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Ucrânia – A guerra de drones do amanhã acontece hoje

Por Patrick Tucker – Texto do Defense One
Tradução, adaptação e edição – Nicholle Murmel

 

Em 19 de janeiro deste ano, no aeroporto de Donetsk, um punhado de militares ucranianos já vinha combatendo tropas da República Popular de Donetsk (RPD) apoiadas pela Rússia havia meses. A maior parte da estrutura do local já havia sido destruída. A pista antes perfeita agora parecia a superfície da lua, com escombros, crateras e marcas de explosão. Um pequeno drone de oito hélices levantou voo das ruínas e subiu em direção ao campo de batalha – ele transportava videos em tempo real das posições de artilharia dos rebeldes para serem entregues ao comando das forças ucranianas.

Com base nesses dados, um tanque inimigo foi selecionado como alvo. Os homens do projeto Aerorozvidka de reconhecimento aéreo, que pilotavam o drone a partir de local próximo à cidade de Debalcevo, assistiram enquanto um míssil voava em direção ao blindado como uma bola de futebol em direção à rede. “Precisamos de um gol! Precisamos de um gol!”, eles gritavam e comemoravam enquanto o míssis acabava com o alvo em uma bola de fogo.

Por mais que as aeronaves não tripuladas sejam parte das guerras americanas há quase dez anos, o conflito no Leste Europeu representa o uso mais significante desse tipo de equipamento em combate nos dois lados do campo.

Grupos como a RPD usam drones sofisticados de fabricação russa para coletar dados que orientam mísseis e artilharia – e isso se mostrou uma vantagem enorme em batalha. Quando Steven Pifer, ex-embaixador americano na Ucrânia, visitou a linha de frente acompanhado de uma delegação, comandantes ucranianos pediram equipamentos para burlar o radar e interceptar melhor os VANTs russos. Também pediram aeronaves de fabricação americana, como os Reapers (apesar de não pedirem que viessem necessariamente armados).

Mesmo que o governo Obama decida fornecer esses drones às Forças Armadas ucranianas, os EUA já não vêm conseguindo enviar a tempo e de forma consistente o auxílio que já foi aprovado para o Leste Europeu. A guerra não quis esperar. Então, em garagens, laboratórios e bunkers de Kiev a Debalcevo, soldados ucranianos tentam trazer drones militares às linhas de frente.

O projeto Aerorozvidka é um exemplo do que se pode chamar de startup. Natan Chazin, um comandante de batalhão ucraniano, fundou a iniciativa em maio de 2014 junto com outros três homens. Seu pequeno time cresceu para mais de 20 pessoas, e hoje conta com uma unidade tática equipada com vans blindadas e 16 drones operados com dois dos sistemas operacionais mais conhecidos – o NAZA ou o Pixhawk, desenvolvido pela 3D Robotics (agora mantinda pela Fundação Linux).

As máquinas são, basicamente, drones recreativos que foram desmontados e reconfigurados para realizar missões de inteligência. O Aerorozvidka também produz seus próprios mísseis, que o grupo trabalha para incorporar aos VANTs. As forças adversárias já abateram três aeronaves. Quanto ao recente cessar-fogo estabelecido em negociações entre Rússia e Alemanha, Chazin diz que, em sua opinião, a medida não alterou muito a realidade do conflito.

Para os combatentes ucranianos, manter esses veículos no ar é um desafio cada vez maior. As milícias apoiadas pela Rússia têm acesso às tecnologias mais avançadas de GPS e para burlar radares fornecidas por instituições como a Radio-Electronic Technologies Corporation de Moscou, além de baterias antiaéreas como a Krasuha 2.

O VANT mais sofisticado no lado ucraniano desde o começo do conflito é chamado PD-1, do inventor Igor Korolenko. O veículo tem envergadura de 3 metros e autonomia para até cinco horas de voo, além de carregar sensores eletro-óticos e infravermelhos, bem como uma câmera de vídeo para transmissão em um canal criptografado de 128 bits. O componente mais importante no drone é o software de piloto automático que lhe permite retornar à base caso o sistema de posicionamento global seja comprometido ou perdido.

A coleta de dados baseada em aeronaves não tripuladas é frequentemente mostrada como livre de riscos em comparação com avições piloados, mas, segundo Korolenko, se o drone não é seguro ou se tem uma assinatura muito óbvia, ocusto humano das operações pode ser bastante alto.

 “Às vezes as forças russas localizam as estações de controle em terra”, escreveu em e-mail ao Defense One. “Sendo assim, os esquadrões que operam os veículos precisam seguir certas medidas de segurança – trocar de localização com frequência, deslocar as antenas e operar dentro de abrigos, etc. Até onde eu sei, dois membros de esquadrões de VANTs foram mortos em ataques com morteiros após suas posições terem sido rastreadas pelo equipamento eletrônico russo”, descreve.

Korolenko projetou e modificou diversos drones para ajudar no esforço de guerra. Ele é parte de um grupo de voluntários chamado People’s Project – uma espécie de incubadora tecnológica baseada principalmente em Kiev. Com um website elegante e foco nos projetos, a iniciativa tem muito em comum com as típicas startups do Vale do Silício, mas em vez de produzir aplicativos para e-commerce, eles constroem equipamentos para serem enviados ao front o mais rápido possível. O inventor descreve o modelo de negócio como “um tipo de financiamento coletivo em tempos de guerra”. Um kickstarter para o conflito.

A dependência de crowdfunding é uma necessidade desagradável para parte das forças ucranianas. Os Ministérios da Defesa e do Interior do país ganharam reputação entre alguns trabalhadores de organizações não- governamentais como ineptos na melhor da hipóteses, ou absolutamente corrompidos e infiltrados pelos russos no pior dos casos. ONGs e grupos voluntários deram muito mais ímpeto operacional aos soldados no front do que é de praxe para esses atores.

Conforme a jornalista Oriana Pawlyk relata em reportagem para o Air Force Times, as doações incluem até mesmo os tão necessários drones. Um grupo chamado Chicago Automadin vem enviando modelos Phantom 2 de prateleira, e trabalha para tornar seus sistemas de radar mais resistentes a jamming.

Soluções vindas direto das prateleiras não irão deter as forças pressionando da Rússia em direção ao oeste. Mesmo que os Estados Unidos forneçam auxílio letal na forma de lançadores de mísseis portáteis, radares e drones, o vácuo em capacidades básicas e no reabastecimento pode persistir no campo de batalha. Os combatentes da República de Donetsk e outros grupos militares pró-Rússia têm um fornecedor mais disposto e vias ininterruptas de abastecimento até o front. “Ninguém pensa que o Exército Ucraniano vai vencer os russos”, disse o embaixador Steven Pifer ao Defense One.

A crise no leste da Ucrânia nos dá um relance não só de como as guerras futuras serão combatidas, mas também financiadas. Trata-se também de uma lição em tempo real sobre a velocidade com que a guerra altera a tecnologia, e vice-versa.

O que Korolenko, Chazin e outros podem fazer é diminuir as perdas em seu lado da batalha e tornar o conflito mais custoso para o inimigo. Eles podem ganhar tempo.

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