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Estágio de Operações em Ambiente Urbano aperfeiçoa interoperabilidade entre as Forças Armadas

No período de 10 a 15 dezembro, o 28º Batalhão de Infantaria Leve (28º BIL), organização militar de emprego peculiar, conduziu o Estágio Setorial Conjunto Específico de Operações Militares em Ambiente Urbano (ESECOMAU).

A atividade é do Ministério da Defesa, orientada pela 2ª Subchefia do Comando de Operações Terrestres (COTER), por intermédio do Centro de Instrução de Operações de Garantia da Lei e da Ordem.

O ESECOMAU foi executado por militares da Marinha do Brasil, do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira. Dentre os objetivos, constavam: aplicar as técnicas, táticas e procedimentos próprios das operações militares em ambiente urbano; além de discutir e desenvolver a doutrina correlata, buscando aperfeiçoar a interoperabilidade entre as Forças Singulares.

 
 

Combate em Ambientes Urbanos¹

O combate urbano não é um fenômeno militar dos tempos atuais, mas sim um elemento que já acompanha o homem desde a antigu idade e os inúmeros casos de cercos a cidades e fortalezas que ocorreram desde essas épocas remotas propiciaram o desenvolvimento de incontáveis engenh os bélicos, técnicas e táticas, com a finalidade de apoiar tanto o atacante quanto o defensor.

Durante a Guerra Fria, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estava profundamente preocupada com a crescente urbanização da Europa.

Isso poderia constituir-se em um óbice ao emprego de mei os nucleares, mesmo que de pequena potência, levando a que os países dessa organização levantassem a hipótese da ocorrência de combates em áreas urbanas, como fica demonstrado abaixo, pela transcrição de um artigo do exemplar de outubro de 1977 da revista Military Review:

Os piores problemas surgem quando se imagina que um país por inteiro poderá tornar-se urbanizado de tal forma qu e as cidades se constituam nas principais características do terren o (cerca de 70% da população da Alemanha Ocidental vive atualmente em áreas urbanas), porque não é somente o número dos que moram em gran des subúrbios contínuos que torna as áreas urbanas importantes, m as sim o somatório de fatores entre os quais figuram a distribuição fí sica de pequenas vilas, a localização das áreas construídas em relação às flo restas e rios e o potencial para a utilização de terreno urbano como parte de um planejamento militar. (BRACKEN, 1977, p.70).


Segundo estudos recentes, é crescente a tendência de uma elevada migração das massas populacionais em direção aos grandes centros urbanos, e isso leva a crer que por volta de 2025, cerca de 85% da população mundial residirá em cidades, isto é preocupante pois o combate urbano é o tipo de ofensiva militar mais difícil que existe, porque as tropas defensivas contam com vantagens capazes de neutralizar a força e a tecnologia superiores dos invasores.

Os defensores estão não só mais bem familiarizados com o terreno, mas muitas vezes contam com tempo para instalar minas, posicionar franco-atiradores e organizar emboscadas.

Embora as forças terrestres invasoras sejam apoiadas por carros de combate e veículos blindados de transporte de tropas, o exército de defesa é capaz de neutralizar o apoio aéreo e de artilharia ao "abraçar" as tropas do adversário – enfrentando-as a curta distância, o que aumenta o risco para os invasores de sofrerem baixas causadas pelo chamado "fogo amigo".

Além do mais, os soldados invasores precisam manter um nível especialmente elevado de alerta: Os franco-atiradores e outros atacantes podem ataca-los não só pela frente, pelas costas e pelas laterais, mas são também capazes de se ocultar nos andares superiores ou telhados de edifícios ocupados por civis, ou mesmo em esgotos subterrâneos.

A fumaça e o fogo inevitáveis fazem com que a localização dos alvos seja muito mais difícil: cada tiro pode atingir um civil, e cada projétil de morteiro destrói a casa de alguém. Essa confusão aumenta ainda mais quando as forças defensoras se aproveitam da existência de população civil.

Dificuldades a serem consideradas 

Porém vários fatores fazem com que a opção de se tomar uma cidade seja analisada de forma profunda, chegando-se muitas vezes a conclusão que o melhor é evitá-la. Entre esses fatores podemos citar:

O primeiro fator que devemos citar é a grande presença de civis não-combatentes, especialmente mulheres, crianças e idosos. Muitas vezes estes civis estão ou são colocados próximos a alvos estratégicos e táticos, servindo como "escudos humanos" por parte do inimigo e dificultando a destruição ou interdição dos alvos. A baixa de civis também será usada pelo inimigo como arma de propagando junto a opinião publica mundial.

