Tenente Jonathan Jayme / CECOMSAER
O terreno está ocupado por insurgentes armados. E um dos combatentes, vítima de emboscada do inimigo, necessita de apoio médico. O cenário simulado e desafiador para os militares da Força Aérea Brasileira (FAB) integra o curso de Atendimento Pré-Hospitalar Tático (APHT), no âmbito do Exercício Conjunto (EXCON) Tápio 2021, realizado na Base Aérea de Campo Grande (MS).
Mais de 50 militares Operadores de Busca e Salvamento são treinados na prática para atuarem em resgates de vítimas, em diferentes níveis de complexidade e ameaças, em áreas de conflito. As equipes são avaliadas em situações de fogo ativo simulado; nos cuidados médicos no Campo Tático; e nas práticas de CASEVAC (da sigla, em inglês, para Casualty Evacuation), que consiste na evacuação de uma vítima do local da lesão para uma instalação médica mais próxima.
Na simulação – onde há a presença de possíveis forças paramilitares, em situação similar às missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) – é feita a recuperação de combatentes não treinados em Busca e Salvamento em Combate (CSAR, do inglês Combat Search and Rescue). Ou seja, militares que necessitam de apoio médico, por meio do modal aéreo, em áreas de predomínio das forças aliadas com a presença de inimigos armados.
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O Coordenador do APHT na EXCON Tápio 2021 e Chefe da Subseção de Saúde Operacional do Grupo de Saúde da Base Aérea de Campo Grande, Major Médico Mauro Pascale de Camargo Leite, explica que a atividade é mais uma das técnicas, táticas e práticas que são empregadas em Ações de Força Aérea, como as Ações Diretas, as Evacuações Aeromédicas e Busca e Salvamento (SAR, do inglês Search and Rescue). “O treinamento tem esse objetivo: capacitar os operadores em técnicas e práticas no campo tático em condições de ameaça”, completa.
Atendimento e evacuação
Na pista de avaliação prática do curso, os militares são divididos em equipes com três componentes, que devem cumprir três etapas. No início do circuito, eles progridem no terreno em direção ao helicóptero que foi abatido pelos inimigos. A área está sob fogo dos insurgentes e os primeiros cuidados devem ser feitos empregando disparos de fogo de cobertura. O time tático estabelece quais serão suas ações em campo.
A vítima, representada por um boneco de aproximadamente 80 kg, é levada para um segundo ambiente, passando por cuidados no campo tático. Na chamada zona morna, os combatentes reavaliam o ferido e seu quadro de gravidade. Os alunos do curso de APHT podem encontrar até 12 casos clínicos diferentes. “Nesse momento, as habilidades desenvolvidas na fase indoor do treinamento são avaliadas no sentido de consolidar conhecimentos individuais de modo coletivo”, acrescenta o Major Pascale.
Na última fase do treinamento, há a evacuação do ferido do local. A vítima, então, é conduzida até o helicóptero que fará o transporte. Na aeronave, o paciente pode ser avaliado quanto à saturação, pressão arterial e traçado cardíaco, com a utilização de quadros que simulam um monitor multiparamétrico, equipamento que faz a leitura dos sinais vitais.
“Nosso objetivo é proporcionar uma situação de estresse para que o militar consiga fazer os procedimentos que treinou nas oficinas e estabelecer tarefas que chegam o mais próximo daquilo que ele vai encontrar estando em combate”, reitera um dos responsáveis pela pista de avaliação prática do curso de APHT, Tenente Aviador Lucio Mauro Campos Silva Junior.
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Para terem melhor consciência do cenário em caso de acionamento real, após as avaliações no terreno de conflito simulado, os participantes do curso também passaram por treinamento em voos reais nas aeronaves H-36 Caracal e H-60 Black Hawk.
Resultados e certificação
A Subdiretora de Saúde Operacional da Diretoria de Saúde da Aeronáutica, Brigadeiro Médica Carla Lyrio Martins, lembra que a atuação da saúde no exercício tem se dado sob duas linhas de ação: a primeira, por meio do apoio, com a assistência direta aos participantes e, a segunda, na capacitação dos homens de resgate, como no APH Tático. “Como lições aprendidas, o adestramento, dentro da nossa trilha de capacitação, irá gerar a pronta-resposta, a capacidade de atuar assim que a demanda se apresentar e de atuar conjuntamente. Esse vai ser o nosso legado”, pontua.
A Diretora do Instituto de Medicina Aeroespacial, Coronel Médica Maria Mônica de Vasconcelos Queiroga, explica que a Organização Militar acompanhou o planejamento e a execução do curso para que ele seja certificado e replicado na FAB. “Toda essa interação entre Unidades do Comando de Preparo e da Diretoria de Saúde da Aeronáutica, transmitindo conhecimento e verificando o que podemos melhorar, é uma experiência bastante enriquecedora”, finaliza.
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Os procedimentos do curso de APHT seguem o que está preconizado pela Portaria Normativa Nº 16, de 12 de abril de 2018, do Ministério da Defesa (MD). O documento aprova a Diretriz de Atendimento Pré-Hospitalar Tático do Ministério da Defesa (MD) para regular a atuação das classes profissionais, a capacitação, os procedimentos envolvidos e as situações previstas para a atividade.
EXCON Tápio 2021
A primeira fase do EXCON Tápio ocorreu de 10 a 13 de agosto, no Campo de Provas Brigadeiro Velloso (CPBV), em Novo Progresso (PA), na região conhecida como Serra do Cachimbo. Já a segunda fase é realizada na capital sul-mato-grossense. As atividades operacionais ocorrem até o dia 3 de setembro e simulam um cenário de guerra.
A FAB emprega no Exercício cerca de 30 aeronaves das Aviações de Caça, Transporte, Reconhecimento e Asas Rotativas, além de quase 900 militares. São treinadas Ações de Força Aérea em uma possível participação da FAB em missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU), contribuindo para a ordem e a paz mundial e compromissos internacionais; garantindo a soberania, integridade territorial e defesa patrimonial; e provendo ajuda humanitária.
Fotos: Soldado Anderson Soares / CECOMSAER e Soldado Sebalho / BACG
Vídeo: Soldado Anderson Soares / CECOMSAER