A imprensa iraniana informa que explosões foram detectadas na cidade de Isfahan, local de centrais nucleares, porém sem danos registrados. O incidente acontece dias após o Irã ter atacado Israel.
(DW) Israel lançou um ataque contra o Irã na noite de quinta-feira (18/04), segundo relatos da imprensa dos EUA. Segundo membros do governo dos Estados Unidos, citados pela mídia americana, os israelenses lançaram pelo menos um míssil contra o Irã e houve relatos de drones, mas autoridades iranianas evitaram falar em um ataque externo e minimizaram o episódio.
Veículos da imprensa iraniana, por outro lado, apontaram que foram registradas explosões em Isfahan, uma cidade na região central do país, que abriga bases militares e centrais nucleares.
Segundo a imprensa iraniana, defesas aéreas do país também teriam derrubado pelo menos três drones, mas não foram registrados danos significativos no país. Em várias cidades do país, como Teerã, o cotidiano seguia normalmente nesta sexta-feira, sem sinal de um ataque em larga escala.
A emissora estatal IRIB, minimizou os relatos, apontando que Isfahan está “segura e a salvo”. Outra agência iraniana confirmou medidas de defesa tomadas na base se Isfahan, que abriga caças americanos F-14 adquiridos antes da Revolução Islâmica de 1979.
Já a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) disse que não observou até o momento danos às instalações nucleares do Irã, confirmando os relatos iranianos.
Imagens divulagas pela mídia iraniana também mostraram canhões antiaéreos de prontidão próximo a uma usina de conversão de urânio em Isfahan, onde se localizam três pequenos reatores de fabricação chinesa. O local é utilizado para a produção de combustível para o programa nuclear civil iraniano. A cidade também abriga um local subterrâneo de enriquecimento de urânio que teria sido alvo de tentativas de sabotagem por parte de Israel.
O governo israelense não confirmou oficialmente a ação. Um membro da administração do premiê Benjamin Netanyahu, falando em anonimato, disse ao jornal americano Washington Post que a ação tem o objetivo de mostrar os iranianos que os israelenses têm capacidade de lançar um ataque no interior do Irã. O jornal The New York Times também afirmou ter ouvido duas autoridades israelenses que confirmaram o ataque.
Autoridades dos EUA, de forma anônima, disseram à Reuters que o país não está envolvido no ataque, mas que foi notificado por Israel sobre a ação.
Um alto funcionário iraniano disse à agência Reuters na sexta-feira, após o ataque israelense, que não há no momento nenhum plano de retaliação imediata e minimizou os relatos do ataque. “A origem estrangeira do incidente não foi confirmada. Não recebemos nenhum ataque externo, e a discussão parece mais uma infiltração do que um ataque”, disse a autoridade iraniana.
A ação marca uma nova escalada nas tensões entre os dois países e ocorre seis dias depois de o Irã lançar um ataque sem precedentes contra Israel. No último sábado (13/04), o regime de Teerã lançou cerca de 300 aéreas contra o solo israelense, entre drones e mísseis. Israel afirmou que conseguiu derrubar 99% das armas com seus sistemas antiaéreos e auxílio de aliados na região. Não foram registrados danos significativos e o Irã sinalizou antes mesmos de os drones alcançarem seus alvos que a ação seria limitada.
O Irã, por sua vez, afirmou que o ataque de sábado foi uma reposta a um bombardeio a um complexo diplomático do país em Damasco, no início do mês, que o regime atribuiu a Israel.
Líderes internacionais pedem cautela
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que é imprescindível “fazer todo o possível para que as duas partes evitem agravar as tensões na região”. “É absolutamente necessário que a região permaneça estável e que os dois lados se abstenham de futuras ações”.
Antonio Tajani, ministro do Exterior da Itália, pediu cautela aos dois lados e disse que iria discutir a questão junto a seus homólogos na cúpula dos países do G7, que está sendo realizada na cidade italiana de Capri. “Monitoramos de perto a situação”, afirmou a ministra canadense Melanie Joly, também presente no encontro.
O governo do Omã, país que mediou durante muitos anos as tensões entre o Irã e o Ocidente, condenou os “ataques israelenses” e criticou as “repetidas agressões israelenses na região”.
O Egito, que ao lado do Catar intermedia as negociações de paz entre Israel e o grupo extremista Hamas em meio à guerra na Faixa de Gaza, expressou preocupação com um possível agravamento nas hostilidades entre Teerã e Tel Aviv e alertou contra uma possível expansão do conflito na região.
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, disse esperar que prevaleça a calma no Oriente Médio. “Um agravamento significativo não é do interesse de ninguém”, declarou.
O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, pediu que os países do Oriente Médio trabalhem para assegurar que não ocorram novos agravamentos na região, mas evitou aprofundar seus comentários sobre o caso.
“Não sei e não quero dizer mais sobre isso do que algo que, para nós, é um princípio claro que deve valer para todos: cada um deve assegurar agora e no futuro próximo que não haja uma nova escalada na guerra.” Ele disse que Berlim conversará com “amigos e aliados” sobre a questão.
G7 sinaliza novas sanções ao Irã
Os Estados Unidos teriam informado os ministros do Exterior do G7 nesta sexta-feira de que Washington recebera informações “de última hora” sobre um ataque de drones israelenses no Irã.
A informação foi divulgada pelo ministro Tajani. O italiano disse que a notificação americana fez com que a pauta do encontro na manhã desta sexta-feira fosse mudada para que os ministros pudessem tratar da questão.
Tajani, porém, ressalvou que “não houve compartilhamento de informações por parte dos EUA sobre o ataque. Foi uma simples informação.”
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, no entanto, disse nesta sexta-feira que seu país não esteve envolvido na ação militar e não quis confirmar que tivesse sido informado previamente sobre o ataque.
“Não vou falar sobre isso, ao não ser que os EUA não estiveram envolvidos em nenhuma operação ofensiva”.
Os ministros do Exterior do G7 divulgaram uma nota conjunta reiterando o apoio à segurança de Israel e condenando “nos termos mais fortes” o que descreveram como “ataque [iraniano] sem precedentes contra Israel em 13 e 14 de abril, derrotado por Israel com a ajuda de seus parceiros”.
“Estamos de prontidão para adotarmos novas sanções ou outras medidas neste momento e em resposta a futuras iniciativas desestabilizadoras”, afirma a declaração.
rc/jps (ots)