Quando o Suboficial Edson de Almeida Coelho ingressou na Força Aérea Brasileira (FAB), em 1987, ele não imaginava fazer o que hoje faz parte da sua rotina: ouvir sons do fundo do mar. Atualmente no quadro de tripulantes das aeronaves P-3AM, ele é operador de sistemas acústicos. "O objetivo é simples de falar, porém difícil de realizar: detectar um submarino", conta.
Quando está em uma missão, o papel dele é se concentrar no que escuta com os seus fones de ouvido: ruídos enviados por sonobóias, equipamentos lançados pela aeronave para captar sons submarinos. Mas o que mais se ouve é a vida marinha. “O som mais peculiar é o de baleias. É um som bonito”, relata.
O treinamento constante permite que ele já consiga identificar, apenas pelo som, o que acontece no mar. “Ouvimos muita coisa. Ouvimos peixes… Tem camarões que produzem ruídos específicos, conhecidos no Brasil como camarões estaladores”, diz o Suboficial Coelho. “Quanto mais calmo e menos ruidoso estiver o mar, mais fácil vai ser para nós”, explica. Chuva, correntes marítimas, foz de rios e ecos causados pela proximidade do fundo do leito marinho atrapalham a escuta. “Em alto-mar, é bem mais fácil”, constata.
Outro desafio é conseguir identificar o som de um alvo em uma área de grande trânsito naval. “Navios de superfície atrapalham muito porque são mais ruidosos que submarinos, que tentam ser o menos ruidoso possível”, comenta o suboficial.
Jogo de Xadrez
Além dessas variáveis, fatores como a salinidade da água e a temperatura também afetam a lógica da guerra antissubmarino. As regras são conhecidas tanto pelas tripulações dos aviões de patrulha, como o P-3AM, quanto pelos submarinos, e esse tipo de combate se transforma numa verdadeira partida de xadrez.
“Se o submarino tiver indicação de que há alguma aeronave na área, ele vai se colocar em condição de extremo silêncio”, conta o militar. Isso significa se deslocar a baixa velocidade ou até desativar seus motores elétricos. O desafio fica maior com os modelos a propulsão nuclear, que podem passar mais tempo submersos. “Demanda muita paciência e muitas das vezes nós não conseguimos detectar”, explica.
Nesses casos, o papel do P-3AM é garantir que seu alvo não irá causar problemas. “A missão antissubmarino não é só detectar, atacar e destruir um submarino. Mas principalmente evitar que ele cumpra a sua missão”, explica. Segundo o Suboficial Coelho, garantir que um comboio de navio possa se deslocar de maneira segura já é uma vitória estratégica.
A paciência é outra característica da missão. Com autonomia para até 16 horas de voo, um P-3AM pode permanecer longos períodos na caça a submarinos.
Tecnologia
Mas não é só com os ouvidos que o Suboficial Coelho tenta localizar um submarino. Recebidos pela FAB, inicialmente em 2011, os oito aviões P-3AM do Esquadrão Orungan (1°/7° GAV), baseados em Salvador (BA), são capazes de realizar a detecção de submarinos. Modernizadas, as aeronaves contam com sistemas de bordo para facilitar esse tipo de missão.
Além dos fones de ouvido, o operador de sistemas acústicos a bordo desses aviões conta com o auxílio de um computador. “Não fica tudo no ouvido. Houve um tempo em que isso era mais ouvido. Hoje nós temos a capacidade de ter um processamento desse som em imagens”, lembra o militar.
Cada P-3AM conta ainda com outros equipamentos, como um radar e um sistema ótico capazes de localizar embarcações na superfície. Também há antenas para captar emissões eletromagnéticas, como sinais de rádio. E, utilizado quando é necessário determinar com precisão a localização de um submarino, há um detector de anomalias magnéticas, um “ferrão” localizado na parte de trás da aeronave que é capaz de identificar objetos metálicos submersos.
Treinamento
Antes de cumprir suas primeiras missões a bordo do P-3AM, o Suboficial Coelho fez, em 2009, um curso de dez meses na Espanha, onde as aeronaves foram modernizadas. Em seguida, realizou dois meses de treinamento com a Força Aérea Portuguesa, que também utiliza o modelo.
Sua maior realização aconteceu no exterior, nas gélidas águas da Escócia. A FAB participou do exercício Joint Warrior, em 2013, da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Durante o treinamento, o Suboficial Coelho conseguiu, mais de uma vez, identificar submarinos nucleares de potências internacionais. “É uma realização profissional porque a missão é realmente difícil”, afirma.
Com 12 anos de experiência na Aviação de Patrulha, o militar atuava antes no Esquadrão Phoenix (2°/7° GAV), de Florianópolis, como operador de sistema de guerra eletrônica. Entre 2003 e 2008, sua função era analisar emissões eletromagnéticas. Agora, ao ouvir sons do fundo do mar, ele se considera no ápice da sua carreira. "Essa atividade no Esquadrão Orungan é a mais desafiadora e a mais gratificante", diz o militar, com 28 anos de serviço na FAB.
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