícias armadas no Líbano, o Hezbollah concentrou-se em justificar a posse de suas armas apresentando-se como o defensor do Líbano ‘contra a agressão israelense’ (sic). Em 12 de Julho de 2006, o Hezbollah sequestrou dois soldados israelenses, desencadeando a guerra de 2006, na qual o Hezbollah reivindicou a vitória em virtude da sua sobrevivência. Desde então, tem procurado usar o conflito para justificar a necessidade de manter as suas armas como força de resistência libanesa.
Em julho de 2011, o Tribunal Especial da ONU para o Líbano (STL) acusou quatro membros do Hezbollah – incluindo um alto funcionário – pelo assassinato do ex primeiro-ministro libanês Rafiq al-Hariri, que foi morto por um carro-bomba em Beirute em 14 de fevereiro de 2005. O líder do Hezbollah, Hasan Nasrallah, declarou publicamente que não permitirá que nenhum membro seja preso (…).
(…) o grupo tem-se envolvido na sua campanha terrorista mais agressiva visando interesses israelenses fora do Médio Oriente, desde a década de 1990. Em julho de 2012, o Hezbollah detonou uma bomba em um veículo em Burgas, na Bulgária, matando cinco turistas de Israel e um búlgaro. Vários outros complôs foram desbaratados, incluindo as detenções de agentes no Peru e na Tailândia em 2014 e a descoberta, em 2015, de um esconderijo de explosivos e a identificação de um agente no Chipre.
A União Européia designou o braço militar do Hezbollah como uma organização terrorista em 22 de julho de 2013, após a condenação em março daquele ano de um membro do Hezbollah no Chipre, o atentado em julho de 2012 na Bulgária e a intervenção do grupo na Síria”.
(fonte: Office of the Director of National Intelligence – U.S. National Counterterrorism Center – Counterterrorism Guide)
Quando do ataque do Hezbollah à Israel, no final de 2023, fontes jornalísticas informaram que os terroristas poderiam dispor de um efetivo estimado em 100.000 integrantes (sendo assim uma força extremamente considerável e com um contingente muito maior que o do Hamas), possuindo um arsenal entre 130 a 150.000 artefatos (foguetes, mísseis etc.).
O Departamento de Estado (dos Estados Unidos) classifica, desde 8 de outubro de 1997, tanto o Hamas quanto o Hezbollah como Organizações Terroristas Estrangeiras (FTO – Foreign Terrorist Organizations). Essa classificação vai além da simples menção em uma lista. Há uma série de medidas restritivas, de impacto financeiro tão como de relações com outras nações quando uma organização assim é classificada, o mesmo ocorrendo com seus integrantes e apoiadores (mesmo que eventuais).
Os Estados Unidos da América, há tempos, preocupam-se não somente com a presença de grupos terroristas no continente, mas, também, o impacto que causa na sua segurança interna as parcerias feitas entre estes e Organizações Criminosas, por vezes, sob a indiferença de governos hostis (aos EUA).
Parte do estudo e debate (United States House of Representatives – uma das câmaras do Congresso Americano, sendo a outra, o Senado) a respeito da presença do Hezbollah na América Latina. Pequenas partes do texto completo foram eletronicamente traduzidas, estando em destaque. Em 2011, congressistas e autoridades dos Estados Unidos já alertavam a respeito da presença do Hezbollah na região da Triplice Fronteira, tão como a ligação de seus integrantes com Organizações Criminosas. O relatório completo encontra-se disponível em site oficial do governo dos Estados Unidos (fonte da imagem: https://www.govinfo.gov/).
Sobre a presença do Hezbollah na América do Sul, necessário recordar de suas ações na Argentina: os atentados terroristas em Buenos Aires em 1992 (Embaixada de Israel, no dia 17 de março, resultando em 29 mortos e 242 feridos) e 1994 (no dia 18 de julho, em um centro comunitário conhecido como Associação Mutual Israelita Argentina – AMIA, com 85 mortos e uma estimativa que varia de 151 a até 300 feridos). Apesar de ter sido noticiado que a autoria foi reivindicada por um grupo chamado Ansar Allah, conforme publicado no jornal libanês An-Nahar (O Dia) à época, a decisão do atentado (conforme relatório das investigações) teria sido do governo iraniano, a partir das reuniões do chamado “Comitê de Assuntos Especiais”, particularmente após uma que ocorreu no dia 14 de agosto de 1993, na cidade de Mashhad (Irã). A infraestrutura de inteligência necessária para a execução do atentado teria como base a Embaixada do Irã (Buenos Aires) e seu Bureau Cultural. Restou esclarecido que em 18 de julho de 1994, o cidadão libanês (e membro do Hezbollah) Ibrahim Hussein Berro (que possuía 21 anos) dirigia a Renault Trafic que explodiu defronte à AMIA.
