General de divisão desde novembro de 2013, José Luiz Jaborandy Júnior é o décimo militar brasileiro na função de force commander da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) – que completou dez anos no último mês de junho. No Exército Brasileiro desde 1976, o general, natural de Fortaleza (CE), tem a responsabilidade de liderar 5,7 mil homens de 21 países que compõem a missão.
Jaborandy foi nomeado force commander em março deste ano pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon. O general já foi condecorado duas vezes pelo organismo internacional por sua atuação como observador militar em duas missões da ONU na América Central nos anos 1990. Confira, abaixo, as visões de Jaborandy sobre os desafios da Minustah:
A situação atual do Haiti
“O mandato da Minustah mudou nesses dez anos. Inicialmente, na implantação da missão, enfatizava-se a necessidade de assegurar a segurança, a estabilidade. Era uma postura, digamos, mais rude, mais agressiva, mais forte. Hoje, o mandato dessa missão é apoiar o governo haitiano no trabalho de manter a estabilidade.
Então, é muito mais sensível o nosso trabalho, pois sabemos que o Haiti permaneceu um país soberano, e com os passos positivos na direção do futuro nossa missão tem acompanhado e evoluído nesse sentido. Nós trabalhamos numa situação muito mais enquadrada no Estado de Direto, o que nos obriga muito mais cautela, muito mais integração com os outros parceiros, como a Polícia Nacional, a Polícia das Nações Unidas. Então, hoje, a tropa tem uma postura sensivelmente diferente em relação à postura das tropas de 2004.
E o desafio é justamente esse, é você trabalhar num ambiente de Estado de Direito, ajudando o país a cumprir a suas metas, apoiando o governo, protegendo a população na direção do futuro.”
As operações
“Hoje, as operações continuam sendo operações de presença, de dissuasão, muita presença na rua, mas prioritariamente contando com a participação, em atividades prioritariamente conjuntas, da Polícia das Nações Unidas e a Polícia do Haiti.”
A polícia nacional haitiana
“Em termos de qualificação, eles têm dado passos importantes, passos seguros, mas ainda bastante lentos. Eu não vejo que eles estejam completamente prontos, mas sou otimista num futuro a curto prazo. Acredito que, muito em breve, a polícia terá condições de estar cada vez melhor. Mas a gente não pode se preocupar só com números. Alguns me questionam que só são 11 mil e que a meta seria 15 mil. A qualidade da polícia é que é mais importante.”
Estabilidade X Segurança
“Para mim, segurança é parte da estabilidade. E a estabilidade, para mim, é uma coisa muito ampla. Falo em estabilidade institucional, em estabilidade política. Não podemos apostar todos os nossos esforços na segurança, porque a segurança, eu poderia dizer, foi conquistada em 2005, 2006, logo após a implementação da missão. O que nós precisamos agora é atrair investimentos, é criar estabilidade e maturidade política e institucional que possa garantir àqueles que acreditam no país colocar aqui seus investimentos e trazer a geração de riqueza, a melhoria das condições de vida da população.”
Permanência no Haiti
“Obviamente, não podemos ficar aqui a vida inteira, nem manter a vida inteira todo o aparato que temos aqui. Quem deve ditar a velocidade, a permanência ou a saída é a situação. As Nações Unidas fazem essa avaliação. A situação dita as decisões futuras do Conselho de Segurança, por intermédio do secretário-geral. No começo de junho, recebemos uma missão de Nova York, que veio avaliar a situação, conversar conosco, que estamos na ponta da linha, para assessorar o secretário-geral, que por sua vez irá fazer seu relatório ao Conselho de Segurança, a quem cabe decidir o futuro da missão.”
Contingente mínimo após 2016
“Acho que é cauteloso mantermos aqui, pelo menos, um pequeno contingente do componente militar, porque se houver necessidade – e eu espero que isso não aconteça – de retornar o contingente militar, será mantida uma infraestrutura que possa ser reforçada. É também importante entender que o componente militar não reflete apenas segurança, mas é também apoio humanitário, é a mitigação dos efeitos de desastres naturais, é a sensação de segurança, é a integração e amizade de outros povos, particularmente os latino-americanos, com o povo do Haiti.”
Benefícios para as Forças Armadas
Tem sido importante essa capacidade demonstrada pelo Brasil de aceitar liderar uma missão fora do país. Em termos militares, destaco a capacidade e a experiência que as Forças Armadas brasileiras adquiriram em projetar força. Não é fácil manter 1.500, às vezes chegamos a 2 mil homens, em outro país, manter toda essa estrutura logística, manter a disciplina, manter o comando e controle.
Em termos operacionais, destaco a capacidade que nossos homens têm, na parte tática também, de aplicar a doutrina brasileira, de trabalhar fora do país, aguentar o afastamento do país, da família, e se manter disciplinado, vibrando, com os olhos brilhando mais e o coração batendo mais forte. Em termos individuais, a pessoa que vem para uma missão como esta volta diferente. Não é possível voltar a mesma pessoa."