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Unasul I: um avião para (quase) ninguém


Unasul I: um avião para (quase) ninguém

 
 

Roberto Lopes
Jornalista especializado em assuntos militares.
Em 2000 graduou-se em Gestão e Planejamento de Defesa
no Colégio de Estudos de Defesa Hemisférica
da Universidade de Defesa Nacional dos Estados Unidos, em Washington.
Em abril de 2012 lançou o livro “O Código das Profundezas,
Coragem, Patriotismo e Fracasso a bordo dos Submarinos
Argentinos nas Malvinas” (Ed. Civilização Brasileira).

 
 
Dessa vez, nem os governos de La Paz e de Quito parecem dispostos a apoiar uma autêntica iniciativa bolivariana

Exatos 11 meses depois que a VIIª Reunião Executiva do Conselho de Defesa Sul-americano – organismo da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) – anunciou em Lima a finalização, por técnicos argentinos, do projeto de um avião monomotor para as forças aéreas da região – o chamado Unasul I – a ministra da Defesa do Equador, María Fernanda Espinosa, e seu colega da Pasta das Indústrias e Produtividade, Ramiro González, assinaram, a 9 de abril passado, um acordo destinado a, no prazo de cinco anos, promover a construção da primeira aeronave militar equatoriana: um treinador de pilotos capaz de servir também como avião de fumigamento para as lavouras do país.
A aviação agrícola do Equador emprega ao menos 240 aeronaves de diversas procedências, que já poderiam estar sendo substituídas por aparelhos mais modernos e econômicos.

A administração do presidente Rafael Correa decidiu investir U$ 3,5 milhões na construção de uma fábrica de aviões na cidade de Latacunga – sede do Aeroporto Internacional Cotopaxi. A expectativa da oficialidade equatoriana é de que o aparelho esteja pronto para o seu vôo inaugural em outubro de 2015, e um ano depois já esteja sendo produzido em série.

Na Bolívia os sonhos não são menores.

Entre maio e outubro de 2013, o Centro de Indústria e Tecnologia Espacial (CITA) de Santa Cruz de La Sierra – um dos principais enclaves econômicos do país – entregou à Força Aérea Boliviana dois protótipos de aeronaves com tamanhos e préstimos diferentes.

O primeiro, apresentado em 31 de maio – data do aniversário do Colegio Militar de Aviación –, foi o Gavilán, aparelho de quatro lugares impulsionado por um motor americano Lycoming IO-540 K1D5, de 540 cavalos, próprio para o adestramento de pilotos e missões de evacuação aeromédica. O segundo modelo, batizado de Tiluchi, com motor de apenas 390 cavalos, é um biposto dedicado a voos de instrução.

O projeto Unasul I, que nas pranchetas argentinas recebeu a denominação de IA-73, prevê um aparelho com 9,3 metros de comprimento, trem de pouso retrátil e dois assentos em tandem (um atrás do outro) – com a poltrona do instrutor em plano elevado. Serão ofertados dois tipos de motorização: turboélice de 450 HP e um propulsor menor, de 320 cavalos. Sua autonomia de voo deve, por conta disso, variar entre cinco e nove horas.

Apesar da política hostil em relação a Washington, o governo Evo Morales mandou um grupo formado por dois pilotos e cinco técnicos em manutenção de aeronaves aos Estados Unidos, a fim de que esse pessoal se capacitasse na produção de aparelhos leves.

A administração boliviana está injetando cerca de U$ 5 milhões em seu plano de lançar as bases de uma indústria aeronáutica, que contempla uma fábrica e quatro protótipos dos dois modelos.

As iniciativas de Equador e Bolívia deixam apenas metade dos países-membros da Unasul, como potenciais usuários do Unasul I: Argentina, Venezuela, Uruguai, Paraguai, Guiana e Suriname.

Brasil, Chile e Colômbia já fabricam os seus próprios aviões de treinamento primário. O Peru vai começar a produzir o modelo KT-1, sul-coreano.

No grupo dos prováveis utilizadores, o Paraguai representa um ponto de interrogação, porque sua força aérea tem propostas firmes da Embraer e da Korean Aerospace Industries, fabricante do KT-1. Guiana e Suriname constituem mercados de valor econômico quase desprezível, até porque suas necessidades em termos de equipamento de voo são controladas à distância pela Embraer e por grandes indústrias aeronáuticas da Europa.

Sobram as aviações militares da Argentina, Venezuela e Uruguai, que, juntas, não devem encomendar (ao menos, de início) mais de 80 aparelhos.

Outros possíveis clientes do Unasul I seriam Cuba e Nicarágua.

A aviação militar cubana emprega, para ministrar o treinamento primário a seus pilotos, o monomotor checo Zlin 326, equipamento desenhado na metade final dos anos de 1950… A Força Aérea Nicaraguense usa uma aeronave mais moderna – o Aermacchi SF-260 –, mas a renovação dessa frota de treinadores não exigiria mais do que meia dúzia de aparelhos. Além disso, tanto as autoridades cubanas quanto as nicaragüenses vêm formando seus jovens aviadores na Escola de Aviação Militar da Venezuela.   

Para piorar as expectativas dos projetistas argentinos, no último dia de março, a companhia brasileira NOVAER apresentou no município paulista de São José dos Campos – principal pólo aeronáutico do país – o seu modelo TX-c, que deve ser fabricado em série no município catarinense de Lages.

O modelo é um monomotor de asa baixa e trem de pouso tipo triciclo retrátil, que será produzido nas versões de treinamento (utilizável também como aparelho de acrobacia) e utilitário para quatro passageiros.

Os únicos mercados certos para o Unasul I são, por ora, o venezuelano e o argentino. Na segunda quinzena de abril, durante uma visita do ministro da Defesa argentino, Agustín Rossi, a Caracas, os venezuelanos também acenaram com a possibilidade de encomendarem à indústria  Fábrica Argentina de Aviões Brigadeiro San Martín (FAdeA), de Cordoba, o jato Pampa III, de treinamento e ataque leve ao solo.

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