No dia 5 de maio, a Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), em parceria com diversas organizações militares, associações e grupos ligados ao tema, realizou uma justa homenagem aos integrantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que atuaram na Segunda Guerra Mundial.
O evento, intitulado de “O Brasil na 2ª GM – III Tributo da EsPCEx aos nossos heróis”, foi aberto ao público e contou com diversas atividades, em especial uma encenação das batalhas ocorridas, uma exposição de viaturas antigas e atuais e palestras com a presença de Ex-Combatentes.
Dentro da programação, o 2º Batalhão de Polícia do Exército (2° BPE) realizou uma apresentação de motociclistas, com mostra de equipamentos do Exército, e a banda de música da Escola executou uma apresentação para o público.
O evento
Durante a Segunda Guerra Mundial, a FEB demonstrou toda a sua capacidade de adaptação às novas situações, adestrando-se e combatendo junto às Forças Aliadas, na defesa dos interesses brasileiros, em meio ao cenário político internacional conturbado. Seus integrantes, verdadeiros heróis, carinhosamente chamados de "Pracinhas", foram homenageados durante o evento na EsPCEx.
Teve destaque entre as atrações, a conversa com os Ex-Combatentes que estiveram presentes no teatro de operações da Itália. Os vitoriosos remanescentes detalharam seu dia a dia durante os difíceis dias da Guerra.
Uma fila imensa, formada por adultos e crianças, aguardava a oportunidade de conversar com os heróis. Foi um momento de admiração por todos e de culto aos nossos valores e tradições. Na região de Campinas, segundo a Associação dos Expedicionários Campineiros, existem, atualmente, cinco Ex-Combatentes vivos, e estiveram presentes o 3° Sargento Sylvio Rodrigues, o Cabo Francisco Rodarte e o Soldado Justino Alfredo.
População campineira marca presença
Cerca de 4.000 pessoas prestigiaram as atividades e puderam acompanhar a justa homenagem prestada aos nossos heróis, os “Pracinhas”. Ficou evidenciado a integração entre a EsPCEx e a sociedade campineira.
Em muitas ocasiões, percebeu-se a emoção do público presente em ver os três heróis participando de todas as atividades com lucidez e vibração. Em um dos depoimentos, o então Sd Alfredo comentou: “…eu considero que fui um herói. Pelo que passei, tive sorte de não morrer…”.
As atividades atraíram o público visitante de todas as idades. Crianças puderam conhecer as viaturas em exposição, andar de viaturas com seus pais e passear pela exposição. O grupo de motociclistas da H.O.G. Campinas, com cerca de 200 integrantes, chegou em comboio para participar do evento e ficaram admirados com a demonstração das motocicletas do 2° BPE. O público, como um todo, vibrou com a encenação das batalhas e com as palestras ministradas por historiadores.
Apoiaram a organização do evento, diversas organizações militares, a Companhia de Veículos Militares Antigos do Interior de São Paulo, a Associação dos Expedicionários Campineiros, o Círculo Militar de Campinas, o "Clube dos Generais" e os Grupos de Pesquisa e Reencenação Histórica Dogs Of War e Monte Castelo.
Ex-Combatente revive último tiro brasileiro em solo italiano, que ajudou a restabelecer a paz mundial.
O 20º Grupo de Artilharia de Campanha Leve (20º GAC L) comemorou, em 27 de abril de 2018, os 73 anos do Último Tiro da Força Expedicionária Brasileira (FEB), momento em que foi rememorada a ação histórica do então o 1º/2º Regimento de Obuses 105 Autorrebocado do III Grupo 105 FEB (como a Unidade era denominada à época), na Segunda Guerra Mundial, ocorrida em 29 de abril de 1945.
Durante a solenidade, no pátio de formatura do 20º GAC L, em Barueri, o responsável por conduzir a Última Missão de Tiro da FEB em solo italiano, o Coronel R/1 Amerino Raposo Filho, foi homenageado, bem como o Tenente R/1 Rubens Bera, ambos Ex-Combatentes.
A cerimônia contou com a presença de autoridades civis e militares, dentre elas, o General de Exército R/1 Rui Alves Catão, antigo Comandante do 20º GAC L; o General de Divisão Eduardo Diniz, Comandante da 2ª Divisão de Exército; e o General de Brigada Mário Fernandes, Comandante da 12ª Brigada de Infantaria Leve.
