Stella Fontes
Valor — São Paulo
10 Novembro 2020
O foco na Embraer no curto prazo permanece na preservação de caixa e não é possível prever qual será o impacto da segunda onda de covid-19 nos negócios, disse o presidente da fabricante de aeronaves, Francisco Gomes Neto, em teleconferência na terça-feira (10NOV2020) para comentar os resultados do terceiro trimestre. “Em paralelo, estamos nos preparando para ter uma performance financeira bem melhor em 2021 e crescer nos anos seguintes”, comentou.
Conforme o executivo, a companhia segue em busca de se tornar uma organização mais simples e eficiente e de recuperar todas as sinergias com a área de aviação comercial, que havia sido segregada no início do ano como parte do acordo com a Boeing. O fim do acordo foi anunciado pela companhia americana em abril, abrindo uma disputa entre as ex-futuras sócias na arbitragem.
“Temos feito todos os esforços para manter talentos mas, diante da nova realidade de mercado, tornou-se imprescindível rever a equipe. Fizemos um ajuste importante no último eliminando também as duplicações na aviação comercial”, afirmou Gomes Neto. A companhia já efetuou 2,5 mil desligamentos, considerando-se três programas de demissão voluntária, e reconheceu gastos de R$ 292,5 milhões no terceiro trimestre relacionados a esse ajuste. Esse valor representa 80% do dispêndio com demissões e os 20% remanescentes serão reconhecidos no quarto trimestre.
Com a continuidade da crise desencadeada pela covid-19, não é possível afirmar que a Embraer não promoverá mais demissões, depois do forte ajuste realizado no terceiro trimestre, de acordo com o vice-presidente de Pessoas e Sustentabilidade da companhia, Carlos Alberto Griner.
“Temos feito o possível para preservar empregos, mas a gente não tem controle sobre a crise e a crise não acabou. É difícil, neste momento,fazer uma afirmação para um lado ou para o outro”, afirmou.
O vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Embraer, Antonio Carlos Garcia, disse ainda que praticamente todos os custos com a segregação da área de aviação comercial em uma empresa independente, por causa do acordo com a Boeing, já foram reconhecidos, mas há um valor remanescente pouco significativo, relacionado ao prazo de pagamento.
Conforme Garcia, a companhia já está capturando as sinergias de reincorporação da aviação comercial e a posição de caixa ao fim do terceiro trimestre, de R$ 12,3 bilhões, dá conforto financeiro para a companhia em 12 meses ou 18 meses. Não há previsão, neste momento, de captação de novos recursos no mercado.
O executivo reiterou que a Embraer tem um projeto “grande” no que se refere a gestão de estoques, que vai contribuir para a melhora na conta de capital de giro, assim como a renegociação de prazos com fornecedores e maior disciplina em relação às contas a receber.
Temos projetos ousados e com isso, vamos reduzir custos e liberar mais capital de giro. Por isso, mesmo com um ano desafiador, esperamos ter uma performance financeira muito melhor em 2021”, acrescentou Francisco Gomes Neto.
De acordo com Garcia, o fluxo de caixa livre da companhia será “muito melhor” no quarto trimestre, à medida que as entregas se recuperem e itens extraordinários que foram registrados no terceiro trimestre, como os elevados gastos com desligamento de pessoal, não se repitam.
“Sem esses itens, o uso de caixa será muito parecido com o visto no terceiro trimestre de 2019. Estamos confiantes de que o fluxo de caixa livre será bem melhor no quarto trimestre, potencialmente alcançando o ponto de equilíbrio no acumulado do segundo semestre”, afirmou o executivo.
De acordo com Francisco Gomes Neto, o mercado de aviação doméstico e regional deve se recuperar antes dos demais mercados e a Embraer, com sua família de E-Jets, está bem posicionada para se beneficiar desse movimento. “Por isso, acreditamos que temos uma boa chance assim que o mercado se recupere”, disse.
