Tenente Sidnei Lugão de Santana
Uma das principais características da era do conhecimento é o reconhecimento da importância do capital humano como o maior patrimônio de uma instituição. Dessa forma, a busca pelo aperfeiçoamento da gestão de pessoal constitui-se em uma das principais ações a serem desenvolvidas para a consecução desse objetivo.
Desde a década de 90, o Exército Brasileiro (EB) vem envidando esforços no sentido de fomentar a importância da habilitação em idiomas estrangeiros em seus quadros, como o reconhecimento do credenciamento em língua estrangeira, incluído no Sistema de Valorização do Mérito (SVM) utilizado nos vários processos seletivos que fazem parte da carreira dos militares da Instituição. Esse investimento contrasta com o que vem ocorrendo no panorama nacional, principalmente quanto ao domínio do idioma inglês pelos brasileiros.
Em uma pesquisa recente, tendo como parâmetro os países de língua não inglesa e o domínio do idioma inglês por parte de sua população, verificou-se que o Brasil ocupa a 60ª (1) posição no ranking, sendo definido como um país de “proficiência baixa”. Ao ser comparado aos demais países emergentes que compõem o BRIC (Rússia, Índia e China), essa discrepância se acentua ainda mais, fazendo com que o nosso país ocupe o último lugar entre eles.
O domínio de um idioma estrangeiro capacita o militar a participar de uma missão no exterior, permitindo-o representar o Brasil e o Exército Brasileiro (EB) e aumentar a projeção do país no cenário internacional. De acordo com a Diretriz para as Atividades do Exército Brasileiro na Área Internacional (DAEBAI), a Instituição, ciente da importância da participação brasileira no cenário mundial, realiza a seleção de seus militares tendo por base os objetivos que podem ser atingidos no país amigo quanto aos aspectos capacitação, cooperação, integração e novas oportunidades. Dessa forma, tem sido notório o papel relevante realizado pelos militares do EB designados a cumprir as mais diversas missões no exterior. A demonstração de competência profissional e a aquisição de novos conhecimentos por parte dos militares retroalimentam os recursos humanos da Instituição e estão em consonância com a visão de futuro do Exército: “ser um Exército capaz de se fazer presente (…) dotado de meios adequados e profissionais altamente preparados, (…)”.
Portanto, a habilidade linguística, aliada ao investimento da Instituição no direcionamento dos objetivos a serem alcançados, tem contribuído para o sucesso dos militares designados para as diversas atividades internacionais, sejam de natureza diplomática, militar ou administrativa. No entanto, como em todo processo, o aperfeiçoamento deve ser uma atividade contínua, pois são percebidas diferenças na cultura organizacional de vários exércitos, principalmente naqueles cujos países fazem parte do “Arco do Conhecimento”, como a América do Norte e a Europa.
Um exemplo são as atuações funcionais do Sergeant Major (SM, sigla em Inglês) nos exércitos daqueles países, principalmente nas operações, uma vez que o Non-Commissioned Officers (NCO, sigla em inglês) possui uma interação mais ampla do que o seu congênere brasileiro, conforme se observa em vários documentos operacionais americanos como o ATP 6-0.5 e o Training Circular (TC) 7-22.7: (The Noncommissioned Officer Guide) (4). A adequação da unificação da função de Sergeant Major foi estabelecida, também, para os exércitos dos países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), principalmente quanto às ações conjuntas. O Exército Inglês, por exemplo, mesmo não possuindo a graduação de Sergeant Major (como ocorre nos EUA) em seus quadros, adequou a função à graduação de Warrant Officer (WO, sigla em Inglês), aumentando sua interoperabilidade com os outros exércitos.
