Ten Cel Dardano do Nascimento Mota
A Operação CORE é parte da XXXVII Conferência Bilateral de Estados-Maiores, firmada entre o Brasil e os Estados Unidos da América. Ela constitui-se em um importante capítulo da relação histórica entre essas duas nações, que começou com os EUA na condição de primeira nação a reconhecer a independência do Brasil há, aproximadamente, 200 anos.
Considerando esse fato, é importante traçarmos uma linha do tempo, que iniciará a partir de um breve recorte histórico precedente ao tema central desta análise. Nesse sentido, podemos ressaltar que, na sua expressão militar, a relação Brasil – EUA começou a ganhar seus principais contornos a partir de 1934, por ocasião da chamada Missão Militar Americana (MMA).
Naquela época, a doutrina militar francesa exercia forte influência na caserna brasileira, e o objetivo da missão norte-americana consistia em orientar o ensino na Escola Técnica do Exército, criar o Centro de Instrução de Artilharia de Costa1 e prover uma adaptação ao sistema de “fire-control”2.
Coincidentemente, com o fim da MMA, em 1939, teve início a Segunda Guerra Mundial, em que houve um intenso envolvimento operacional entre os Exércitos aliados do Brasil e dos EUA. O Teatro de Operações, na Itália, exigia grande adaptação da Força Expedicionária Brasileira (FEB); contudo, após um intenso período de instruções e de operações reais com o V Exército de Campanha americano, a tropa brasileira tornou-se uma força de escola.
Naquela conjuntura, a conexão entre o Brasil e os EUA foi intensificada, sendo relatada pelo Marechal Castello Branco, à época oficial de operações da FEB, que afirmou em uma de suas conferências: “depois de Monte Castelo, brasileiros e norte-americanos não eram mais aliados, mas homens que, como irmãos, estavam combatendo na Itália”.
Após 1945, com o passar dos anos, em que pesem as sucessivas mudanças de governos e de ideologias (em ambas as nações), acordos de cooperação bilateral militar foram sendo firmados em diversas áreas, tais como: operações, ciência e tecnologia e logística.
Nesse cenário, marcado por diversos acordos de cooperação que contribuíram para o aperfeiçoamento das capacidades militares de ambos os países, chegamos ao século XXI, mais precisamente ao ano de 2017, quando tiveram início os trabalhos para que fossem realizados, anualmente, exercícios combinados envolvendo o Brasil e os EUA.
Dessa forma, surgiu a Operação CORE (Combined Operations and Rotation Exercise ou Exercício Combinado de Rotação e Operações). Dentre os seus principais objetivos, podemos destacar o intercâmbio de experiências com o Exército norte-americano, especialmente no que tange aos métodos de treinamento, à organização e ao emprego de tropa, e o estabelecimento de futuras parcerias para capacitação.
O seu desenho operacional3 está estruturado em uma série de linhas de esforço para a melhoria da interoperabilidade entre os dois exércitos. Uma delas consiste no aprimoramento das capacidades na função de combate Movimento e Manobra.
Para tanto, foram previstos exercícios até 2028, com alternância do país executante. No Brasil, há a previsão de que a operação seja realizada em diferentes biomas ao longo das edições que ocorrerão no país.
Para a consecução da supracitada linha de esforço, o Comando de Operações Terrestres (COTER), por intermédio da Chefia do Preparo da Força Terrestre, é o responsável, no âmbito do Exército Brasileiro, pelo gerenciamento e pela coordenação da participação da tropa, além da supervisão de suas respectivas atividades de capacitação.
Dessa forma, no ano de 2020, o primeiro produto desse macroprocesso teve início com a chamada Operação CULMINATING, realizada no início de 2021. Nessa atividade, uma subunidade da Brigada de Infantaria Paraquedista foi integrada a um batalhão americano em uma rotação para a certificação de tropas no JRTC (Joint Readiness Trainning Center), localizado em Fort Polk, Leesville, Louisiana, EUA. Naquela operação combinada, 200 militares do Exército Brasileiro foram certificados como tropa em prontidão, de acordo com os rígidos critérios do Exército americano, demonstrando o seu alto grau de adestramento.
Ainda nesse contexto, e conforme os entendimentos previstos no ano de 2021, foi realizada a Operação CORE 21. Nessa oportunidade, uma subunidade americana operou integrada a um batalhão da 12ª Brigada de Infantaria Leve Aeromóvel, sob comando do Exército Brasileiro.
A CORE 21 foi realizada na região do Vale do Paraíba, entre os dias 28 de novembro e 18 de dezembro de 2021, cujo encadeamento de ações foi baseado em um quadro tático hipotético de uma operação aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU.
Finalizando nossa linha do tempo, chegamos à Operação CORE 22. Essa atividade será realizada no JRTC durante o mês de agosto deste ano. A tropa brasileira será constituída por uma subunidade composta por militares da 12ª Brigada de Infantaria Leve Aeromóvel, que estarão inseridos no quadro tático do 2º Batalhão do 506º Regimento de Infantaria da 3ª Brigada da 101ª Divisão Aeroterrestre norte-americana.
À semelhança do que foi realizado nas edições anteriores da CORE, houve um processo de seleção criterioso, baseado em rígidos parâmetros como conhecimento técnico-profissional e condicionamento físico dos participantes.
Além disso, quanto ao processo de seleção, vale ressaltar que, nesse exercício, têm sido empregadas as tropas da FORPRON, que são as mais bem preparadas e equipadas do Exército Brasileiro, o que ratifica o acerto na condução desse importante projeto da Força Terrestre.
O processo de preparação para a Operação CORE 22 esteve norteado pelas Operações ARATU. Nesse contexto, foram realizadas, no primeiro semestre de 2022, três ARATU, sendo as duas primeiras no Vale do Paraíba e a terceira no Campo de Instrução de Formosa (CIF). Nessa última, considerada a mais importante, a Equipe de Coordenação e Ligação buscou a região brasileira que mais se assemelhasse àquela que a tropa encontraria nos EUA.
Dado o exposto, podemos verificar que o Exército Brasileiro está preparado para mais uma edição da CORE, não somente pelo histórico de combate e de adestramentos que o conecta ao Exército dos EUA, mas também pela capacidade de seus quadros para mais um desafio de representar o Brasil em terras estrangeiras.
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1 Funcionou inicialmente na Fortaleza de São João – Urca (RJ)
2 Sistema de controle do tiro dos canhões que foram projetados para alvos móveis e que na artilharia de costa e antiaérea, teriam que atirar em alvos em movimento.
3 É um dos produtos da abordagem operativa que mais simbolizam a ligação do componente conceitual com o detalhamento do planejamento.
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Sobre o autor:
Ten Cel Dardano do Nascimento Mota – Oficial de Comunicações, Turma AMAN 2000. Manutenção de Material Bélico (EsMB 2003), Básico de GE (CIGE 2004); EsAO 2009; Especialização em Gestão (EsIE 2013); CCEM 15/16.