Marcha da Vitoria
Após 70 Anos, de São João d'El Rey
até o Monumento aos Pracinhas
21 – 23 março 2014
Israel Blajberg
Final do séc. XVIII.
Tiradentes, aquele herói inebriado de liberdade, no dizer de Tancredo, lançou o primeiro grito de revolta, após Manuel Beckman, do Maranhão.
A bandeira dos Inconfidentes era branca com um triângulo e a inscrição "Libertas Quæ Sera Tamen" – "liberdade ainda que tardia". Como símbolo máximo de resistência foi adotada por Minas Gerais.
Mas a conspiração foi desmantelada e os réus acusados do crime de "lesa-majestade", com o Alferes Joaquim José da Silva Xavier assumindo a responsabilidade pela chefia do movimento.
Tiradentes pagou com a própria vida pelas suas ideias revolucionárias, sendo executado publicamente a 21 de abril de 1792 no Campo da Lampadosa.
Mas a Colonia já não poderia resistir por muito tempo explorando o Brasil e as Geraes, no dizer do poeta "peito de ferro onde palpita um coração de ouro"
Os séculos se passaram, e o sonho dos Inconfidentes foi realizado, de que o Brasil se libertaria da Metrópole, e haveria de se tornar uma grande nação.
Principios do séc. XXI – 2014.
70 anos depois estamos aqui reunidos, nesta São João d'El Rey de enorme capital simbólico, onde na Fazenda do Pombal veio ao mundo uma criança que se tornaria o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, e onde Alvarenga Peixoto, outro dos principais participantes da Inconfidencia Mineira exercia o importante cargo de ouvidor do Rio das Mortes, sendo casado com Bárbara Heliodora, de ilustre família ali radicada.
Nos planos dos inconfidentes, São João del Rei seria a capital da nova República, passando a sediar uma Universidade, já que Lisboa proibia terminantemente que a Colonia siquer imprimisse livros. E foi na Universidade Federal de São João d'El Rey que se realizou em 18 e 19 de março de 2014 o II SENAB – Seminário Nacional de Estudos sobre a Participação do Brasil na 2ª. Guerra Mundial, na universidade sonhada pelos Inconfidentes.
Viemos em viaturas militares antigas, sob as bandeiras da ABPVM, CVMARJ e GHFEB, reunidas no aquartelamento do 11º. Batalhão de Infantaria de Montanha, na mesma São João d'El Rey de onde partiu o 11º. Regimento de Infantaria – Regimento Tiradentes, em 1944.
Era o mesmo sonho libertário de Tiradentes que se repetia. O Brasil, pais rural, agricola e extrativista, havia sido atacado sem aviso por uma super-potencia militar da época. 2 séculos depois, outros inocentes perdiam a vida pela ação da intolerância, do desejo de dominação, de ideologias equivocadas. Sob o clamor popular, o Presidente Vargas declarou o estado de beligerância com as nações do Eixo, seguindo-se a formação da FEB – Força Expedicionária Brasileira.
Era uma madrugada escura, quando o Regimento que leva o nome glorioso de Tiradentes marchou para a estação, embarcando nos trens que levariam nossos bravos pracinhas para o Cais do Porto do Rio de Janeiro, onde os aguardavam os enormes navios-transportes de tropa.
O destino era incerto, sem saber se um dia voltariam, mas na certeza de que estariam combatendo o bom combate, pela liberdade e democracia do Brasil e do Mundo ameaçado pelo nazi-fascismo.
Para recordar esta epopeia, mais de 50 viaturas militares antigas reconstituíram o trajeto dos pracinhas mineiros, em um deslocamento de 3 dias com paradas para pernoite no 4º GAC de Juiz de Fora e 32º BIMtz de Petrópolis.
O destino final não foi o Cais do Porto, mas o singelo e simbólico Monumento aos Mortos da 2ª. Guerra Mundial, no Parque do Flamengo-RIO, onde repousam 467 herois brasileiros, que fizeram o sacrifício supremo da própria vida, e estão gravados no mármore mais de 500 nomes dos que morreram no mar e jamais tiveram um túmulo.
Uma formatura no 11 BIMth (Batalhão de Infantaria de Montanha) marcou a partida do comboio, com todo o batalhão formado no Campo de Parada. A Banda executava a Canção do Expedicionário ao desfilarmos, dirigindo-nos ao Centro onde percorremos a avenida principal com destino a Juiz de Fora.
Em Santos Dumont, uma passagem pelo 4º. Esqd Cav Mec, onde um grande grupo de crianças das escolas nos saudou com bandeirinhas do Brasil na saída da cidade com destino a Petrópolis.
No domingo cedinho, com faróis acesos e sob chuva descemos a Rio-Petrópolis, sempre sob apoio da área logística do Exército e da escolta de motociclistas do 1º. BPE. Era um domingo pela manhã, e as poucas pessoas que arrostavam o mau tempo nos dirigiam acenos, talvez ignorando o significado da grandiosa comemoração.
Ao passar pela Avenida Rio Branco quase vazia, veio nos a mente o desfile dos pracinhas, ao retornar para casa em 1945. A maior multidão jamais vista no Rio de Janeiro, o povo comprimindo as fileiras, reduzindo o dispositivo de 10 para 8 colunas, 6, 4 até que foi impossível manter o desfile em meio a explosão patriótica.
A FEB foi um divisor de águas na História do Brasil, com a volta a democracia. Precedida pela implantação da CSN, diversos marcos importantes se estabeleceram nos anos seguintes, como a criação do BNDES sucendendo a Comissão Mista Brasil – EEUU, e mesmo a criação da PETROBRÁS.
Encerrando a Marcha da Vitoria, uma Missa no Mausoleu comemorou o encerramento do Ano de Frei Orlando, o Capelão da FEB que perdeu a vida na Itália, e que dá seu nome honrado a uma rua de Copacabana, Capelão Álvares da Silva.
Uma pequena rua, onde significativamente se situa uma sinagoga, simbolizando a nossa rica diversidade, tão apreciada pelo escritor austríaco Stefan Zweig, autor de BRASIL PAÍS DO FUTURO, falecido em Petrópolis em 1942.
Após 70 Anos, a Marcha da Vitória de São João d'El Rey até o Monumento aos Pracinhas ficará gravada em nossos corações para todo o sempre.
Para a frente e para o alto !!!
MONTANHA !!!
Israel Blajberg
Rio de Janeiro – RJ