Tenente Elias, Tenente Cristiane E Major Monteiro
A Diretriz do Comando da Aeronáutica (DCA) Nº 11-127/2020, publicada em fevereiro do corrente ano, estabelece os procedimentos e responsabilidades para a efetivação do dia 16 de julho como o Dia do Veterano da Força Aérea Brasileira.
A medida visa reconhecer homens e mulheres que vestiram o azul-aeronáutico com honra e dedicação de modo a valorizar os profissionais que labutaram em prol do engrandecimento da FAB ao longo de toda a sua história.
O termo “Veterano”, por sua vez, é comumente utilizado para designar alguém experiente, especificamente no meio militar, uma pessoa que serviu por muitos anos nas Forças Armadas. A palavra também tem a conotação de uma pessoa experiente ou de notório saber.
Tais homens e mulheres colocaram em evidência o Patriotismo, a Disciplina, o Comprometimento, o Profissionalismo e a Integridade, que se tornaram princípios que norteiam a Instituição, desde os Capitães Aviadores Parreiras Horta e Oswaldo Pamplona, envolvidos no ataque ao Barbarigo, e o Major Aviador Nero Moura, primeiro Comandante do Primeiro Grupo de Aviação de Caça (1º GAVCA).
Esses exemplos ajudaram a moldar os valores da FAB em todos os seus períodos e estruturas, até os dias atuais, trabalhando em prol do aperfeiçoamento contínuo, em defesa dos princípios constitucionais que motivam ao cumprimento da missão de “manter a soberania do espaço aéreo e integrar o território nacional, com vistas à defesa da Pátria”.
PIPAR mudará de sede: Novo local oferecerá melhorias na infraestrutura e no atendimento aos Veteranos
Ainda neste ano, a sede da Pagadoria de Inativos e Pensionistas da Aeronáutica (PIPAR) ocupará algumas instalações do Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos (PAMA-AF), no Rio de Janeiro (RJ). Até então, a PIPAR funcionava no Centro da capital fluminense.
Entre as mudanças na nova sede estão sendo inseridas importantes melhorias nas instalações físicas, que se tornarão mais apropriadas aos Veteranos, Pensionistas e pessoas que necessitam de cuidados especiais. O complexo contará com espaço para estacionamento interno e externo; reorganização das equipes de trabalho e automação de tarefas que são repetitivas. Outro benefício é que a nova sede fica na zona oeste da cidade, mais próxima do público de atendimento, uma vez que cerca de 20 mil vinculados residem em áreas das zonas Norte, Oeste e da Baixada Fluminense.
“As mudanças que estão ocorrendo na PIPAR têm como objetivo propiciar um melhor ambiente organizacional na assistência ao público interno e externo. Todo o trabalho está sendo focado na atualização e na modernização do ambiente da Organização, sendo necessário integrarmos os aspectos da estrutura física, tecnológica, a sua capacidade produtiva, colaboradores, hábitos da Organização e farto conhecimento”, destacou o Diretor da PIPAR, o Coronel Intendente César Fernandez dos Santos.
Todo o projeto foi realizado pelo Comando da Aeronáutica (COMAER) e pela Secretaria de Economia, Finanças e Administração da Aeronáutica (SEFA). “Tudo isso está se concretizando por conta de uma visão empreendedora, inovadora e realista de gestores que nos concederam a oportunidade de idealizarmos e realizarmos um sonho na criação de uma nova postura de trabalho da PIPAR”, ressaltou o Coronel César.
Nova estrutura
A nova estrutura é composta por um prédio principal e dois anexos. No principal, estão todas as atividades de assistência social, ouvidoria, protocolo, suporte psicológico e atendimento básico de saúde primária. Já os anexos serão dedicados ao apoio às atividades da nova Base de Recepção de Veteranos (BREVET), onde serão oferecidos diversos serviços aos Veteranos, como assistência social, religiosa e psicológica, serviço odontológico e atendimento básico de saúde. Também terá uma ampla área com espaço para encontros de Veteranos e turmas de formados de nossas Escolas.
“Com a idealização e a criação da BREVET, amplia-se o escopo da valorização de nossos militares. Inicialmente, nossos Veteranos terão um amplo espaço no antigo Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos, com ambiente humanizado e preparado para todos os atendimentos necessários. Tudo está sendo bem planejado e balizado em palavras como assistência, atendimento, qualidade, apoio, carinho, suporte, saúde, convivência, facilidade etc. Por fim, o objetivo principal desse conceito é o de melhor atender quem tanto fez pela nossa Força Aérea Brasileira”, concluiu o Secretário de Economia, Finanças e Administração da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno.