Naquela época, o grupo Ansar Allah era considerado por muitos um “nome fictício” utilizado pelo Hezbollaz (sendo portanto inexistente, havendo o foco de tão somente evitar responsabilização e dificultar a elucidação do fato) ou, para alguns, um sub-grupo. De qualquer forma, foi noticiado pelo Al Mayadeen (um canal de televisão por satélite, com foco jornalístico, fundado no Líbano em 2012), em seu site, que o secretário-geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, teria se encontrado com o porta-voz do Ansar Allah (portanto, caso seja o mesmo que assumiu a autoria do atentado, este teria se tornado um “grupo independente”). A notícia foi publicada em 12 de setembro de 2022. Em momento mais recente, a BBC (British Broadcasting Corporation), em matéria com o título “Quem são os Houthis e por que atacam os navios no Mar Vermelho” (publicada em 15 de março de 2024), explicou que:
- “Os Houthis são um grupo político e religioso armado que defendem a minoria muçulmana xiita do Iêmen, os Zaidis.
Declaram-se parte do ‘eixo de resistência’ liderado pelo Irã contra Israel, os EUA e o Ocidente em geral – juntamente com grupos armados como o Hamas e o movimento Hezbollah do Líbano.
Formalmente conhecido como Ansar Allah (Partidários de Deus), o grupo surgiu na década de 1990 e leva o nome do falecido fundador do movimento, Hussein al-Houthi. O atual líder é seu irmão, Abdul Malik al-Houthi”.
(fonte: https://www.bbc.com/news/world-middle-east-67614911)
Poucos dias após o atentado na AMIA, houve ação similar em Londres (tendo como alvo a Embaixada de Israel e, também, uma instituição de caridade judaica, atentados que não causaram nenhuma morte, mas ferimentos em 26 pessoas no total e enormes prejuízos). Apesar de diversas controvérsias, é fato que a parte “operacional” do atentado à AMIA teria sido feita pelo Hezbollah.
Necessário mencionar que o governo canadense esclarece que o Hezbollah realmente é conhecido por diversas designações, como por exemplo: Hezbollah, Hezballah, Hezbullah, O Partido de Deus, Jihad Islâmica (Guerra Santa Islâmica), Organização da Jihad Islâmica, Resistência Islâmica, Jihad Islâmica para a Libertação da Palestina, Ansar al-Allah (Seguidores de Deus/ Partidários de Deus/Ajudantes de Deus), Ansarollah (Seguidores de Deus/Partidários de Deus/Ajudantes de Deus), Ansar Allah (Seguidores de Deus/Partidários de Deus/Ajudantes de Deus), Al-Muqawamah al-Islamiyyah (Resistência Islâmica), Organização dos Oprimidos, Organização da Justiça Revolucionária, Seguidores do Profeta Maomé etc.
Há mais de duas décadas foi detectado um crescimento enorme das atividades do Hezbollah na América Latina. Congressistas dos Estados Unidos alertaram nos idos de 2010 que haveriam duas “redes” associadas a esse crescimento. Uma delas seria a instrumentalizada pelo próprio grupo terrorista (auxiliado por seus colaborares, particularmente os que estariam em território venezuelano). A outra se trata da instrumentalizada pelo Irã, particularmente pela Força Quds. Segundo o governo norte-americano, em seu Programa Recompensa pela Justiça (que oferece, como o próprio nome menciona, recompensas por informações enviadas sobre terrorismo e outras atividades que impactem na segurança daquela nação):
- “A Guarda Revolucionária Iraniana – Força Quds (GRI-FQ), um braço da GRI, é o principal mecanismo do Irã para cultivar e apoiar grupos terroristas no exterior. O Irã usa a GRI-FQ para implementar suas metas de política externa, fornecer cobertura para operações de inteligência e criar instabilidade no Oriente Médio. Em 2011, a GRI-FQ planejou assassinar o embaixador da Arábia Saudita nos Estados Unidos em Washington D.C. Em 2012, agentes da GRI-FQ foram presos na Turquia e no Quênia por planejar ataques. Em janeiro de 2018, a Alemanha descobriu 10 agentes da GRI envolvidos em uma conspiração terrorista no país.
