Marcelo Rochabrunda
Reuters
11 Setembro 2021
Abimael Guzmán, líder dos rebeldes do Sendero Luminoso que quase derrubou o Estado peruano em uma revolução maoísta, morreu neste sábado (11), aos 86 anos, enquanto estava na prisão, disse o governo.
Guzmán foi capturado em 1992 em Lima e preso pelo resto da vida após ser condenado como terrorista.
Susana Silva, chefe do sistema prisional do Peru, disse à rádio RPP neste sábado que Guzmán esteve doente nos últimos meses e recebeu alta de um hospital no início de agosto.
Ela disse que seu estado de saúde piorou nos últimos dois dias, sem dar mais detalhes, acrescentando que Guzmán.
Ex-professor de filosofia, Guzmán foi comunista ao longo da vida. Ele viajou para a China no final dos anos 1960 e ficou impressionado com a Revolução Cultural de Mao Zedong. Ele resolveu trazer a marca de comunismo de Mao para o Peru por meio de uma guerra de classes que ele lançou em 1980.
Guzmán fundou o Sendero Luminoso, transformando-o de um bando desorganizado de camponeses e estudantes radicais na força guerrilheira mais obstinada da América Latina.
Estima-se que 69 mil pessoas, principalmente no interior do Peru, foram mortas entre 1980 e 2000 no conflito interno lançado pelo grupo.
Os ataques ousados e imaculadamente planejados do Sendero Luminoso, suas redes de informantes e espiões, e a incrível habilidade de Guzmán de escapar da prisão deram a ele uma reputação quase lendária de parecer estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
Durante anos de luta, havia rumores de que ele estava morto, gravemente doente ou vivendo uma vida confortável na Europa.
Em 1980, após anos de preparação, Guzmán, um ex-professor universitário, liderou um bando de apoiadores para a Cordilheira dos Andes fora da cidade de Ayacucho.
Armados com espingardas, dinamite e facões, eles começaram a atacar as forças de segurança, funcionários eleitos e camponeses que resistiram à sua doutrinação com fervor e crueldade nunca vistos em um grupo rebelde latino-americano.
Saindo de Ayacucho, o Sendero Luminoso atraiu mais milhares de militantes de comunidades camponesas pobres e universidades.
As pessoas na capital, Lima, experimentaram o Sendero Luminoso pela primeira vez em 1981, quando guerrilheiros penduraram dezenas de cães mortos em postes de luz – “os cães do capitalismo”, diziam placas pregadas nos animais.
No final da década de 1980, o grupo havia se tornado uma ameaça tão grande para o Estado que dois terços dos peruanos viviam em áreas sob regime de emergência – essencialmente, lei marcial.
Seus seguidores chamaram Guzmán de a Quarta Espada do Marxismo, em homenagem a Marx, Lenin e Mao, e o idolatraram em cantos, canções, pôsteres e literatura revolucionários.
Suas poucas obras escritas, embora pouco apreciadas pelos acadêmicos marxistas, tornaram-se mantras para os seguidores do Sendero Luminoso que repetiam suas palavras como se fossem verdades bíblicas.
A primeira imagem que a maioria dos peruanos viu de Guzmán era tudo menos revolucionária. Aparentemente bêbado, ele dançou e posou para fotos com apoiadores em um vídeo do Sendero Luminoso capturado pela polícia em 1990 e exibido na televisão.
O vídeo deixou claro que ele estava vivo e ainda no comando, mas prejudicou sua reputação de austeridade e desmoralizou militantes do Sendero Luminoso.
No entanto, seus ataques se intensificaram, levando o então presidente Alberto Fujimori a tomar poderes quase ditatoriais na tentativa de esmagar a revolta.
Depois que Guzmán foi capturado pela polícia em um espaçoso esconderijo em Lima em 1992 e condenado à prisão perpétua, o Sendero Luminoso ruiu como uma ameaça militar, embora restos permaneçam até hoje. Em 2018, Guzmán foi condenado a uma segunda sentença de prisão perpétua por um ataque com carro-bomba em Lima em 1992, que matou 25 pessoas.
A primeira esposa de Guzmán, Augusta La Torre, morreu em circunstâncias misteriosas no final dos anos 1980. Em 2010, ele se casou com sua namorada de longa data Elena Iparraguirre, que, como Guzmán, está cumprindo prisão perpétua. Ambas as mulheres eram líderes do Sendero Luminoso.
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