Histórico
A PIPAR foi criada em 1962 e tem a missão de efetuar o apoio administrativo, a operacionalização e o controle do pagamento dos proventos aos militares Veteranos e ao pessoal civil aposentado do COMAER, bem como aos pensionistas de militares e de civis nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, excluindo apenas os vinculados que são assistidos pelos Grupamentos de Apoio de Barbacena e de Lagoa Santa. Ao total, a Pagadoria atende, aproximadamente, 37 mil vinculados distribuídos em sua área de jurisdição. Somente no Rio de Janeiro são 27 mil pessoas atendidas pela sede, além de nove postos remotos de atendimento localizados em diversos bairros da cidade.
Depoimento de um Veterano:
O Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista, ex-Comandante da Aeronáutica e Veterano, cita um momento marcante de sua adolescência e que diz respeito a um outro Veterano, egresso da Segunda Guerra no dia 16 de julho de 1945, e que influenciou diretamente a sua opção de vida profissional.
Assim narra aquele memorável dia: “Em 1944 eu havia sido aprovado no concurso de admissão para o Colégio Militar do Rio de Janeiro, nas vagas não ocupadas, prioritariamente, pelos órfãos e descendentes diretos de militares do Exército Brasileiro. Vivíamos o pleno período da Segunda Guerra Mundial, na qual o Brasil entrara em 1942. Habitávamos em um país de 45 milhões de pessoas, com o dólar há muito valendo Cr$ 18,72.
O Rio de Janeiro praticamente acabava no Flamengo e Botafogo. Meu sonho, como o da maioria da juventude, era ser diplomata ou escorar o futuro na Marinha do Brasil, em ambas conhecendo o mundo e outros povos e costumes. Éramos cinco irmãos, quatro homens e uma mulher bem no meio. Meu pai era um comerciante bem sucedido, trabalhava quase sem descanso, mas folgava todas as sextas-feiras. Era o dia em que o cercávamos de atenção e acompanhávamos suas prosas com os amigos que apareciam. Ocorre que, a partir do jantar, a casa se enchia com os amigos dos irmãos mas, principalmente, com as amigas da minha irmã, que eram muitas. Dentre os amigos existia um, formado Sargento Especialista pela Escola, então no Galeão, que em poucas vezes compareceu ao sarau vistosamente fardado, despertando o interesse das meninas e a admiração da rapaziada.
O ponto alto da festa era minha irmã ao piano, revezando com uma jovem formidável que viria a ser minha cunhada. Em determinado dia o galante Sargento se despediu com a notícia de que iria para a guerra. Mario Rodrigues era o seu nome. Como? Que guerra? A partir daí passei a ler todas as notícias dessa que era a segunda, no mesmo século, entendendo que além dos pracinhas da FEB existia, naquele cenário um tal de Esquadrão Jambock, no qual o Mário ‘fazia os aviões de combate, tripulados por audazes pilotos brasileiros, voarem e combaterem no teatro da Itália’.
Gente abatida, aprisionada, com alto grau de precisão nos ataques a objetivos no solo. O Mário era o meu herói! Em 1945 chega a notícia de que a guerra acabara e que o meu herói iria chegar ao Brasil, sendo recepcionado junto com a FEB, na Avenida Rio Branco. Para lá me dirigi, sozinho e sem lembrar o tipo de condução usada. Postei-me perto da Rua do Ouvidor, misturado a milhares de cidadãos, homens e mulheres de todas as idades que vibrariam com o desfile que dali a pouco se realizaria a partir do desembarque na Praça Mauá, na direção do Obelisco.
De repente avisto um caminhão, dentre muitos que conduzia, com capota aberta e bancos laterais, o pessoal da FAB. O Mário lá estava, fardado de uniforme caqui e boné branco, tipo ‘rasgadão’. Nesse momento passaram, em rasante bem baixo e individualmente, os famosos P-47, com os quais nossa gente escreveu páginas tão gloriosas e tão longe de casa. Foi, então, que descobri minha vocação. Vou entrar para a Aeronáutica, voar esse avião e pertencer a esse grupo.
Deus me ouviu! Além desses sonhos realizados, dentre tantos privilégios que me concedeu, ao longo de uma mais que cinquentenária carreira, deu-me o de comandar o Grupo, nascido em combate, tornando-me íntimo de praticamente todos os que o integraram, no ar e no solo, em especial seu líder Nero Moura. Mario Rodrigues passou para a reserva remunerada como Major Especialista em Aviões. Sua viúva, Elza, com quem converso de quando em vez já passou dos 90 anos. Enfim, a ‘culpa foi do Mário!’“.