Ten Cel Angelo André da Silva
“Nenhuma máquina é melhor do que um homem com uma máquina.” Richard Bookstaber, Massachusetts Institute of Tecnology (MIT)
O Núcleo do Centro de Educação a Distância do Exército (NuCEADEx) iniciou suas atividades em 1º de julho de 2015, ocupando as dependências da antiga sede da Escola de Comunicações (EsCom), dentro da estrutura do aquartelamento que hoje sedia a Escola de Sargentos de Logística (EsSLog).
Sua orientação de funcionamento, como projeto de implantação organizacional, visou dotar o Sistema de Educação e Cultura do Exército (SECEx) com uma organização militar que atuasse na coordenação e orientação da Educação a Distância (EAD) e contribuísse com o processo de capacitação dos recursos humanos no âmbito do Exército.
Em 20 de julho de 2015, o NuCEADEx foi transformado em Centro de Educação a Distância do Exército (CEADEx) por meio da Portaria nº 900 do Comando do Exército. A criação deste Centro procurou atender a macro-objetivos contidos no Planejamento Estratégico do Exército para os anos de 2016 a 2019, dentre eles a implantação de um novo e efetivo Sistema de Educação e Cultura.
O CEADEx, estabelecimento de ensino subordinado diretamente à Diretoria de Educação Técnica Militar (DETMil), oferece suporte técnico-pedagógico em EAD, proporcionando eficiência e racionalização no preparo de profissionais e otimizando a formação, o aperfeiçoamento e a extensão/especialização de militares do Exército.
Esses primeiros parágrafos descrevem bem a gênese e os primeiros passos dados por essa recém-criada OM do Exército Brasileiro. Contudo, essa descrição não consegue abranger o alcance exponencial que o CEADEx obteve nos últimos dois anos. O contexto da pandemia de covid-19 gerou uma demanda pela criação de salas de aula virtuais, que tornou superlativos todos os números do Centro. A plataforma EBAula tem hoje mais de 1200 cursos, de 15 concursos e de 65 escolas que incluem não só os estabelecimentos de ensino, centros de instrução e OMs com encargos de ensino, mas também os órgãos de direção geral, setorial, operacional e de assistência direta e imediata. Ela integra, ainda, mais de 80 mil alunos lotados na Força Terrestre, na Marinha do Brasil, na Força Aérea, na Polícia Militar, nos Bombeiros Militares, na Guarda Municipal e nas Forças Armadas Estrangeiras, além de um expressivo público civil que atua ou não nas Forças.
O efeito de segunda ordem causado por essa demanda tecnológica emergencial produziu frutos que ainda não estavam no radar do SECEx como um todo, mas que serviram para dar um enfoque a iniciativas pontuais visando à continuidade do processo ensino-aprendizagem, mesmo diante das restrições enfrentadas naquele momento.
Nesse contexto, a Educação Assistida por Tecnologias Digitais emergiu como uma solução agregadora, que nunca teve a intenção de substituir o ensino tradicional, mas a de potencializar o ensino por competências.
Ferramentas como realidade virtual, realidade aumentada, gamificação e inteligência artificial passaram a fazer parte da criação e ampliação de conteúdos, possibilitando maior protagonismo por parte do discente, que pode dispor de mais oportunidades de “aprender fazendo” e suplantar as horas de prática previstas nas sessões de instrução.
A gravação de aulas em estúdios próprios ou salas improvisadas, acompanhada por plataformas institucionais como o EBLive ou o Big Blue Button, também passou a oferecer maior segurança na transmissão de assuntos sensíveis presentes em uma instrução militar. Tais dispositivos são permitidos até mesmo pelo modo Bring Your Own Device (BYOD), quando alunos e instrutores podem utilizar seus próprios aparelhos eletrônicos nas instruções por estarem mais familiarizados com o seu uso. Todas essas possibilidades levaram inúmeras escolas dos mais variados Comandos Militares de Área a buscar o Centro, na Guarnição da Vila Militar, na cidade no Rio de Janeiro, para não ficarem de fora da transformação digital que está em curso na Educação.
As exigências dos entusiasmados instrutores são muito heterogêneas, pois o Exército possui capacidades muito distintas que vão desde a Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear (DQBRN), passando pela preparação de Auxiliares de Adido e pela Equitação, até chegar aos Cursos de Ações de Comandos e de Forças Especiais. Todos têm disponível uma parte do curso no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA).
Ano passado, o CEADEx criou o Estágio de Tecnologias Digitais da Educação, com carga horária de 120 horas, aberto para voluntários mediante o envio de requerimento para a Diretoria de Controle de Efetivos e Movimentações (DCEM). O estágio ocorre uma vez por semestre, sendo oferecidas 50 vagas para oficiais e 50 para subtenentes e sargentos. Algumas expressivas iniciativas dos concludentes dos estágios de 2021 e 2022, em seus respectivos estabelecimentos de ensino, já estão estimulando a vinda de novos estagiários para os próximos turnos.
Outra possibilidade de “romper marcha” nas Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) é por intermédio da Capacitação em Tecnologias Digitais da Educação (CTDE). É uma habilitação que pode ser adquirida em apenas 50 horas e está disponível, também, aos cabos e soldados, considerados “nativos digitais” (jovens de 10 a 25 anos) por já terem nascido em um mundo digital.
Por fim, após os argumentos compartilhados neste texto, é possível perceber que o CEADEx é mais que um Centro de Educação a distância do Exército. Em um cenário que, sobretudo, o nativo digital é bombardeado por “lixo cognitivo” por todos os lados, o Centro pode ser considerado um polo difusor da educação mediada por tecnologias digitais, que podem ser empregadas no ensino a distância ou presencial, contribuindo para atrair o recurso mais escasso na atualidade, que é a ATENÇÃO.