O cenário internacional atual aponta para uma possível reestruturação das atividades militares no exterior, principalmente no período denominado pós-covid. Em uma publicação do EBlog (o Blog do Exército Brasileiro), de 9 de abril de 2019, cujo tema era “Brasil e OTAN: uma análise da possível parceria (2)”, o autor assinala que uma possível oportunidade brasileira com uma aliança permitiria o acesso direto ao sistema de ensino da organização, além do fortalecimento das capacidades militares do EB. A OTAN continuamente fomenta programas de investimentos de capacitação dos graduados, por fazerem parte da parcela do efetivo profissional da maioria dos exércitos modernos, serem os principais responsáveis pela execução das ações descentralizadas da guerra moderna e atuarem como “técnicos” responsáveis pela utilização precisa dos mais modernos equipamentos de cunho tecnológico,
Um desses exemplos é o sistema de desenvolvimento profissional de graduados ocorrido antes da intervenção militar russa, conceituado “um importante elemento de transformação das Forças Armadas ucranianas”, sobre o qual o Ministro de Defesa e Chefe de Estado ucraniano, à época, afirmou: “O treinamento e a profissionalização de soldados e suboficiais ucranianos são extremamente importantes para o sucesso da reforma geral da defesa nas forças armadas, bem como para alcançar a interoperabilidade com a OTAN, tendo em vista que a profissionalização de sargentos também é vital para operações eficazes antiterroristas (3).”
A preparação do graduado do EB, portanto, deve buscar a similaridade da estatura técnico-profissional dos principais atores militares internacionais, principalmente após exercícios e atividades como a Operação Culminating, resultado de um acordo bilateral entre o Exército Brasileiro e o dos Estados Unidos, cujas tratativas foram iniciadas em 2015 e a execução realizada em 2021. A operação teve por objetivo, dentre outros, o envio de uma subunidade da Brigada de Infantaria Para-quedista (Bda Inf Pqdt) para participar de um exercício em um batalhão da 82ª Airborne Division, tropa de elite do Exército Americano. No exercício, os graduados brasileiros travaram uma proximidade operacional com os non-commissioned officers (NCO, sigla em inglês), o que proporcionou subsídios suficientes para uma possível adequação das atividades e ações desenvolvidas naquele evento, contribuindo para a evolução do preparo da Força Terrestre brasileira em futuras operações multinacionais.
A unidade de comando, aliada à preparação desses profissionais com as demandas atuais, tem sido impulsionada pelo Exército Brasileiro, como o Programa Força de nossa Força, inserido no subportifólio Dimensão Humana, que tem a finalidade de ATRAIR, RETER e MOTIVAR os graduados, em particular, durante o período de sua carreira.
Todavia, há a necessidade de haver mais ações quanto à capacitação e interação de nossos graduados com outros exércitos, cujas premissas são essenciais para o enfrentamento dos atuais desafios decorrentes das operações no amplo espectro. Espera-se que nossos graduados estejam preparados para as demandas presentes e futuras e que possam viver um período profissional fomentado pelo estudo e pela preparação contínuos, no âmbito de sua responsabilidade, para que estejam capacitados a atuar na garantia da defesa nacional, nossa missão precípua, assim como no cenário internacional, visando à superação dos desafios apresentados no século XXI.
Bibliografia:
(1) https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2022/04/5003937-brasil-figura-no-grupo-de-paises-com-baixo-dominio-da-lingua-inglesa.html
(2) http://eblog.eb.mil.br/index.php/menu-easyblog/brasil-e-otan-uma-parceira-possivel-1.html
(3) htpps://www.nato.int/cps/en/natohq/news_129998.htm?selectedLocale=en
TC 7-22.7 – The Noncommissioned Officer Guide – 2015
The Sergeant Major of the Army – 2013
Sobre o autor
Tenente Sidnei Lugão de Santana Tenente Sidnei Lugão de Santana O 1º Ten QAO Sidnei (Lugão) de Santana atualmente exerce a função de Adjunto da Seção de Planejamento e Inteligência da 5ª Subchefia do EME. Exerceu a função de Adjunto de Comando da 5ª SCh do EME (2019-2020). Foi Auxiliar de Adido na Representação diplomática junto à República da Nigéria e Instrutor na Jungle and Amphibious Training School (JATS), na República da Guiana.