Mark Bergen
A tecnologia de inteligência artificial do Google está sendo usada pelo Departamento de Defesa dos EUA para analisar imagens de drones, iniciativa rara e controversa de uma empresa que antes limitava a colaboração com militares. Uma porta-voz do Google informou que a empresa oferece suas interfaces de programação de aplicativos (APIs, na sigla em inglês) TensorFlow para um projeto piloto com o Departamento de Defesa para ajudar a identificar automaticamente objetos em dados não classificados.
As APIs são regras baseadas em software que permitem a comunicação de programas de computador. A TensorFlow é um popular conjunto de APIs e outras ferramentas com recursos de IA como aprendizagem de máquinas e visão por computador. O recurso faz parte de um contrato recente do Pentágono envolvendo a unidade de nuvem do Google, que busca tirar mais investimentos do governo das líderes em computação na nuvem Amazon.com e Microsoft.
O Google, da Alphabet, apresenta propostas para contratos federais e fornece alguns equipamentos aos militares, mas tem se mostrado sensível em relação ao uso de sua tecnologia. "A tecnologia sinaliza imagens para análise humana e serve apenas para uso não ofensivo", disse a porta-voz do Google. "O uso militar de aprendizagem de máquina naturalmente levanta preocupações válidas.
Estamos discutindo ativamente esse importante tópico internamente e com os demais e continuamos desenvolvendo políticas e defesas em relação ao desenvolvimento e uso de nossas tecnologias de aprendizado de máquina." Depois de comprar a empresa especializada em IA DeepMind, em 2014, o Google criou um comitê de ética para garantir que não houvesse abuso de sua tecnologia.
Ao adquirir uma série de empresas de robótica, tirou uma delas, a Shaft, de uma concorrência do Pentágono. Após a aquisição da Skybox, o Google cancelou alguns dos contratos da startup de satélites relacionados a defesa e depois acabou vendendo o negócio. As informações a respeito do projeto piloto do Google com o Project Maven do Departamento de Defesa foram compartilhadas em uma lista de correspondência interna da empresa, na semana passada, e alguns funcionários do Google ficaram indignados pelo fato de a empresa ter oferecido recursos aos militares para tecnologias de vigilância envolvidas nas operações com drones, segundo publicação anterior do Gizmodo.
A atitude do Google em relação ao trabalho com os militares pode estar mudando em um momento em que seu negócio de computação em nuvem concorre com AWS, Microsoft e outras rivais. O governo dos EUA já é um grande cliente de computação em nuvem e o Pentágono está recorrendo ao setor de tecnologia em busca de novas ferramentas e estratégias, inclusive de IA.
Em agosto, o secretário de Defesa dos EUA, James Mattis, visitou a sede do Google em Mountain View, Califórnia, e se reuniu com executivos da empresa para discutir as melhores formas de usar IA, computação em nuvem e segurança cibernética no Pentágono.
O executivo do Google Milo Medin e o ex-presidente executivo do conselho da Alphabet Eric Schmidt fazem parte do Conselho de Inovação da Defesa, um comitê federal independente, e assessoraram o Pentágono em análise de dados e possíveis soluções baseadas em nuvem.