Em entrevista nesta quarta-feira à rede de TV francesa Canal Plus, o ministro da Defesa da França, Gérard Longuet, disse acreditar que as negociações para a venda de 126 caças Rafale à Índia poderão representar um precedente favorável aos brasileiros. “O precedente indiano será muito útil aos brasileiros”, declarou o ministro. "Sobre o Brasil, há esperanças, e sobre a Índia estou confiante”, resumiu Longuet, mencionando também as expectativas otimistas para a venda do caça francês aos Emirados Árabes Unidos.
Para o ministro francês da Defesa, o governo brasileiro preferiu primeiro comprar o que tinha mais necessidade, ou seja, os quatro submarinos franceses. “Os aviões, eles (brasileiros) não compraram de outros e nós continuamos na disputa”, afirmou.
Na entrevista, Longuet considerou as perspectivas de assinatura de um contrato para a venda dos caças à Índia como uma “formidável promessa” para a indústria e a tecnologia francesas. Gérard Longuet estima também que a transferência de tecnologia prevista no contrato com Nova Délhi é “não apenas inevitável”, mas “desejável”.
“Nós trabalhamos com eles (a indústria indiana) como amigos de longa data. É por isso que nós vendemos”, disse o ministro, citando as parcerias nos setores de motores e da informática. Gérard Longuet adiantou que os caças serão montados na Índia com equipamentos e componentes fabricados por engenheiros e técnicos franceses que irão trabalhar no país e ajudar a formar a mão-de-obra local.
Batalha difícil
A batalha comercial em torno da venda de 126 aviões de caça Rafale à Índia, conforme anunciou ontem o governo francês, está longe do fim. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos saiu no contra-ataque e disse, nesta quarta-feira, estar disposto a compartilhar as informações sobre o modelo F-35 com o governo indiano.
A transferência de tecnologia e o preço mais barato do Rafale, em relação ao segundo colocado na licitação, o modelo Typhoon, do consórcio Eurofighter, teriam sido determinantes na seleção do caça francês da Dassault. Dos 126 aviões que a França quer vender à Índia, 18 serão entregues finalizados e os 108 restantes serão fabricados com parceiros indianos. O valor global do contrato, incluindo o treinamento de pilotos e a manutenção dos aparelhos, é estimado em 15 bilhões de dólares.
Em abril passado, a Índia rejeitou as ofertas dos Estados Unidos, da Rússia e da Suécia. Mas como Nova Délhi tem a disposição de comprar mais 80 aparelhos, os concorrentes descartados na licitação vencida pelo Rafale podem apresentar futuramente novas propostas.
Analistas dizem que será um desafio para a França superar a fase de negociações exclusivas com a Índia, pois é nessa etapa que serão detalhadas as condições de transferência de tecnologia.
O presidente Nicolas Sarkozy disse que a vitória nessa licitação é um sinal forte de confiança na economia francesa. Mas, na França, ninguém esqueceu os fracassos de venda do Rafale na etapa final de negociação para o Marrocos e a Coreia do Sul e ainda o suspense no caso do Brasil e dos Emirados Árabes Unidos.