Em 15 de abril de 2019… o Departamento de Estado dos EUA classificou a GRI-FQ como Organização Terrorista Estrangeira. Em 2017… o Departamento do Tesouro dos EUA classificou a GRI como Terrorista Global Especialmente Designado… todos os bens e participações da GRI sujeitos à jurisdição dos EUA foram bloqueados … cidadãos e entidades norte-americanas, bem como pessoas residentes nos EUA, fundos e patrimônios regidos pelas leis dos EUA, estão proibidos de se envolver em qualquer tipo de transação com a GRI. Ademais, é crime sabidamente fornecer, tentar ou conspirar para fornecer apoio ou recursos materiais à GRI.
(fonte: https://rewardsforjustice.net/pt-br/rewards/guarda-revolucionaria-iraniana-forca-quds-gri-fq/).
Conforme o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais – CSIS (Center for Strategic & International Studies), cuja sede é em Washington (EUA), sobre o Corpo da Guarda Revolucionária do Irã:
- “ … é um produto da Revolução Iraniana de 1979… a força foi estabelecida para proteger a ordem islâmica do novo governo iraniano. Desde então, o IRCG evoluiu para tornar-se uma importante força política e militar …
Acredita-se que tenha laços estreitos com o Líder Supremo, mas têm suas próprias facções… é muito mais política e ideológica que as forças armadas regulares. Vários oficiais superiores do IRCG possuem parentes ou laços estreitos com membros importantes do clérigo iraniano.
… contribui com aproximadamente 125 mil homens para as forças iranianas e possuem capacidades substanciais para guerra assimétrica e operações secretas. Isso inclui a Força Quds e outros elementos que operam secreta ou abertamente no exterior, trabalhando com o Hezbollah …”.
(fonte: https://www.csis.org/analysis/irans-revolutionary-guards-al-quds-force-and-other-intelligence-and-paramilitary-forces).
Assim, quer seja por intermédio da Força Quds (Força de Jerusalém) ou por seus próprios integrantes, o Hezbollah aumentou (e continua a aumentar) sua presença na América Latina, buscando recursos, promovendo alistamento de novos integrantes (ou colaboradores), participando de ilícitos dos mais variados e promovendo treinamento / doutrinação. No início de 2010 os congressistas norte-americanos afirmaram poder identificar dezenas de integrantes do Hezbollah estando, entre as áreas de maior preocupação, o Brasil e a Venezuela.
De qualquer forma, talvez fique uma pergunta: qual o impacto de um grupo terrorista do porte do Hezbollah no Brasil? A resposta é mais que evidente. Potencializa problemas de forma exponencial.
Conforme o Professor de Relações Internacionais (PUC-MG) Jorge Lasmar expôs para a BBC, a chegada do Hezbollah para o Brasil teria ocorrido nos idos da década de 1980, com a vinda de imigrantes que fugiam da guerra civil no Líbano. Vinte anos após, o docente estimou que aproximadamente 460 integrantes do Hezbollah estivessem dentro do território brasileiro. Muitos acabaram, com o tempo, adquirindo posições de destaque na comunidade, tanto nas atividades religiosas como nas comerciais e educacionais. É fato que nem todos os que possuem vínculo com o grupo terrorista e estão no Brasil pertencem ao seu “braço armado” (da mesma forma que na comunidade onde se encontram, nem todos são simpatizantes ou apoiadores dos mesmos).
De qualquer forma, a maior concentração de seus integrantes está na região da Tríplice Fronteira. O perfil que adotaram foi o da maior discrição possível, evitando ações terroristas midiáticas. Passaram a atuar “somente” no tráfico de seres humanos, contrabando, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas. Também firmaram “suas parcerias” com Organizações Criminosas.