Ao recordar-se dos 73 anos do último tiro da Artilharia brasileira, reverencia-se, também, a memória de nossos Ex-Combatentes. Esse foi o dia em que a FEB mostrou que o brasileiro tem coragem para lutar pelos valores mais elevados da humanidade; o dia em que mostramos a nossa força diante do combate; o dia em que se provou que nosso valoroso e estimado País, representado pelos bravos combatentes da Força Expedicionária Brasileira, estava apto a vencer, graças ao heroísmo de bravos soldados, que constituiu um fator decisivo para restaurar a paz e a liberdade no mundo.
O Último Tiro de Artilharia em solo italiano
O excerto da matéria escrita por Valmiki Erichsen, Capitão de Artilharia, Ex-Comandante da 2ª Bateria do III Grupo, foi publicado no Jornal do Brasil em 28 de abril de 1946 e retrata bem essa vigorosa atuação de nossos militares. Nesse trecho, é descrito, em detalhes e de forma que não se encontra em livros didáticos, o combate travado e vencido à 1h 45min do dia 29 de abril de 1945.
“Estamos quase no fim da primavera. Os alemães descontrolados e atacados por todos os lados, procuram fugir para o norte. A Infantaria brasileira, sem dar trégua, persegue o inimigo na sua carreira desenfreada.
(…)
Às 13h, começou a se movimentar pela estrada o Batalhão. Tive a impressão de estar em uma boa poltrona de um dos nossos cinemas, pois foi uma avançada cinematográfica ao encontro do inimigo. Os nossos pracinhas, alegres e cantarolando, apinharam-se em cima dos tanques americanos. Talvez nenhum dos nossos pracinhas estivessem pensando que a morte poderia surpreendê-los 2 km à frente. Logo atrás, tinham os jipes dos Comandantes das Companhias e dos Observadores Avançados. Dos lados das estradas, desenvolvia-se a outra Companhia em coluna por um e a Companhia de Obuses ia após os jipes. Assim, ao lado do Comandante do Batalhão, assisti ao desenvolvimento de todos os elementos da batalha.
(…)
O Tenente Sá Eapp presenciou uma triste ocorrência quando o Tenente Monteiro, Comandante do Pelotão de Minas do 6º RI, foi atingido por diversos estilhaços de uma granada que arrebentou em cima deles. O Tenente Monteiro mandou este recado para a sua progenitora: 'Diga a mamãe que nunca tive medo.' Hoje, o Tenente Monteiro já é Capitão e acha-se completamente restabelecido.
(…)
Sem nada estar vendo, comandei uma rajada para a linha de fogo, a fim de mostrar aos Tedescos que possuíamos artilharia e acalmar um pouco os nossos. Mais tarde, vim a saber que estes tiros foram bastante eficientes, pois o número de soldados inimigos era tão grande que, em qualquer lugar que os tiros caíssem, teriam resultado positivo.
Suportaram os nossos infantes dois contra-ataques dos Tedescos, pois o Tenente Valença, com sua calma peculiar, satisfez a todos os pedidos de tiros solicitados. Assim, ajudamos muito a Infantaria a não recuar um palmo sequer.
Cessada um pouco a violência do combate, apareceram na estrada três oficiais alemães, que vinham em nome do General Picô, propor a rendição da já célebre 148ª.
(…)
Para os artilheiros, foi um prazer saber que um dos primeiros pedidos dos oficiais Tedescos era que os tiros de artilharia cessassem.
Às 17 h, começou o espetáculo que nunca sairá da memória dos que tiveram a felicidade de apreciá-lo. Era a rendição da 148ª Divisão de Infantaria Alemã.”
O Brasil saiu da neutralidade
Essas palavras do Capitão Erichsen tornam evidente a coragem de nossos homens frente à batalha e a numerosos inimigos que estavam sob o comando de Adolf Hitler, que tentava incutir no seu povo a doutrina da superioridade racial e da invencibilidade bélica; além de Mussolini, na Itália, com seus ideais de grandeza, pretendendo restabelecer o antigo e poderoso Império Romano.
