Maristella Marszalek
Os profissionais da saúde do Hospital das Forças Armadas (HFA) formaram um corredor humano para, com muitos aplausos e forte emoção, se despedirem do Tenente Ermando Piveta, 99 anos. A cena, registrada, com muitos flashes, ocorreu no começo da tarde desta terça-feira), em frente à unidade hospitalar da capital federal
O paciente, que teve alta após oito dias de hospitalização é, até o momento, o mais velho brasileiro que sobreviveu ao novo coronavírus. Mas ele tem outro título de muito maior notoriedade, o Tenente Piveta integrou a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que lutou com os aliados contra o nazismo e o fascismo na Segunda Guerra Mundial.
Quase oito décadas depois, ele demonstra mais uma vez o seu heroísmo, ao vencer um inimigo invisível, mas extremamente agressivo e letal, com nome e sobrenome: Covid-19.
Ermando Piveta chegou ao HFA em 6 de abril, depois que a equipe de telemedicina do hospital, que já fazia seu monitoramento domiciliar desde 23 de março, detectou a necessidade de internação. O herói de guerra havia apresentado sintomas da doença e testou positivo para o novo coronavírus.
Para o médico infectologista que acompanhou o paciente, o Capitão de Fragata Hemerson Cruz, o que mais o impressionou no caso é que o paciente por causa da idade avançada, faz parte de um grupo de risco onde a letalidade chega a 15%. “Todo o prognóstico já era potencialmente grave em virtude da sua idade, mas, surpreendentemente, evoluiu com a melhora do quadro e recuperação. Casos assim nos dão ânimo para seguir nessa luta”, enfatizou o médico.
Foram oito dias de internação, dois deles na Unidade de Terapia Intensiva. E o dia da alta veio numa data expressiva. Coincidência ou não, foi também no dia 14 de abril, só que do ano de 1945, que as tropas da FEB conquistaram Montese, na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. A Batalha provocou muitas baixas, mas foi fundamental para a ruptura da linha defensiva alemã e contribuiu, de forma expressiva, para a vitória dos aliados contra o nazifascismo.
Em tempos difíceis, em meio a uma pandemia que já matou quase 120 mil pessoas no mundo todo, histórias como a deste militar trazem alento e despertam empatia. Para os profissionais do HFA, a sensação do dever cumprido. Para a família, felicidade e gratidão. Para toda a população, esperança. E para o Pracinha, como são conhecidos os ex-combatentes, a certeza, mais uma vez, de ter feito a “cobra fumar”, expressão que tornou-se símbolo de vitória para a FEB.