O F-15 e a lenda da renovação da Águia
O upgrade do nunca batido caça da Boeing é a aposta americana para vencer a guerra tecnológica com a China.
por Vianney Jr.
A águia é a ave que possui a maior longevidade da espécie, chega a viver cerca de 70 anos. Porém, para atingir essa idade, aos 40 anos, precisa tomar uma séria e difícil decisão: Aos 40 anos, as suas unhas estão compridas e flexíveis e já não conseguem agarrar as presas das quais se alimenta; o bico, alongado e pontiagudo fica curvo e na direcção do peito, as asas tornam-se envelhecidas e pesadas em resultado da grossura das penas, e, voar, aos 40 anos torna-se uma tarefa difícil! Nesta situação a águia só tem duas alternativas: deixar-se morrer… ou enfrentar um doloroso processo de renovação que irá durar 150 dias.
Este processo consiste em voar para o alto de uma montanha e recolher-se, num ninho que esteja próximo a uma parede – lugar de onde, para retornar, ela necessite fazer um voo firme e pleno. Ao encontrar esse lugar, a águia começa a bater o bico contra a parede até conseguir arrancá-lo, enfrentando corajosamente a dor que essa atitude acarreta. Espera nascer um novo bico, com o qual irá arrancar as suas velhas unhas e com elas passa a arrancar as velhas penas. Após cinco meses “renascida”, sai para o famoso voo de renovação, para viver por mais 30 anos. Apesar de uma lenda, muito utilizada em comunicações motivacionais, o texto faz todo o sentido para o caça mais bem-sucedido da história do combate a jato.
O Boeing F-15 Eagle
Nunca batido em combate aéreo, o F-15 é um caça provado em diferentes teatros operacionais, com irrefutável sucesso. Havendo voado pela primeira vez em 1972, e entrado em serviço em 1976, o Eagle inaugurou seus recordes de abates e sua fama de caça nunca vencido em junho de 1979, sendo aquele primeiro combate a serviço da Força Aérea de Israel, finalizado com um MiG-21 como presa. A longa lista de vitórias aéreas do F-15 registra até a data, mais de 100 aviões inimigos derrubados, sem nunca terem perdido um único combate aéreo real.
Nota DefesaNet
O projeto da USAF F-X que originou o F-15, foi acompanhado desde o início pelos centros de projeto aeroespacial da União Soviética. Deu início ao Programa PFI (Caça Tático Avançado), mais conhecido com o "Anti F-15". A tentativa de desenvolver um projeto equivalente na União Soviética, consumiu um enormne esforço industrial e científico. Como resultado gerou a Família SU-27. O Editor |
Com uma poderosa relação empuxo/peso, reporta-se ter sido o primeiro caça a exceder a velocidade do som no vôo vertical. O F-15 pode ascender a 50.000 pés em 60 segundos. No vôo horizontal, o Eagle pode alcançar velocidades de Mach 2.5 – duas vezes e meia a velocidade do som.
A USAF e o conceito “Digital Century Series”
A estratégia de aquisições da Força Aérea Americana aponta a compra de 72 aeronaves de combate por ano, e a redução da idade média de serviço de seus jatos, dos atuais 28 anos para um tempo limite de uso de apenas 15 anos, como forma ideal para atingir a formação de uma frota que atenda as necessidades do futuro. Se os recursos e o tempo para os terem operacionais na linha de frente fossem ilimitados, esse caças seriam de “5ª geração”, ou mais. Na prática, a composição entre a necessidade de disponibilidade e capacidade operacional apontam um F-15 de versão avançada como o mais provável elemento no mix entre plataformas comprovadamente testadas e operacionalmente capazes, e vetores de “última geração”.
“Crescentes restrições orçamentárias, e o desafio de manterem-se eficazes em uma era de constantes inovações tecnológicas que podem trazer vantagem em combate e ao mesmo tempo propiciar a racionalização do emprego e da manutenção, o que implica em redução de custos e em otimização de resultados.”
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O Digital Century Series é um novo conceito lançado pela USAF para a obtenção de novos caças, que concentra-se em técnicas como engenharia digital, arquitetura aberta de sistemas e softwares avançados de desenvolvimento, como meio de acelerar a produção de futuras aeronaves de combate, permitindo que o ciclo se complete entre três a cinco anos, ao invés de décadas – como visto nos anteriores desenvolvimentos para a produção de caças de nova geração. Esta velocidade se faz necessária para fazer face ao desafio de permanecer tecnologicamente superior e, ao mesmo tempo, operacionalmente disponível no espaço de batalha, espaço este, onde em crescente disputa tecnológico-operacional a China busca alcançar capacidade de dominância.