O Brasil saiu da neutralidade para dar uma resposta, não só pelo navio brasileiro, o Taubaté, bombardeado e metralhado durante 70 minutos, numa ação de zombaria e provocação, mas por um objetivo maior. Na verdade, o Brasil saiu da neutralidade para dar uma resposta acima de seu interesse individual: foi uma resposta de solidariedade para com os países que vinham sendo oprimidos e humilhados. Uma resposta de que o inimigo não poderia exterminar povos inteiros por conta do mais leviano e indecente preconceito. Nossa resposta aos inimigos foi dada e custou muitas vidas. Ainda assim, foi decisiva, digna de honra e, acima de tudo, vitoriosa e libertadora.
Na Itália, entusiastas da FEB preservam a história dos brasileiros que combateram pela libertação do país.
Preservar a memória dos vultos históricos e de seus feitos em prol do Brasil é uma das diretrizes do Exército. Com esse objetivo, a instituição mantém viva a memória da Força Expedicionária Brasileira (FEB) e de seus 465 militares que tombaram em solo italiano entre 1944 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial.
Nesse contexto específico, cabe ressaltar o papel desempenhado por estudiosos e pesquisadores da trajetória da FEB na Itália, a exemplo do ítalo-brasileiro Mario Pereira e do italiano Giovanni Sulla. O primeiro deles tem raízes diretas com os Pracinhas. Seu pai, o então Sargento Miguel Pereira, foi um dos 25.334 combatentes da Campanha na Itália. Ao término da guerra, casou-se com uma italiana, que deu à luz em 1959, na cidade de Pistóia.
Essa localidade abrigou um cemitério onde os Pracinhas que pereceram no conflito repousaram até o ano de 1960, quando seus despojos foram trasladados para o Monumento Nacional dos Mortos na Segunda Guerra Mundial, no Rio de Janeiro. No lugar do antigo cemitério, foi criado o Monumento Votivo Militar Brasileiro, inaugurado em 7 de junho de 1966, cujo primeiro administrador foi o pai de Mario, que manteve os nomes dos Pracinhas gravados em lápides e em um extenso paredão, margeado por um belo espelho d´água.
Em 1997, Mario Pereira assumiu a função, sendo contratado pela Embaixada do Brasil na Itália. Além de gerir o espaço e atuar como um entusiasmado guia para os visitantes, profere palestras sobre a FEB, na Itália e no Brasil, bem como criou um pequeno museu com relíquias da saga brasileira na Segunda Guerra Mundial, incluindo uma biblioteca, ambos em uma sala anexa ao Monumento Votivo.
O administrador não esconde a emoção ao comentar sobre a trajetória dos Pracinhas, salientando a importância de manter viva a memória dos combatentes. "Aqui nas regiões da Toscana e Emília-Romagna, a lembrança do sacrifício da FEB é algo ainda muito exaltado, mais do que no próprio Brasil, passando às novas gerações. Nos últimos anos, com a realização de palestras e outras atividades, procuramos contribuir para que os brasileiros conheçam mais essa bela história", destacou.
O italiano Giovanni Sulla também é um grande entusiasta da Força Expedicionária Brasileira. Autodidata, o historiador e pesquisador da história dos Pracinhas, que reside na italiana Montese, já escreveu livros e participou de vídeos sobre o tema, tendo recebido diversas condecorações das Forças Armadas do Brasil e de associações de veteranos de guerra. Da mesma forma, seu incansável trabalho foi fundamental para a criação de monumentos e museus sobre a FEB na Itália, colaborando para a preservação dessa página gloriosa de nossa história.
Giovanni Sulla define a si próprio como um apaixonado pela FEB e acredita que o reconhecimento dos feitos de nossos combatentes pela libertação da Itália do nazifascismo poderia ser maior no Brasil. "É uma história de heroísmo e solidariedade a um povo que sofria com a opressão. Muitos brasileiros derramaram seu sangue em nome de nossa liberdade, por isso merecem nossa gratidão eterna", lembrou.
Fotos: Gilberto Pagliarini, Eduardo Rodrigues, 20º GAC L e S Ten Edmilson – Fonte: Agência Verde-Oliva