Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais completa 50 dias no Rio Grande do Sul

Militares da Marinha já resgataram mais de 600 pessoas e realizaram mais de 900 atendimentos veterinários

Por Segundo-Tenente (RM2-T) Jéferson Cristiano

Com as fortes chuvas que assolaram o sul do País nos últimos dias de abril, militares do Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais em Apoio à Defesa Civil do Rio Grande do Sul (RS) foram convocados pela Marinha do Brasil (MB) e entraram em cena no dia 7 de maio. Naquele momento, o nível dos rios não parava de subir, alagando municípios em todo o estado.

Embora militares da Força Naval, servindo no Comando do 5º Distrito Naval, estivessem atuando no local desde o dia 30 de abril, quando as chuvas começaram, foi necessário ampliar o efetivo militar, devido a piora da situação. A MB, então, deslocou cerca de 400 militares e mais de 50 viaturas do Rio de Janeiro para auxiliar a população gaúcha, intensificando os salvamentos, desobstruindo vias e recuperando escolas.

Nesta segunda-feira (24), o Grupamento completou 50 dias, desde que começou a atuar no RS, focando sua presença nas cidades de Guaíba, Eldorado do Sul e na região das ilhas de Porto Alegre.
 

Ao todo, 616 pessoas e 114 animais foram resgatados nesse período. Além disso, foram realizados 917 atendimentos veterinários, tratados 263 mil litros de água, desobstruídos e removidos 4.211 metros cúbicos de escombros das vias e transportadas 812,6 toneladas de donativos.

Também foram reinauguradas duas escolas em Guaíba ― a Santa Rita de Cássia, com capacidade para 1.700 crianças, e a Otaviano Manoel de Oliveira Júnior, para mais de 400 alunos ―, e realizadas duas ações cívico-sociais, uma na Arena do Grêmio, em Porto Alegre, e outra em Eldorado do Sul, as quais somaram cerca de 6 mil atendimentos, em apenas cinco dias, e que contaram com a participação dos Fuzileiros Navais.

“Em Guaíba, o Grupamento segue trabalhando na Escola Doutor Solon Tavares; em Eldorado do Sul, na escola Professora Luiza Maria Binfaré Cézar; e na região das ilhas, nas escolas Almirante Barroso e Ilha da Pintada”, conta o Comandante do Grupamento, Capitão de Mar e Guerra (Fuzileiro Naval) Carlos Eduardo Gonçalves da Silva Maia.

Conforme as águas foram subindo, também foram acionados os Carros Lagarta Anfíbios (CLAnfs), que ficaram mais conhecidos pela população como blindados anfíbios, os quais estão sendo empregados para resgatar quem desejar sair de suas casas, na capital gaúcha, assim como para o transporte de água, refeições, cobertores, roupas e itens de higiene para as famílias que voltaram a ficar ilhadas, devido ao novo aumento do nível do Guaíba.

Devido a essa realidade, o Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais em Apoio à Defesa Civil do RS, que está com sua base expedicionária montada na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) de Guaíba, também instalou uma base de operações avançadas na Ilha da Pintada, a fim de que a tropa e as viaturas estivessem preposicionadas em caso de necessidade extrema, fruto de lições aprendidas no Haiti, por ocasião da passagem do furacão Matthew, em 2016.

A emoção de servir

O Comandante do Destacamento de Polícia e de Cinotécnicos, Segundo-Tenente (Auxiliar Fuzileiro Naval) Vander Lisboa Ceribeli, que está em operação no Rio Grande do Sul desde 12 de maio, se comove com o reconhecimento da população ao trabalho desempenhado pelos militares, há quase dois meses ininterruptos. “Isso nos emociona, porque nosso dever é servir”, conta o militar, que foi voluntário, tanto para vir com o primeiro contingente, quanto para permanecer em solo gaúcho com o segundo contingente. 

O Tenente Ceribeli ainda destaca que um momento marcante para ele foi o do dia 23 de maio, quando as águas voltaram a subir, alagando o bairro Santa Rita, em Guaíba. “As pessoas retornaram havia pouco tempo para as suas casas, e foram pegas de surpresa. Naquele dia resgatamos centenas de pessoas e dezenas de animais. Na hora, a gente precisa se manter equilibrado, para ajudar. Quando passa o evento, é que temos a dimensão do estrago e da rapidez com que tudo aconteceu”, detalhou.

Para o Tenente, parte do trabalho de um Fuzileiro Naval é ser empático com a população, sem deixar transparecer emoção. “Visitei muitos abrigos e isso mexe muito com a gente. Acabamos imaginando nossas famílias naquelas condições, nossos avós, pais, filhos. Um dia, tinha um jovem com necessidade especiais em um dos abrigos e isso lembrou muito um tio meu. Respirei fundo para não transparecer e continuar ajudando. Somos muito empáticos, mas precisamos ser fortes para sermos uma solução e não um problema”, explica.

Reconhecimento

Iêda Corrêa Fagundes, 57 anos, e sua filha Taiane Corrêa Fagundes, 28 anos, foram algumas das pessoas resgatadas pelos Fuzileiros Navais da Marinha. “Estávamos todos no segundo andar. A água já havia chegado a 2,60 metros e foi muito difícil descer. Os guris me ajudaram. Eu estava chorando muito, estava nervosa, e eles estavam ali o tempo inteiro”, destaca Iêda.

Ela ainda conta que, após os resgates, as famílias foram conduzidas de UNIMOG (um caminhão alto da Marinha, apropriado para entrar em zonas alagadas) e de ônibus até um abrigo. “Lá eu passei mal e novamente todo mundo me atendeu super bem. Todos foram maravilhosos”, ressalta. Taiane afirma que agora o momento é de se reerguer. 

A instrutora de fitdance Sheila Machado de Souza, 39 anos, do bairro Cohab, em Guaíba, também foi resgatada pelos Fuzileiros Navais com sua filha, Alícia de Souza, 13 anos, e com sua mãe, Cleunice Terezinha Vieira Machado, 65 anos. “Fui resgatada da enchente na Cohab e fiquei no abrigo Pedras Brancas. Perdi tudo e a volta não é fácil. Ainda não consegui limpar tudo, falta a casa da minha mãe, que também é moradora da Cohab. São muitas emoções: a primeira de alívio por ter sido resgatada, a segunda é de tristeza por perder lembranças e memórias. Não é fácil o recomeço, mas é possível”, desabafa.

A tropa que chega onde outros não chegam

Segundo o morador da Ilha Grande dos Marinheiros, em Porto Alegre, Ângelo Ferreira Ribeiro, 45 anos, eram poucos os que conseguiam acessar o local onde estava. “Estávamos com uma dificuldade muito grande de receber água potável, que vinha de caminhão pipa, mas, como o nível do Guaíba começou a subir aqui antes do que nas demais localidades, ficava mais difícil o acesso. Os Fuzileiros Navais entraram em contato conosco, explicamos a situação e, prontamente, colocaram uma máquina que produz mil litros por hora de água potável. Agora podemos beber sem medo”, ressalta.

Operação “Taquari 2”

Militares da Marinha atuam no apoio às cidades gaúchas atingidas pelas chuvas desde o dia 30 de abril. Hoje, após quase dois meses, os números da Força Naval chegam a mais de 3 mil militares empregados; 11 helicópteros; 80 embarcações; 231 viaturas; cerca de 500 toneladas de donativos; e 180 mil litros de água potável transportados.

Fonte: Agência Marinha de Notícias

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