Nelson Düring
Editor DefesaNet
O Exército Brasileiro estará próximo de dar um importante passo dentro do Programa Viatura Blindada de Transporte de Pessoal – Média de Rodas (VBTP-MR) quando formalizar a escolha da empresa vencedora da proposta técnica e financeira para a desenvolvimento e construção do protótipo e de mais dezesseis unidades de pré-série.
A VBTP-MR é o primeiro projeto do que o Exército chama de a Nova Família de Blindados Média de Rodas (FBMR).
DefesaNet obteve extra-oficialmente a informação de que a empresa FIAT Automóveis S.A, holding do Grupo FIAT no Brasil e representando a Divisão IVECO foi a vencedora.
FIAT e IESA foram as duas únicas empresas que apresentaram propostas, no dia 28 de junho de 2007, das cinco que tinham sido listadas pelo Exército Brasileiro. As companhias listadas eram : AGRALE S.A., AVIBRAS Aeroespacial S.A., EDAG do Brasil Ltda, FIAT Automóveis S.A. e IESA Projetos, Equipamentos e Montagens S.A.
As Etapas
Anunciar o Grupo Fiat (IVECO) como o que efetivamente será o responsável pelo projeto do futuro veículo blindado do Exército Brasileiro, que informalmente é chamado Urutu III, ainda é considerado temerário por fontes militares. Dois outros níveis devem referendar a decisão do Escritório do Programa VBTP-MR: o Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT) e o Chefe do Estado-Maior, para finalmente o Comandante do Exército, General Enzo Peri formalizar a decisão. Há também a possibilidade de o General Enzo levá-la à apreciação do Alto-Comando.
Após essas etapas o Exército deverá iniciar a negociação com a FIAT para a assinatura do contrato de execução dos serviços de desenvolvimento e produção do protótipo e dezesseis veículos de pré-série.
Fontes próximas ao projeto acreditam que estas etapas podem ser cumpridas em um mês ou dois no máximo. Assim o Exército e a FIAT(IVECO) poderiam assinar o contrato e dar início aos trabalhos ainda este ano.
A FIAT
Surpresa para muitos mas quem acompanha o Defesa@Net, já em 2001, noticiávamos os testes de veículos blindados italianos no Brasil. A FIAT (IVECO) tem investido de forma contínua no que poderia ser um programa de veículos blindados no Brasil. Assim em 2001 trouxe o Centauro AIFV 8×8 para testes de avaliação no Brasil. Posteriormente foi seguido pelo Puma VBL (Veicolo Blindato Leggero) nas versões 4×4 e 6×6.
Todo estes estes testes foram realizados como um investimento pela Holding do Grupo Fiat S.A. no Brasil que representa a Divisão IVECO. Esta, na Itália, através da IVECO Defence Vehicles Division, produz o veículo Light Multirole Vehicle, um 4×4 similar ao americano Hummer, porém com a proteção aos tripulantes já incorporado no projeto, que foi adotado peo exército italiano e inglês. Com a divisão Oto Breda do Grupo Finmeccanica produz uma gama de veículos blindados como o Centauro e o Puma.
O processo no Brasil tem sido conduzido pelo Diretor de Relações Externas da IVECO Sr. Alberto Mayer.
Em declaração para Defesa@Net, em Março deste ano, Mayer afirmou: “não vamos produzir aqui um veículo que já fabricamos, mas sim desenvolver um blindado que atenda aos requisitos do Exército Brasileiro conforme especificado, caso sejamos selecionados.”
Os veículos serão produzidos Complexo Industrial de Sete Lagoas da IVECO, Sete Lagoas, no Estado de Minas Gerais. Em 2006 a IVECO produziu 3.544 unidades de veículos leves, médios e pesados e mais 3.544 unidades. O faturamento no mercado interno foi de R$ 313,58 milhões. As exportações corresponderam a 2.769 unidades e ainda 2.095 unidades CKD.
Os concorrentes
Dezessete empresas apresentaram propostas na primeira fase, da quais cinco foram pré-selecionadas. Muitas empresas nacionais e internacionais apresentaram propostas na primeira fase, mas foram desqualificadas por não terem um parque industrial ou um núcleo de engenharia que pudesse levar adiante o projeto. Um dos requisitos era que a empresa também tivesse uma linha de produtos diversificada e que este projeto não fosse o principal da empresa. Talvez pelo reconhecimento do próprio Exército da inconstância do fluxo financeiro nos orçamentos anuais de defesa.
Podemos dizer que varias empresas internacionais procuraram estar presentes através das cinco finalistas. Essas empresas representavam os países: Rússia, França, Suíça, Finlândia, Israel e Áustria.
O General-de-Exército Darke Nunes de Figueiredo, Chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), já alertava que o Exército não desejava ter muitos interlocutores. “Mesmo que a empresa vencedora se associe a outras, o Exército Brasileiro, quando sentar à mesa, desejará falar somente com um interlocutor”, afirmou o General Darke Nunes à Defesa@Net durante a LAAD 2007.
Os Brasileiros
Duas empresas com tradição na área militar estavam pré-selecionadas: a AVIBRAS Aeroespacial e a AGRALE. Para muitos foi uma surpresa que estas empresas não tenham nem apresentado uma proposta no dia 28 de Junho.
As declarações dos seus presidentes pode ser uma indicação. Na AVIBRAS João Verdi Leite declarou à Defesa@Net que a proposta do Exército teria sentido a seis anos atrás; hoje há muitos competidores com produtos novos no mercado e será difícil entrar no mercado internacional. Continuaremos a produzir nossos blindados AV-VBL e Guará.
Hugo Zattera, da Agrale, mostrava preocupação com a viabilidade econômica de alocar um grupo de técnicos e recursos expressivos no projeto com um retorno financeiro incerto. Muito da análise está na dificuldade de entrar no mercado militar com o veículo utilitário 4×4 Marruá.
O Futuro
A expectativa nas áreas técnicas do Exército é de que avancem rápidas as etapas de aprovação dentro do Exército e possam formalizar a assinatura do contrato tão logo seja possível.
Há uma demanda enorme por veículos blindados de rodas similares ao EE-11 Urutu hajam vistas as operações no Haiti com a Missão da ONU e a possibilidade de outras missões como Darfur na África. O processo de revisão do atual parque de EE-11 Urutu e EE-9 Cascavel no Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP) tem avançado conforme os recursos disponíveis, porém há uma demanda cada vez maior por estes veículos.
Um mock-up da VBTP-MR (6×6) e os estudos preliminares das nove versões que compõem a Nova Família de Blindados Média de Rodas (FBMR) foram apresentados pelo DCT na LAAD 2007. É considerado como um guia, caberá a empresa vencedora propor alterações e implementá-las junto com a gerência do Projeto da VBTP-MR.
O plano é de que tenhamos os primeiro veículos saindo da linha de produção em quatro anos. Segundo o General–de-Brigada Waldemir Cristino Romulo em entrevista para a Revista Tecnologia & Defesa, edição 111, o cronograma básico após a assinatura do contrato é: dois anos para o projeto e construção do protótipo, 12 meses para testes e no quarto ano a produção de um lote de 16 unidades . O projeto da blindagem será realizado em 14 meses em paralelo ao desenvolvimento da VBTP-MR.