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Ser líder exige atitude e disposição para correr riscos

General de Divisão R1 Joarez Alves Pereira Junior

A existência de verdadeiros líderes tem sido a mola propulsora para conduzir a melhores destinos os grupos, as empresas e a sociedade em geral. Líderes são transformadores, inovadores e ousados, contribuindo decisivamente para a construção da história da humanidade. Nas singelas palavras da escritora Verônica Rodrigues, “o líder leva as pessoas mais longe do que iriam sozinhas”.

Algumas profissões e atividades, mais do que outras, exigem a existência do líder, não bastando o chefe com perfil gerencial e administrativo. Mesmo naquelas em que basta o chefe, via de regra, o verdadeiro diferencial de sucesso dessas organizações e empresas se assenta na qualidade e no perfil da sua liderança, mais do que na sua chefia.

Uma profissão que não existe sem a presença do líder é a militar. Não, pelo menos, com a habilidade necessária de combater e vencer batalhas. Antes de tudo, porque a condução da guerra é uma atividade coletiva: não se combate sozinho, mas sempre inserido em uma fração, do pequeno grupo até estruturas complexas de corpos de exércitos.

Além disso, e mais importante, as agruras da guerra e as exigências de se contrapor ao instinto humano da sobrevivência correndo constantes riscos de morte e se colocando à disposição dos interesses maiores da defesa da Pátria, se for preciso com o sacrifício da própria vida impõem que as ações não possam ser conduzidas, apenas, por um bom gerente. O soldado não pode ser somente chefiado em combate, ele precisa ser liderado. Somente assim se ganha a guerra e se salvam vidas.

É preciso admitir que nem todas as pessoas possuem os atributos necessários para liderar. A liderança se sustenta, basicamente, em três pilares: conhecimento ou capacitação técnica; a posse e a prática de valores e virtudes; e a visão que conduz a melhores destinos. Se por um lado nem todos serão líderes, por outro, a sociedade não precisa que todos sejam líderes. Os liderados também compõem o quadro dos grupos de sucesso.

Existem, ainda, outros fatores que limitam a quantidade de pessoas que exercem a liderança. Dentre aqueles que possuem as credencias para liderar, nem todos querem exercer a liderança e se tornar líderes. Muitas das vezes porque lhes faltam duas outras características: atitude e disposição para correr riscos.

ATITUDE

Ter atitude exige sacrifício e força de vontade. Uma ferramenta valiosa para se ter atitude é ser apaixonado pelo que se faz, sendo, assim, capaz de exercer sua atividade com entusiasmo e motivação.

Para se ter atitude, é preciso estar disposto a ser exemplo e exigente consigo mesmo. Antes de pretender liderar os demais, é preciso ser capaz de liderar a si mesmo. Gaston Courtois nos ensinou em suas palavras que “a vida do chefe (eu diria do líder) fala, sempre, aos homens mais fortemente que sua voz, e, se sua vida está em contradição com suas palavras, há uma falta de lógica que escandaliza os fracos e revolta os fortes”.

O verdadeiro líder tem que querer liderar, posicionar-se como líder, estar disposto a conduzir e a proteger os liderados e ter disposição para interagir com o grupo, sempre colocando o interesse e os valores coletivos acima dos seus. A liderança é uma conquista e não um título. O cargo e a autoridade podem ser adquiridos pela atribuição legal dada ao chefe, a liderança, por sua vez, é uma conquista reconhecida pelos liderados, que fala mais alto do que o posto ocupado. E isso exige atitude.

DISPOSIÇÃO PARA CORRER RISCOS

Já destacamos anteriormente que o desenvolvimento da visão é fundamento basilar para liderar. O verdadeiro líder vê aquilo que ainda está obscuro para os demais, e essa é uma das qualidades que diferenciam o valor das decisões tomadas. É com base nesse fundamento que o líder surpreende, inova e leva a destinos, por vezes, não percebidos pela maioria.

O líder desenvolve essa visão com base nos seus conhecimentos e na experiência vivida, por si próprio ou por outros. E vai além, pois analisa e medita sobre todo esse cabedal de conhecimento, a fim de transformá-lo em sabedoria que leva à visão.

Para colocar a sua visão em prática, isto é, transformar teoria em ação, é preciso estar disposto a correr riscos. E muito mais do que isso, é necessário assumir a responsabilidade pelos equívocos, arcar com as consequências e, sempre que for preciso, estar disposto a ajustar procedimentos, corrigir os erros e reinventar-se ao trilhar um caminho ainda não desbravado. O líder deverá, ao aceitar correr riscos, ser ousado e disposto ao trabalho árduo.

Muitas vezes, o caminho mais prático não leva aos melhores resultados. Basta lembrar exemplos marcantes da nossa história. Durante a Guerra do Paraguai, tornou-se famosa a decisão de Caxias de conduzir as tropas brasileiras pelo chaco, a fim de contornar as forças de Solano López, em Piquissiri, conduzindo um envolvimento e atingindo o inimigo pela retaguarda. Ao aceitar o elevado risco, não inconsequentemente, mas calculadamente, demonstrou, uma vez mais, a sua verdadeira atitude de liderança. E o desfecho, a história mostra.

Frequentemente, a decisão cartesiana e balanceada não se configura como sendo a mais inovadora e vencedora. Em um trecho do livro A Arte da Sabedoria, encontramos o ensinamento que “Rommel, o general preferido por Adolf Hitler, era brilhante, mas previsível e sistemático; por isso, Montgomery o derrotou em El-Alamein. É muito fácil abater uma ave que segue sempre em linha reta, sem desviar-se”.

PARA CONCLUIR

No desenvolvimento deste artigo, procurou-se mostrar que, para liderar, não basta somente ter incorporados os fundamentos basilares da liderança, que se sintetizam na capacidade técnica; na posse de valores e de virtudes pessoais; e na capacidade adquirida de ter visão. É preciso ir além. É preciso querer e se dispor a assumir o papel de líder. A liderança exige atitude que será reconhecida pelos liderados. O líder, responsável por implementar a sua visão, deverá estar disposto a assumir os riscos da decisão tomada e possuir força e determinação para corrigir rumos, sem perder o foco.

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Sobre o autor:

General de Divisão R1 Joarez Alves Pereira Junior – Formado na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em 1982. Cursou a Escola de Comando e Estado-Maior (ECEME) em 1997/98. No exterior realizou o Curso Básico de Inteligência, no Forte Huachuca; o Curso da Escola de Guerra, no War College; e o Curso de Política e Estratégia da National Defense University; todos nos Estados Unidos da América. Foi instrutor da AMAN e da ECEME e comandou a Escola de Administração do Exército e Colégio Militar de Salvador.

Exerceu a função de Adjunto do Adido do Exército junto à Embaixada do Brasil em Washington. Comandou a 3ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, em Bagé-RS e a 6ª Região Militar, em Salvador-BA. Foi Subchefe do Estado-Maior do Exército para Assuntos Internacionais. Exerceu, como última função no serviço ativo, a Vice Chefia do Departamento de Educação e Cultura do Exército. Atualmente é o Coordenador Executivo do Grupo de Trabalho que irá realizar o planejamento para a implantação de uma Nova Escola de Formação e Graduação de Sargentos de Carreira do Exército Brasileiro.

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