Com a aceleração das entregas no quarto trimestre, a Embraer prevê redução dos estoques. Também há expectativa de que as entregas do Praetor se acelerem no fim do ano.
Jatos comerciais
Apesar do forte impacto da covid-19 no mercado de aviação, especialmente no segmento de jatos comerciais, a Embraer não registrou, até o momento, nenhum cancelamento de pedidos nessa área, de acordo com o vice-presidente financeiro e de relações com investidores da companhia, Antonio Carlos Garcia.
“Nossa postura é de certa cautela otimista para o futuro, pois vemos a recuperação de voos domésticos em vários mercados, especialmente nos Estados Unidos. Incertezas relacionadas à Covid-19 ainda são a maior preocupação para 2021”, disse o executivo.
Com a postergação de pedidos para o segundo semestre, em decorrência da pandemia, a previsão da companhia é de aumento das entregas de aeronaves no decorrer do segundo semestre.
Na aviação executiva, observou Garcia, as entregas seguiram em recuperação no terceiro trimestre e medidas de redução de custo implementadas desde o início da crise possibilitaram margem operacional positiva no intervalo. A companhia destaca a recuperação contínua nas operações de jatos de pequeno e médio porte, em particular nos mercados de fretamento e propriedade compartilhada.
Na divisão de Defesa e Segurança, observou o executivo, os seis C-390 Millennium, há hoje seis aeronaves em diferentes estágios de produção e a expectativa é a de que mais um cargueiro seja entregue para a Força Aérea Brasileira (FAB) ainda neste ano.
Ao fim de setembro, a carteira de pedidos da Embraer totalizava US$ 15,1 bilhões e, segundo Garcia, esse valor pode ser ampliado nos próximos trimestres em razão de campanhas de venda que estão em curso. “Esperamos um quarto trimestre ainda melhor que o terceiro trimestre em relação às entregas”, comentou, acrescentando que o prejuízo do intervalo reflete o menor resultado operacional, maiores despesas financeiras e o impacto da variação cambial. A reversão de baixas contábeis na aviação executiva e comercial registrada no terceiro trimestre deveu-se basicamente ao efeito do câmbio, explicou o executivo. “O resultado financeiro atingiu o menor patamar do ano no segundo trimestre e já começou a se recuperar”,
2021
Embraer está ciente dos desafios à aviação comercial no próximo ano, ainda na esteira da pandemia de covid-19, mas projeta a retomada do mercado de jatos no geral, disse Francisco Gomes Neto. “2020 é o ano de gerenciar a crise. A partir de 2021, esperamos que o mercado comece a se recuperar, a depender do segmento e da região, e em 2022, voltamos a crescer”, afirmou o executivo.
A Embraer está atualizando seu plano de negócios com base nessas premissas, que é “realista e tem metas desafiadoras, mas factíveis”, conforme seu presidente. “O plano tem dois objetivos principais: aumentar a receita e melhorar a rentabilidade”, acrescentou.
Para atingir esses objetivos, a Embraer está implementando ações que devem trazer ganhos de eficiência, que ampliem as vendas de seu portfólio atual e que possibilitem a diversificação dos negócios, por meio de inovação e novas parcerias estratégicas.
De acordo com Gomes Neto, o plano compreende 18 projetos no total, um deles voltado à constituição de uma organização de compras de classe mundial, que se reportará diretamente à vice-presidência financeira. Com maior eficiência na cadeia de suprimentos, maior giro de estoques e redução do ciclo de produção das aeronaves, que também está em discussão, a Embraer será mais eficiente em termos de capital de giro, observou.
Em outra frente, a companhia vai intensificar os esforços de venda de produtos existentes e novos, incluindo a conversão de aeronaves para segmentos específicos. Na terceira frente de ação, a meta é diversificar mais os negócios e continuar buscando parcerias para abertura de mercados e desenvolvimento de produtos, como no caso do novo turboélice. Segundo o executivo, ainda não há novidades em relação a potenciais parcerias neste momento.