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Os caças suecos e as oportunidades escandinavas

Em julho de 2000, o governo brasileiro aprovou o programa de reaparelhamento e modernização da Força Aérea Brasileira, com investimentos totais de US$ 3,4 bilhões, consistindo na construção e aquisição de aeronaves de combate, de transporte e de helicópteros pesados. Dentro deste planejamento, destacava-se o Projeto FX, para a compra de 12 a 24 caças para substituir os antigos Mirage. Com a mudança de governo em 2003, o projeto foi protelado e, em 2006, foi remodelado.

O novo projeto era muito mais caro — passou a ser considerada como a “compra da década” no setor —,mas exigia transferência completa de tecnologia e o direito de produção sob licença da aeronave no Brasil e de exportação para o mercado sul-americano.

A decisão final do processo, em dezembro do ano passado, deu vitória ao caça Gripen da Saab em um pacote de 36 aviões, inicialmente por US$6,0 bilhões. A empresa sueca venceu a disputa contra o francês Rafale, da Dassault, e o americano F-18, da Boeing.

A entrada da Saab poderá ser uma oportunidade para impulsionar uma nova fase da relação Brasil e Suécia, com aumento dos investimentos, das trocas comerciais e, principalmente, do intercâmbio tecnológico. Por conta de suas características especificas—país fortemente industrializado, com tecnologia de ponta em diversos setores e mercado interno limitado—a Suécia vê o Brasil, ao lado de outros emergentes, como China e Índia, como um parceiro estratégico, graças à dimensão do mercado consumidor brasileiro e as inúmeras oportunidades de negócios.

Grande número de empresas suecas mantêm filiais no país e São Paulo é considerado o maior centro da indústria sueca juntamente com Gotemburgo. Os demais paises que, junto à Suécia, compõem a região da Escandinávia— Noruega,Finlândia e Dinamarca— são muito ligados entre si e também enxergam o Brasil como um mercado estratégico. Os noruegueses estão de olho na exploração do pré-sal, os finlandeses nas áreas de TI e papel e celulose e, os dinamarqueses, nos setores farmacêutico e eólico.

Apesar do comércio bilateral com os escandinavos ser pouco significativo para o Brasil—situando-se historicamente entre 1,5% e 2% da nossa corrente de comércio total – os investimentos de empresas escandinavas são relevantes. O país é um dos alvos principais das transnacionais da região, cujas filiais são muitas vezes, maiores em solo brasileiro que no seu país de origem.

Para o Brasil, as oportunidades são interessantes. Como os mercados internos desses países são pequenos, há mais facilidade em negociar parcerias estratégicas e usar a escala do nosso mercado como barganha, com facilidades para induzir a transferência de tecnologias, atrair as empresas para formar plataformas de exportação e pólos de pesquisa e desenvolvimento em solo brasileiro. Para se ter uma ideia, apenas a chamada “nova classe média” brasileira é um mercado que consome mais que toda a população escandinava.

Esperemos que a diplomacia brasileira aproveite a oportunidade do acordo militar para estreitar os laços com esses países, diminuindo sua fixação em temas como a “diplomacia sul-sul”, a campanha por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU ou em sua “opção preferencial” pelo eternamente moribundo Mercosul.

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