Brasília (DF) – Era para ser mais um exercício de salto operacional de paraquedas na rotina do Sargento Luis Eduardo Silvério. Mas na noite daquele 22 de maio de 2019, os ventos estavam diferentes. Pouco depois de sair da aeronave e abrir o paraquedas, Silvério levou um tranco: o paraquedas de outro militar acabara de se enroscar com o dele. Com os dois dispositivos entrelaçados, sem altura para sustentação e sem condições de acionar o equipamento reserva, os dois mergulhavam para a morte certa.
Diante dos poucos segundos que tinha para tomar decisões, o Sargento Silvério verificou se o companheiro estava bem – e ele estava. A partir de então, iniciou-se um combate contra a massa de tecido que, enroscada nos dois militares, tornava inevitável a tragédia. Na luta pela vida, Silvério tentava se valer do que conhecia das movimentações do vento. Puxou, agitou, sustentou, buscou reduzir a velocidade da queda – até a chegada, inevitável, ao chão. Os dois caíram em plena BR-153, a um metro de distância dos fios de alta-tensão. “Levantei, fui ver como o outro militar estava, e ele havia apenas batido o ombro no chão. Eu até tive uma chegada forte ao solo, mas não cheguei a me machucar”.
Para chegar ao ponto de decidir salvar a si mesmo e a outro, Silvério foi além do instinto de sobrevivência: ele se ateve a princípios consolidados. “Nas missões que executamos, dificilmente estamos sozinhos. Ou estamos em grupo, ou estamos com algum companheiro. E desde o começo da nossa vida militar aprendemos que temos que cuidar de nós mesmos e dos que estão conosco”.
A coragem e o espírito de corpo demonstrados pelo sargento são alguns dos princípios que tornam a atividade militar tão peculiar – e que guiam as atitudes de todos os integrantes do Exército Brasileiro. A partir de hoje, você acompanhará histórias que mostram como a vida militar não apenas exige, mas sobretudo estimula o desenvolvimento de atitudes que fazem do Exército o que ele é: uma instituição baseada em valores sólidos.
Bravura e sacrifício
12 de janeiro de 2010. O então Capitão Pedro Aires Pereira Júnior ainda estava em seus primeiros dias de missão de paz no Haiti quando um terremoto de magnitude 7 destruiu a capital do país. Imediatamente, todo o efetivo do Exército Brasileiro no local foi designado para o apoio ao resgate de sobreviventes da tragédia. Na ocasião, o Capitão Aires se ofereceu para integrar uma das patrulhas.
Em quase todas as esquinas, haitianos desesperados abordavam as tropas brasileiras pedindo socorro, implorando para que os ajudassem a retirar parentes e conhecidos soterrados. Um deles foi correndo até a equipe do Capitão Aires apontando para os escombros. Embaixo dos destroços, uma professora francesa estava cercada por paredes que poderiam desabar a qualquer momento.
“Durante o resgate, que durou em torno de três horas, ocorreram alguns tremores secundários. Em um desses, parte do prédio desabou completamente, o que levou a nossa equipe a avaliar as condições e decidir sobre a permanência no local. Todos concordaram em dar continuidade ao resgate, só que os haitianos que estavam nos apoiando não quiseram ficar”, lembra o militar.
Sem apoio, mas já envolvido demais no salvamento, o Capitão Aires, acompanhado do também Capitão Nilo, correu contra o tempo e contra a falta de recursos para salvar a vida da professora. Com a ajuda de macacos de força de carros abandonados nas ruas, eles conseguiram fazer o resgate. “Depois de alguns dias, o responsável pela escola nos procurou para agradecer o apoio dos militares, informando que a professora havia sido removida para seu país com vida”.
Ainda para o Coronel Aires, a atividade militar exige bravura e desprendimento para que o soldado cumpra o seu dever. “Isso ficou evidente no caso do terremoto do Haiti. Lá, a tropa brasileira apresentou respostas efetivas em curto espaço de tempo, foi proativa e audaz em todas as circunstâncias, superando o medo natural de enfrentar situações inéditas para nós, brasileiros”.