O ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian, assina nesta sexta-feira (23) em Nova Délhi, Índia, a venda de 36 aparelhos Rafale, uma transação estimada em € 7,8 bilhões (cerca de R$ 28 bilhões).
Os aviões serão construídos na França, com data de entrega prevista a partir de 2019. A fabricante francesa Dassault tentou durante anos vender o mesmo modelo para o Brasil, que acabou optando pelo Gripen da Suécia, em 2013.
A Índia estudava há anos uma reforma da frota aérea, que está se tornando antiquada e pequena demais diante das ameaças regionais. Uma das preocupações das autoridades são as recentes ofensivas militares do Paquistão na Caxemira, área disputada pelos dois países desde o final da colonização britânica na região.
O momento do anúncio da compra é significativo: nos últimos quatro dias, dezenas de militares paquistaneses atravessaram a fronteira da Caxemira e um grupo conseguiu entrar em uma base indiana, matando 18 soldados.
Nova Délhi estuda uma resposta, mas mesmo diante do perigo da escalada da violência entre dois países detentores de armamentos nucleares, o exército indiano cogitou a possibilidade de utilizar aviões de caça para bombardear acampamentos terroristas paquistaneses.
O Rafale poderia ser um bom instrumento para essa ação, explicou à RFI Rumel Dahiya, diretor-adjunto do Instituto de Estudos e Análises Militares de Nova Délhi. “O avião seria um caça capaz de assegurar a dominação aérea, além de ter armamentos para proteger o exército contra outras ameaças aéreas de longa distância. O aparelho pode assim manter o céu sem obstáculos para avançar sobre terreno inimigo. É esse o papel de um caça ‘multiuso’ como o Rafale”, diz.
Já o Paquistão denunciou na quarta-feira (21), na ONU, a “corrida às armas sem precedentes” da vizinha. A Índia foi, efetivamente, a maior importadora de armas do mundo na última década, não por causa das necessidades estratégicas, mas também porque o país produz pouco no próprio território.
Isso deve mudar, pois Nova Délhi impõe atualmente aos fornecedores o investimento de metade do valor dos contratos na indústria local, a fim de poder produzir, no futuro, suas próprias armas.
Brasil prefere caça sueco Gripen
O governo francês tentou vender os caças Rafale ao Brasil quando a FAB anunciou licitação para a renovação de sua frota. O então presidente Nicolas Sarkozy chegou a ir ao Brasil para participar das comemorações do 7 de setembro de 2009 com a esperança de conseguir o contrato junto a Lula. Mas Brasília acabou preferindo os aviões suecos Gripen, batendo o martelo com a fabricante Saab, em 2013.
Após fracassar contrato com Brasil, venda de Rafale para Índia e Egito mostra vigor da indústria francesa¹
O jornal econômico Les Echos dedica várias páginas de sua edição de 13.abril.2015 para explicar o sucesso da venda de 36 Rafales para a Índia, segundo país a comprar o avião de caça francês. Em fevereiro do mesmo ano (2015), o Egito encomendou 24 aparelhos.
Além de relatar os bastidores da negociação entre Paris e Nova Déli, o jornal destaca que a venda do Rafale ao governo indiano vai aliviar o orçamento do ministério da Defesa, já que o governo francês deixa de ser o único cliente do caça fabricado pela empresa Dassault Aviation.
Um em cada quatro aviões Rafale produzido na fábrica de Mérignac, sudoeste da França, será destinado à exportação, observa o jornal. Esse número poderá aumentar se outros países também decidirem comprar o modelo de caça francês, escreve o diário.
Depois do fracasso para a venda dos aviões ao Brasil, o anúncio do contrato, feito durante a visita do primeiro-ministro indiano Narendra Modi a Paris, abre perspectivas ainda mais otimistas para o Rafale, já que negociações estão em curso com Nova Déli para a compra de um total de 126 aparelhos, sendo que 108 deverão ser montados na Índia.
Lições de um sucesso
Segundo Les Echos, o Rafale era um avião "maldito" e símbolo do fracasso de um país arrogante, que "passava seu tempo a conceber produtos com tecnologia de ponta, mas ao mesmo tempo caros e complexos".
O editorial do diário econômico destaca três lições adquiridas com as vendas para o Egito e a Índia: a primeira é de que a insistência vale a pena e não existe fatalidade quando o produto é bom, porque sempre encontra seu mercado.
A segunda lição é de que a França mostrou que é um ator importante em um setor estratégico e de forte crescimento. O país não tem uma indústria obsoleta, como regularmente apontam os críticos do governo.
E, por último, a venda do Rafale é uma prova bem sucedida da parceira de várias empresas com o Estado, que deu um exemplo de "pragmatismo discreto" nas negociações.
¹Publicado em 13-04-2015