Em artigo recente, ao ser comentado sobre Insurgência criminal (https://www.defesanet.com.br/destaque/insurgencia-e-insurgencia-criminal-a-ultima-linha-de-defesa/), já havia ficado esclarecido o envolvimento de grupos guerrilheiros (ELN e FARC-EP) com Organizações Criminosas Transnacionais. Assim, não é difícil imaginar que, devido a sanções impostas por alguns países (principalmente direcionadas ao seu patrocinador, o Irã), o Hezbollah buscou, na América Latina, parcerias onde pudesse obter financiamento para as ações de seu braço armado.
Se para integrantes do crime organizado tanto faz como obtêm lucro (desde que o tenham), tão como é diversificado o “mercado de ilícitos” (como curiosidade, no Peru, em fevereiro de 2022, pela primeira vez foram condenados traficantes… de barbatanas de tubarão, um evento que foi noticiado pela organização jornalística investigativa Insight Crime), o mesmo princípio vale para seus eventuais “parceiros” terroristas. Por exemplo: talvez tenha chamado a atenção notícias a respeito da “máfia dos cigarros” no Rio de Janeiro, tão como sua amplitude, violência e lucro que obtêm (trata-se de um dos setores mais lucrativos do crime organizado), sendo fato que somente em sonegação fiscal (entre os anos de 2018 e 2023), aproximadamente 10 bilhões de reais em impostos teriam deixado de ser recolhidos.
Os cigarros, anteriormente contrabandeados do Paraguai, deram lugar aos produzidos (falsificados) localmente, trazendo juntamente com sua produção um rastro de violência e mortes, com a parceria que foi encontrada entre tais criminosos e outros (traficantes e integrantes de milícias). Até um maquinário volumoso, com peso estimado na casa das cinco toneladas, destinado à fabricação de cigarros, teria “desaparecido” da Cidade da Polícia (RJ).
Se os cigarros falsificados / contrabandeados geram lucro, o Hezbollah aprendeu a respeito disso cedo. O mesmo relatório elaborado anos atrás por congressistas americanos (United States House of Representatives) expressando preocupação com as atividades do Hezbollah na região da Tríplice fronteira, também elencava que, em 2002, uma grande rede de contrabando de cigarros na Carolina do Norte havia sido desmantelada. Estariam enviando receitas de suas operações de contrabando para Hezbollah desde, pelo menos, 1995. Até as boas intenções de alguns acabam sendo exploradas.
Nos idos de 2007, o Departamento do Tesouro (EUA) impôs sanções contra várias organizações “de caridade” que em território americano serviam como frentes de apoio ao Irã e ao Hezbollah para o financiamento de suas atividades terroristas, demonstrando a ampla rede que foi estabelecida (sugere-se a leitura do artigo https://www.defesanet.com.br/terror/familiares-de-terroristas-suicidas-recebem-pensao/ a respeito da pensão recebida por familiares de terroristas). O governo canadense (tão como o norte-americano) lista o Hezbollah como um dos grupos com maior capacidade técnica em todo mundo.
Para encerrar, aproveito para que seja feita uma reflexão: tentem imaginar como é difícil, em um país como o Brasil, ser policial. Normalmente a visão garantista em algumas esferas da justiça, tão como o ativismo judicial, já fazem da atividade policial uma enorme (e frustrante) dor de cabeça para quem opta em servir e proteger a sociedade. O ativismo nas mais variadas áreas (às vezes dissimulando interesses pouco nobres), a penetração do crime organizado em diversas esferas do Poder Público (para dar somente um, entre inúmeros exemplos possíveis, cito o do então vice-presidente do CONDEPE, Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, órgão vinculado à Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo responsável por investigar violações dos direitos humanos, que foi preso por estar na “folha de pagamento” do Primeiro Comando da Capital – PCC, sendo que também mais de 30 advogados o acompanharam para a prisão), a narcocultura, a doutrinação velada (ou por vezes escancarada) cujo viés ideológico colabora com a desinformação e a distorção da realidade (podendo ser somada à guerra de narrativas e o uso de redes sociais com seus “influenciadores”), o “alistamento” de jovens para integrarem Organizações Criminosas e o conseqüente “senso de pertencimento” destes a algo (onde um “fracassado” pode tornar-se um assassino, impondo medo no ambiente onde fica, medo este que é confundido com respeito) etc.
