A Boeing divulgou nesta quinta-feira (09/01) centenas de mensagens internas de funcionários com duras críticas ao desenvolvimento do modelo 737 MAX, incluindo diálogos em que afirmaram que o avião foi "projetado por palhaços, os quais, por sua vez, são supervisionados por macacos".
As mensagens mostram tentativas de escapar do escrutínio regulatório, com funcionários menosprezando o avião, a empresa, a Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA) e reguladores estrangeiros da aviação.
Em uma troca de mensagens instantâneas em 8 de fevereiro de 2018 – quando o 737 MAX já estava voando e oito meses antes do primeiro de dois acidentes fatais envolvendo o modelo –, um funcionário pergunta a outro: "Você colocaria sua família em um avião MAX treinada por simulador?" O segundo empregado responde: "Não."
"Eu ainda não fui perdoado por Deus pelo que acobertei no ano passado", escreveu um funcionário em uma mensagem de 2018 sobre lidar com a FAA. Outro empregado afirmou: "Eu sei, mas é isto que estes reguladores recebem quando tentam atrapalhar. Eles impedem o progresso."
A Boeing afirmou que enviou as mensagens, tendo a transparência como interesse, aos congressistas americanos que investigam o processo de certificação do 737 MAX.
O modelo está impedido de voar desde março de 2019, quando um 737 MAX da Ethiopian Airlines que viajava de Adis Abeba para Nairóbi, no Quênia, caiu apensa seis minutos após a decolagem. O acidente ocorreu cinco meses depois de outro similar com uma aeronave do modelo que voava pela Lion Air. Os dois desastres mataram juntos 346 pessoas.
Algumas mensagens reveladas nesta quinta-feira pela Boeing revelam esforços da empresa no sentido de evitar que o treinamento de pilotos em simuladores pelas companhias aéreas – um processo caro e demorado – fosse um requisito para o 737 MAX.
A fabricante de aviões mudou sua orientação apenas esta semana, afirmando que recomendaria aos pilotos o treinamento em simuladores antes de retomar os voos com o 737 MAX – uma grande mudança na posição de que o treinamento por computador era suficiente, pois o avião era semelhante aos seu antecessor, o 737 NG.
A divulgação das mensagens, que destacam uma agressiva cultura de corte de custos e desrespeito à FAA, aprofunda a crise na Boeing, que está lutando para liberar os voos do seu modelo de avião mais vendido e restaurar a confiança do público.
No entanto, a FAA afirmou que as mensagens não suscitam novas preocupações de segurança, embora "o tom e a linguagem contidos nos documentos sejam decepcionantes".
A Boeing afirmou que as comunicações "não refletem a empresa que somos e precisamos ser, e elas são completamente inaceitáveis".
A empresa trabalha para fazer as mudanças exigidas pela FAA no Sistema de Aumento de Características e Manobra (MCAS), um sistema de controle de voo automatizado.
Em dezembro, a Boeing demitiu seu principal executivo, Dennis Muilenburg, por causa das tensões com a FAA e o substituiu pelo presidente do conselho, David Calhoun. No mesmo mês, ela também anunciou que iria suspender temporariamente a fabricação do 737 MAX, a partir de janeiro.