Moisés Rosa
Portal MEON (SP)
Em uma sala de apenas 600 metros quadrados, localizada dentro do Parque Tecnológico, em São José dos Campos, uma empresa joseense está se destacando pela metodologia usada na projeção de vants (veículos aéreos não tripulados) e drones. Com a crescente do mercado, a indústria brasileira domina a tecnologia para produzir aeronaves não tripuladas. Apesar do "boom", a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) ainda estuda regulamentar a atividade.
Entre os principais clientes da empresa joseense estão o setor civil e militar. A FT Sistemas promete revolucionar o segmento com o lançamento de um helicóptero, em 2016. O investimento é de R$ 9,3 milhões.
A empresa "nasceu" após se instalar na incubadora do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Na época, ela possuía área de 20 metros quadrados e dois funcionários. Hoje, conta com mais de dez funcionários na atual estrutura.
Projeto
O protótipo do helicóptero não tripulado começou a ser montado a partir de janeiro de 2016, no laboratório da empresa em São José. A aeronave pesa 90 quilos e tem dois metros de comprimento, com potencial para ser usado em empresas privadas, instituições, setores de energia, agronegócios, monitoramento de rodovias, tráfego de lixo, fiscalização de obras, contrabando e tráfico de drogas, além da inspeção de redes de energias, atendendo às exigências da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
A ideia da produção surgiu a partir da necessidade dos setores em aplicarem estas ações. Uma das novidades é que a aeronave pode entregar cargas e chegar a 300 Km de alcance. Para a construção de cada helicóptero, o valor investido será de R$ 4 milhões.
"A atuação na área militar será, principalmente, para a Marinha e o Exército. No setor privado, notamos que ele pode ser empregado para a agricultura, no setor elétrico ou, até mesmo, na entrega de cargas, como remédios, documentos, etc. Desenvolvemos todo o projeto em São José e diversas empresas já se interessaram", diz o diretor-Presidente da FT Sistemas, Nei Brasil.
Para o próximo ano, a empresa já recebeu duas solicitações para a produção do helicóptero -modelo FT-200FH-, que será fabricado na própria unidade.
Desenvolvimento
O desenvolvimento dos protótipos é realizado de acordo com os pedidos. A projeção da aeronave é feita pelos engenheiros na sede da empresa e as peças são fabricadas em outras cidades ou, até mesmo, fora do país. É possível configurar o uso do helicóptero com base no pedido do cliente.
Genuinamente joseense, o diretor-Presidente afirma que o potencial da cidade no ramo tecnológico contribuiu para sucesso do projeto. "Nascemos de um arranjo que contava com o empreendedorismo da cidade, no qual ganhamos posição no mercado, e isso só ratifica a vocação do município para o desenvolvimento desses projetos", destaca Nei Brasil.
Além da empresa joseense, outras instituições e administrações municipais também estão aderindo à aquisição dos veículos não tripulados, como por exemplo, a Prefeitura de São José dos Campos, que utilizou, em 2014, drones para a fiscalização de terrenos no combate à dengue. A utilização foi paralisada por falta de regulamentação.
Um outro projeto de drone também foi desenvolvido por estudantes de engenharia da Univap (Universidade do Vale do Paraíba).
Regulamentação
As principais empresas do ramo de aviação aguardam a liberação e regulamentação da atividade, que está em tramitação na Anac. "Estamos [mercado] aguardando a liberação dos processos. Como a agência não tem condições de fiscalizações, a regulamentação está parada. Com essa autorização, o mercado terá capacidade de crescer ainda mais, criando oportunidades para toda a cadeia envolvida na formatação do projeto", explica o empresário.
“Um dos objetivos ao desenvolver o FT-200FH é ampliar as exportações, com a meta de faturamento entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões nos próximos dois anos", acrescenta.
Liberação
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Anac informa que o prazo da consulta pública se encerrou no início de novembro e as contribuições recebidas estão sendo analisadas pela equipe técnica da Agência.
"Após essa análise, será elaborado o texto final da regulamentação para aprovação da Diretoria Colegiada da Agência e posterior publicação da norma, que só então entrará em vigor", informa a nota.
Hoje, só é permitido operar drones quem possui autorização expressa da Anac ou um Cave (Certificado de Autorização de Voo Experimental). A Agência não soube estimar quantas pessoas possuem o equipamento, mas, no momento, são dez aeronaves remotamente pilotadas com autorizações emitidas, na Portaria nº 207/STE/1999, que regula a operação de aeromodelismo no Brasil. Já as demais, necessitarão de autorização.
Propostas
As autorizações serão divididas em três categorias, sendo: peso maior que 150 kg – as aeronaves deverão ser certificadas pela ANAC, registradas no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) e os pilotos deverão possuir Certificado Médico Aeronáutico (CMA), licença e habilitação. Todos os voos deverão ser registrados.
Para peso menor ou igual a 150 kg e maior que 25 kg, as aeronaves não precisarão ser certificadas, mas os fabricantes deverão observar os requisitos técnicos exigidos e ter o projeto aprovado pela Agência. Os modelos também deverão ser registrados no RAB e os pilotos deverão possuir CMA, licença e habilitação. Os voos também deverão ser registrados.
Nos casos de peso menor ou igual a 25 kg, as aeronaves devem ser operadas até 400 pés acima do nível do solo (aproximadamente 120 metros) e em linha visada visual. Serão necessários apenas cadastros (apresentação de informações sobre o operador e o equipamento). Não será requerido CMA, nem será necessário registrar os voos. Os pilotos devem ter mais de 18 anos.
Nos casos de atividades ilícitas ou invasão de privacidade, as ocorrências serão tratadas pelas autoridades de segurança pública competentes. Leia outras matérias da revista Metrópole Magazine.