“Estamos cometendo os mesmos erros hoje, que aqueles de quando nos vimos forçados à criar Top Gun [denominação não oficial da Navy Fighter Weapons School, que formou a elite da aviação naval americana]. Enamorados com as grandes tecnologias de última geração, não tendo rivais à altura por anos, e todos estão apostando que isso continuará assim para sempre. Eu estou apostando na China! Eles são capazes de produzir 6.000 novas aeronaves por dia e pô-las pra combater. E aí quero ver o que vamos fazer!”. Estas palavras são atribuídas a Dan Pedersen, fundador e primeiro comandante da famosa escola americana.
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A fabricante americana, Boeing, propôs o F-15EX à USAF como “banco de provas” para o ABMS (Advanced Battle Management System), a principal contribuição da Força para apoiar as operações em todos os domínios do combate. A empresa também acredita que o novo F-15 pode se tornar um futuro ponto de enlace dentro do sistema. Além disso, a Boeing acredita que o F-15EX “Advanced Eagle” poderia servir como um “possibilitador” para a emergente Digital Century Series.
A Força Aérea deve evitar o pensamento focado em plataformas de “nova geração”. Esta “fixação” comumente cria um desejo de “forçar a barra” nos limites da tecnologia, aumentando-se o risco a níveis inaceitáveis, resultando em aumento de custo e atrasos no cronograma. Em uma inevitável associação aos desafios do desenvolvimento do caça de 5ª geração americano: “o risco de cancelamento em virtude da quase inevitável performance abaixo das expectativas, que resulta na entrega de capacidades em atraso às necessidades por anos, ou mesmo décadas”.
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A Boeing recebeu o primeiro pedido de oito caças F-15EX em um contrato estimado em 1,2 bilhão de dólares. O plano total seria de comprar 144 dessas aeronaves, principalmente para substituir os envelhecidos F-15C/D Eagles em atividade.
Oficiais da USAF defendem que os custos e o tempo para integrar a versão mais avançada do Eagle à Força são menores do aqueles necessários ao F-35. O F-15EX e o F-15C mais antigo têm comunalidade de partes e meios de manutenção e apoio estimada entre 80 a 90%. Os novos F-15EX podem usar bases e equipamentos de suporte existentes. Os pilotos do F-15C podem concluir a conversão para o novo Eagle em apenas seis meses.
Um Caça entre Gerações
Alguns analistas rotularam outra versão atualizada e melhorada de um caça da Boeing, o Super Hornet F/A-18 Block III, desenvolvido para a Marinha Americana, como uma aeronave de geração “4.5”, sugerindo que o modelo é superior aos aviões de 4ª geração, ainda que não tão avançado quanto as aeronaves furtivas de 5ª geração, como o F-35, ou o F-22. Executivos da empresa, no entanto, defendem o F-15EX como "pelo menos de geração 4.75".
O momento é de cautela, e a Boeing, de forma inteligente, tenta adaptar seus caças para voar acima da turbulência das incertezas e indefinições: “a Boeing e nossos parceiros na indústria estão investindo em capacidades de última geração, para que os combatentes tenham o que precisam, no momento certo, e o cliente possa adquiri-las a um menor custo.”
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Esta versão atualizada do caça de quarta geração poderá atuar como um “arsenal” no ar, para atuação conjunta com o F-35 e, no futuro, possivelmente voar ao lado de drones. O F-15EX é considerado pela USAF como um meio de transportar um grande número de armamentos em apoio ao F-35, que com seus sensores avançados e as capacidades furtivas de um caça de 5ª geração pode penetrar o espaço aéreo inimigo, enquanto o F-15EX carrega e entrega o poder de fogo necessário para destruir as ameaças detectadas e os objetivos da missão.
Pense rápido, Eagle
Certa feita, em uma confraternização da indústria aeronáutica, em conversava com uma executiva de uma fabricante européia, que interessada em uma então recente experiência minha durante avaliações de aeronaves de caça americanas, fui questionado sobre minha impressão sobre as características de voo e manobrabilidade do jato da Boeing em questão. Eu então comentei, que o caça explorava muito bem cada limite de seu envelope de voo, ao que um renomado analista e editor de um dos mais conceituados veículos especializados em aviação, que havia se incorporado à nossa pequena roda de conversa, redarguiu com um certo ar esnobe: “todos estes caças mais modernos têm fly-by-wire por computadores controladores de voo”. Óbvio que não deixei nosso nobre especialista inglês, sem resposta: “a diferença é que uns são mais inteligentes que outros!” Risos, uma face desconcertada, e vida que segue.