Por si só já é um desafio enorme, com os óbices citados, ser policial no Brasil. Agora para somar, terroristas passam a treinar e armar os criminosos (os mesmos que tentam “negar áreas” à governança estatal, enfrentam as forças policiais e que são defendidos por vários setores quando acabam mortos). É somar em um caldeirão o que não presta ao que é destrutivo e improdutivo, havendo adição do que é extremamente violento e radical. Isso é o que significa a parceria entre terroristas e criminosos. É o que muitas vezes os policiais enfrentam. Longe de debates, estudos promovidos por pessoas que nunca atuaram na área de segurança pública, análises, ativistas e “especialistas”, quem enfrentará os criminosos, que poderão ter sido treinados e armados por terroristas, será única e exclusivamente o policial operacional. Ele e tão somente ele. Deus os abençoe.
Referências
European Council on Foreign Relations, Berlim. https://ecfr.eu/ (acesso em 02 de abril de 2024).
Institute for Economics & Peace. Global Terrorism Index 2024: Measuring the Impact of Terrorism, Sydney, Fevereiro de 2024. Disponível em: http://visionofhumanity.org/resources (acesso em 02 de abril de 2024).
Office of the Director of National Intelligence – ODNI, Estados Unidos da América. https://www.dni.gov/ (acesso em 02 de abril de 2024).
Public Safety Canada – National Security – Counter-terrorism, Canadá. https://www.publicsafety.gc.ca/ (acesso em 04 de abril de 2024).
U.S. Department of State – Bureau of Counterterrorism – Foreign Terrorism Organizations, Estados Unidos da América. https://www.state.gov/foreign-terrorist-organizations/ (acesso em 01 de abril de 2024).
* É colaborador do portal DefesaNet. Acadêmico (Licenciatura) em História. Bacharel em Direito. Bacharel e Mestre em Ciências de Segurança e Ordem Pública. Autor de diversos artigos a respeito de Guerra Híbrida, Vitimização Policial e Guerra Informacional.
** HAMAS – o acrônimo árabe do grupo Harakat Al-Muqawama Al-Islamiya. Trata-se de uma organização terrorista nacionalista islâmica radical que emergiu do ramo palestino da Irmandade Muçulmana em 1987. Utiliza meios políticos e violentos para estabelecer um estado palestino islâmico em Israel. Desde 1990, o Hamas tem sido responsável por ataques terroristas contra alvos civis e militares. O Hamas é um dos principais grupos envolvidos em atentados suicidas contra israelenses desde o início da intifada de Al-Aqsa, em setembro de 2000. Em 2006, participou e venceu as eleições parlamentares palestinas, ocorrendo negociações entre o grupo e a Autoridade Palestina a respeito do estabelecimento de um governo de unidade. Em 2007, derrubou a Autoridade Palestina na Faixa de Gaza e tomou o poder no território costeiro. Utilizou a Faixa de Gaza como base para operações terroristas contra Israel, apesar de sua liderança permanecer em Damasco (fonte: Public Safety Canada).
*** Hezbollah – Grupo xiita radical ideologicamente inspirado pela revolução iraniana. Possui como objetivo a “libertação” de Jerusalém, a destruição de Israel e, por fim, o estabelecimento de um Estado islâmico xiita revolucionário no Líbano, inspirado no Irã. Formado em 1982, o Hezbollah realizou alguns dos ataques terroristas mais infames da guerra civil libanesa, como os atentados suicidas contra os quartéis dos fuzileiros navais dos Estados Unidos e dos paraquedistas franceses em Beirute, bem como o seqüestro do vôo 847 da TWA. Enquanto todas as outras milícias libanesas foram desarmadas no final da guerra civil do Líbano em 1990, o Hezbollah continuou a lutar, travando uma guerra de guerrilha contra as tropas israelitas estacionadas no sul (do Líbano). Após a retirada de Israel em 2000, os ataques do Hezbollah contra as forças israelitas continuaram, concentrados na disputada área das Fazendas Shebaa. Em 2006, provocou a invasão do Líbano por Israel ao seqüestrar dois soldados israelenses e matar outros 8. Em 3 de janeiro de 2018, o secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, anunciou que o grupo estava trabalhando “para obter todos os tipos de armas que lhe permitiriam alcançar a vitória na próxima guerra”. Em Setembro de 2019, o Hezbollah disparou mísseis anticarro contra uma pequena comunidade agrícola ao longo da fronteira do Líbano com Israel (fonte: Public Safety Canada).