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Os loucos pela 2ª Guerra Mundial

Juliana Deodoro,
Marcelo Godoy e
Rodrigo Bugarelli

 

Um tanque de guerra M3-A1 Stuart, equipado com um canhão de 37 mm capaz de matar vários soldados e destruir paredes, estradas e até blindados, está estacionado em um sítio à beira da Represa Billings, em São Bernardo do Campo, dentro de um galpão. Seu dono, o médico Nelson Machado, liga os motores e o pilota até o lado de fora. Passa uma água na esteira de locomoção, toda suja de lama, e depois coloca o traje camuflado. "Se é para fazer foto, vamos fazer direito." E sobe no tanque para fazer a pose de militar, com o queixo para cima e os braços na cintura.

Nelson Machado é um dos maiores colecionadores de veículos militares da 2.ª Guerra Mundial do País. Além do tanque, tem outros cinco veículos militares em pleno funcionamento, cujos modelos foram usados pelo Brasil ou pelos Aliados durante a guerra. Hoje, exatos 70 anos depois do dia em que o ex-presidente Getúlio Vargas assinou o decreto declarando guerra aos países do Eixo, o colecionador exalta a memória da participação brasileira no maior conflito bélico do século passado. "Nós fomos para a Europa e lutamos, mas isso é pouco lembrado hoje em dia. Não podemos esquecer nosso passado", afirma.

Ele diz que seu interesse por veículos militares começou quando ainda era adolescente e foi herdado do pai, que é oficial aposentado da Polícia Militar. Nascido em São Paulo, se mudou para o Rio para cursar Medicina. E lá ingressou no Exército, onde serviu por quase uma década. "O que eu queria mesmo era poder dirigir os veículos, estar perto deles", conta. Mas o baixo soldo o fez largar a carreira militar para passar a atender em consultório. "Não tem ninguém que goste mais do Exército do que eu. Mas, se ainda estivesse lá, jamais teria a coleção que tenho hoje", diz.

Sua maior preciosidade é o M3-A1 Stuart, que foi doado pelos Estados Unidos para o Brasil em uma leva com outros 450 tanques, entre 1941 e 1946. Machado conta que encontrou o tanque, em péssimo estado de conservação, em uma loja de maquinário agrícola em Araraquara. Comprou por R$ 7 mil e, depois de quatro anos, um motor novo e algumas dezenas de milhares de reais, o Stuart virou um dos principais xodós dos militares paulistas. "Sempre me convidam para participar das comemorações da Força Expedicionária Brasileira (FEB)", conta.

Preciosidades. Apaixonado por carros e também pela história da 2.ª Guerra, João Barone, baterista da banda Paralamas do Sucesso, se define, em tom de brincadeira, "um popstar excêntrico". Em 1998, ele comprou o jipe Willys MB 1944 para restaurar. Hoje, o músico tem outros dois jipes, além de objetos que pertenceram a seu pai que, aos 25 anos, embarcou para a Itália para lutar pelo Brasil. "Colecionar os objetos é uma maneira de manter aquela época viva", diz.

O que começou como hobby se transformou em uma espécie de militância. Barone escreveu dois livros sobre a guerra – o último tem lançamento previsto para outubro -, fez dois documentários e ajudou a criar o Grupo Histórico FEB e o Clube de Veículos Militares do Rio de Janeiro. Os integrantes do clube que, juntos, têm 30 veículos raros, entraram com uma petição para que a Polícia Federal permita que peças de veículos antigos sejam importadas. "Hoje, a polícia pode apreender o colecionador que vier, por exemplo, com uma lanterna na mala", diz Barone.

O primeiro item da coleção de mais de 3 mil objetos do engenheiro Marcos Renault foi comprado na Argentina, em meados de 1970. "Era a réplica de uma medalhinha. Há 35 anos não existia internet nem leilões virtuais, por isso viajava atrás dos objetos." No acervo pessoal, catalogado por tipo e nacionalidade, há até uma foto autografada pelo ex-primeiro ministro do Reino Unido Winston Churchill. O que falta na coleção? "Muitas coisas. Isso é insaciável."

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