Jon Ostrower e Robert Wall
Ocupadas no desenvolvimento de seus mais novos jatos, a Boeing Co. e a Airbus Group SE já estão conversando com compradores de aviões sobre modelos novos ou aprimorados, em sua perpétua batalha para superar uma à outra com uma aeronave mais econômica.
A Airbus pode construir uma versão ainda mais longa de seu A350, seu maior avião de duas turbinas, ainda que o já alongado avião só deva entrar em operação daqui a dois anos. Ela também poderia aumentar o comprimento do superjumbo A380 e adicionar mais assentos, como parte de uma modernização que também inclui motores novos. As duas iniciativas almejam combater o sucesso de vendas que a Boeing teve com seu avião de longo alcance 777X, que chegará ao mercado em torno de 2020.
A Boeing está focalizada em outros projetos. Designers estão trabalhando em um novo avião tanto para substituir o 757, que saiu de produção, como para entrar no que deve se tornar um aquecido mercado para aeronaves um pouco maiores, de 230 a 250 lugares e autonomia de voo de cinco a nove horas.
A ideia de um possível novo avião “ganhou força nas últimas semanas”, disse Ray Conner, diretor-presidente da Boeing Commercial Airplanes, a divisão de aviões comerciais da empresa americana. “Nós ainda temos muito trabalho para fazer”, disse ele, “mas sabemos que este é a direção que os clientes querem seguir”.
Para os executivos das fabricantes de aviões e seus fornecedores, esses conceitos de design ainda têm uma prioridade menor que o enorme desafio de fabricar o grande número de aviões já encomendados para até depois de 2020. Só na semana passada, durante a feira de aviação de Paris, a Airbus e a Boeing receberam centenas de novos pedidos.
“Meu foco principal nessa feira é a execução do que já está prometido”, disse David Joyce, diretor-presidente da divisão aeroespacial da General Electric Co., cujas turbinas equipam os aviões da Airbus e da Boeing.
As fabricantes de turbinas Rolls-Royce Holdings PLC e unidade Pratt & Whitney, da United Technologies Corp. , têm o mesmo sentimento, ainda que estejam desenvolvendo possíveis opções para o motor do novo modelo da Boeing.
As iniciativas de bastidores para conceber novos designs podem alterar o cenário competitivo entre a Airbus e a Boeing na próxima década e dar às empresas aéreas novas ferramentas para competir e crescer.
Em julho, o conselho de administração da Boeing será informado sobre as opções de desenvolvimento de um novo avião, diz uma pessoa a par do plano. Um porta-voz da Boeing não comentou.
Fornecedores dizem que a Boeing não terá um novo avião até no mínimo 2023. O novo modelo da Boeing, que cairia em um segmento de mercado entre seus aviões de um corredor e os 787 Dreamliner, de longo alcance, tentará replicar as economias de custos operacionais de suas versões menores, dizem executivos da Boeing. Se isso pode ser realizado a preços que as companhias aéreas estejam dispostas a pagar ainda não está claro, admitem eles.
O novo avião pode ser voltado para clientes como empresas aéreas de baixo custo, algo que os projetistas do 757 original nunca anteviram. As empresas de baixo custo estão entre as de maior crescimento em compras de aviões novos.
A preocupação da Boeing é se a Airbus terá tomado a maior parte do estimado mercado de 1 mil aviões que vão substituir o 757 até o momento em que o novo modelo do avião ficar pronto.
A Boeing e a Airbus ainda enfrentam desafios significativos para lucrar com seus aviões recentes. Os A350, da Airbus, só devem começar a gerar lucro nas entregas realizadas perto do fim dessa década e a Boeing ainda perde dinheiro com cada venda do 787.
As equipes de conceito da Airbus estão pensando de forma menos ambiciosa. A fabricante está considerando uma versão do A350 que poderá transportar um número maior de passageiros que os 366 passageiros possíveis hoje em sua maior versão. O conceito envolve melhorias na asa e nos motores do avião e pode elevar o alcance para além de 14.600 quilômetros, diz um comprador.
Kiran Rao, diretor de estratégia da unidade de aviões comerciais da Airbus, disse que eles “estão discutindo com os clientes” e que o A350 é um projeto em evolução. Nenhuma decisão ainda foi tomada quanto à construção desse avião, disse ele.
O diretor operacional para clientes da Airbus, John Leahy, usou a feira da capital francesa, chamada de Paris Air Show, para dar a mais forte indicação até o momento de que a empresa irá modernizar seu tradicional superjumbo. O A380neo, como o avião está sendo chamado, pode ter não apenas novos motores, mas um corpo maior para ampliar o número de assentos, reduzindo o custo por passageiro para as companhias aéreas.
A recepção inicial é positiva. “Seria bom termos um A380 um pouco maior combinado com uma nova tecnologia de motores”, disse Steven F. Udvar-Házy, diretor-presidente da Air Lease Corp., uma empresa de leasing de aviões. Com seis metros a mais, ele poderia agregar 100 passageiros nos dois andares do avião. “É um aumento de cerca de 20% em assentos para um crescimento de cerca de 5% no peso do avião vazio. Eu acho que isso é significativo”, disse.
Udvar-Házy também tem sido um ferrenho defensor da iniciativa da Boeing de desenvolver um novo avião de tamanho médio.
As considerações do design, porém, podem ser complicadas. Muitos compradores de aeronaves estão apreensivos quanto a ter que preencher o atual A380 com 544 passageiros. Nesse sentido, colocar mais assentos pode ser negativo.