Os FCCs (Flight Control Computer) da nova Águia prometem ser ainda mais inteligentes e rápidos que de seus antecessores, disponibilizando um avançado sistema de fly-by-wire digital que confere ao caça excelente manobrabilidade, dando ao piloto total controle da aeronave mesmo em baixíssimas velocidades. Some-se a isso, os 87 bilhões de informações por segundo, já presentes no computador de missão suportado pelo Advanced Display Core Processor (ADCP) II.
A alta velocidade de processamento e design de interface do ADCP II permite a integração avançada de sistemas, maior efetividade da missão, aumentada tolerância a falhas, maior estabilidade do sistema e incremento de capacidade dos suítes de sobrevivência da tripulação. O ADCP II é um dos principais itens de atualização dos F-15, que fornece capacidade de processamento de missão crítica para novos recursos avançados, como o Eagle Passive/Active Warning Survivability System, capacidade de busca e rastreamento por infravermelho de longo alcance, comunicação por radar de alta velocidade e futuras atualizações do pacote de software.
Uma nova Águia de garras longas, mortais e rápidas…hiper rápidas
Se pudermos comprovar as especificações da Boeing para sua versão avançada do Eagle, o F-15EX deverá estar longe de ser uma velha ave de rapina com nova plumagem. De acordo com o fabricante americano, o caça carregará mais armamentos que qualquer outra aeronave de mesma categoria, e poderá lançar mísseis standoff hipersônicos – armas de ponta que poderão voar a velocidades 5 vezes ou mais a velocidade do som, e que são altamente manobráveis – de até 7 metros de comprimento e 3.175 kg de peso. Estas novas garras permitiriam ao F-15EX lançar suas garras de uma distância a salvo das defesas inimigas, em espaços aéreos altamente contestados (A2/AD). Teoricamente, estamos falando de mísseis como o AGM-183, capazes de atingir alvos a mais de 3.000 quilômetros.
DefesaNet no ninho da Águia, em St. Louis, MO – USA
A convite da Boeing e DefesaNet, o autor acompanhou o editor-chefe do maior portal especializado em Defesa e Assuntos Estratégicos da América Latina, Nelson Düring, em visita técnica ao ninho onde nascem os Eagles.
Em St. Louis, no estado americano do Missouri, o F-15 busca atualizar-se para permanecer um ativo importante no inventário das Forças Aéreas a que serve, e até mesmo, conquistar espaço em novos mercados. Desde a seleção do F-35 da Lockheed Martin no programa JSF, a Boeing claramente apostou na “evolução” do que o negócio de aeronaves de combate significa para a companhia.
Esta “evolução” consistiu basicamente em tentar recuperar a receita perdida com uma então esperada desaceleração das vendas de caças, realizando mais trabalhos de manutenção e atualização nas centenas de jatos já em uso. Na prática, pode se dizer que a Boeing tem sido extremamente bem sucedida, excedendo positivamente as expectativas de poucas vendas e até mesmo desativação de linhas de produção. Os recentes contratos do F/A-18 Super Hornet Block III e agora do primeiro lote de F-15EX Advanced Eagle, mantém um lugar importante para a Boeing com seus 4ª geração “com esteróides” em meio aos “orçamentos furtivos”.
Em 2012, durante aquela visita, flagramos uma dessas iniciativas da filosofia de “upgradability” da Boeing. O F-15SE (Silent Eagle) com suas características derivas verticais inclinadas era a versão voltada à redução da assinatura radar do caça. O desenvolvimento foi posteriormente pausado, em razão de que a redução da RCS (radar cross-section) não era proporcional ao custo envolvido para alteração das linhas de produção.
Outros meios de atualização e melhoramentos foram perseguidos, como a capacidade de comunicação segura com caças de 5ª geração, tecnologia avançada de detecção de ameaças e guerra eletrônica, sistemas digitais de controle de voo, tudo isso sem perder a brutal capacidade de carga e emprego de armamentos, inclusive os modernos standoffs – mísseis ou bombas que podem ser lançados a uma distância suficiente para permitir que F-15 lance seu ataque evitando o fogo defensivo da área alvo.
Na ocasião, nos foi solicitado discrição sobre aqueles desenvolvimentos, revelados em confiança. Não se faz necessário mencionar que até hoje, tanto o autor como DefesaNet gozam de livre trânsito e acesso com os principais fabricantes mundiais, por conta da relação de respeito e da postura de isenção e lisura registrada em suas análises independentes, preservando os segredos industriais protegidos, ao tempo que informam o leitor com honestidade e imparcialidade.
O Editor de DefesaNet com dirigente da Boeing Defense em Sain Louis.