– Quando dentro das cidades as forças invasoras tem pouco espaço para manobrar entre as ruas, principalmente os seus veículos blindados, que são necessários neste tipo de guerra. O inimigo por sua vez, por conhecer melhor a área de operação se movimenta melhor e mais rápido, usando atalhos, e o subterrâneo, através de galerias, tubulações, túneis do metro e os esgotos. Portanto o uso do subterrâneo e a negação do uso deste ao inimigo se faz extremamente necessário a força invasora.

– O ambiente das cidade é extremamente propicio a defesa. Prédios altos servem de abrigo para equipes de observação e os escombros e edificações em geral se prestam a defesa, através de armas antiaéreas e anticarro. A ação de atiradores de elite inimigos normalmente é generalizada.

– Nas cidade o campo de tiro é restrito, as comunicações são prejudicadas, dificultando a coordenação e orientação das forças invasoras.

– O apoio aéreo (a inserção e extração rápida de tropas, suprimentos e equipamentos, além do apoio de fogo) é também fica limitado. As aeronaves não ficam sujeitas as ruas estreitas e as barreiras de escombros, mas cabos elétricos, torres de alta tensão e grandes edificações dificultam a sua operação. O fogo das armas antiaéreas é um perigo constante e estas podem ser colocadas nos topos dos prédios. Num combate urbano as aeronaves, em especial os helicópteros são vulneráveis a ação de armas de curto alcance como mísseis portáteis superfície-ar, metralhadoras leves e pesadas.

– Uma dificuldade que tem se visto ultimamente em combates urbanos é que devido a questões humanitárias os soldados em combate dentro de cidades podem ser envolvidos em operações distintas como missões de combate de média intensidade e altamente letal, pacificação ou assistência humanitária, muitas vezes até simultaneamente. Isto dificulta a coordenação de esforços e o foco das operações.

Táticas revolucionárias – Israel

Em Nablus, o exército invasor israelense conseguiu alcançar o seu mais notável sucesso – assumindo o controle da casbah da cidade, um labirinto densamente povoado composto de ruelas estreitas e casas de pedra – em poucos dias. As forças israelenses não fizeram uso de artilharia, e apesar de as estimativas terem indicado que haveria dezenas de baixas, tiveram apenas quatro soldados mortos.

A chave para o sucesso foi uma espécie de "imprevisibilidade planejada". Ao invés de utilizarem táticas lineares convencionais – capturando primeiro os arredores da cidade, e a seguir atacando sistematicamente casa por casa – as forças israelenses atacaram simultaneamente a partir de várias direções.

Elas utilizaram uma técnica conhecida no jargão militar como "enxameamento", na qual várias unidades pequenas, se movimentando em ziguezague e outras formações aparentemente aleatórias, se infiltraram até o meio da cidade e atacaram de dentro para fora.

As unidades desapareciam constantemente, apenas para reaparecerem em locais totalmente diferentes, atacando de novos ângulos que mantinham os defensores desorientados e incapazes de se entrincheirarem.

É claro que a tática do enxameamento não se constitui em um remédio milagroso para os problemas associados ao combate urbano. Ele é um pesadelo para os estrategistas que procuram coordenar as ações das várias unidades, e é extremamente difícil para os próprios combatentes saber o que está acontecendo em larga escala.

Mesmo assim, as forças norte-americanas, que possuem mais tecnologia de comunicação do que até mesmo os israelenses, são certamente capazes de se engajarem em táticas de combate não convencionais.

Além do mais, as forças iraquianas não são bem coordenadas e, tendo estado por muito tempo sem contato com o mundo externo e com a história militar recente, provavelmente terão dificuldade para entender o que as forças "enxameantes" pretendem fazer, e titubearão em enfrenta-las.

A experiência israelense, assim como os estudos feitos pelo Corpo de Fuzileiros Navais sobre jogos de guerra baseados em combates urbanos desde 1996, também demonstram que a maior parte das baixas em conflitos urbanos ocorre quando os soldados se movimentam ao longo das ruas da cidade, expostos ao fogo inimigo.

Portanto, quando Israel capturou a casbah em Nablus, os soldados se deslocaram através de buracos que cortaram ou explodiram em muros e paredes entre casas vizinhas.

Os franco-atiradores israelenses se posicionaram nos prédios mais altos e trabalharam em conjunto com as tropas nas ruas a fim de identificar alvos e confundir a expectativa dos defensores das cidades invadidas.

Conforme disse um combatente palestino após o conflito: "Os israelenses estavam por toda parte: na retaguarda, nas laterais, à direita e à esquerda. Como poderíamos lutar desse jeito?".

Há também lições importantes a serem aprendidas com a batalha travada por Israel no campo de refugiados de Jenin. Aquela parte da operação foi manchete nos jornais de todo o mundo, após os palestinos terem anunciado a morte de 500 moradores e afirmado que houve uma destruição indiscriminada por parte de Israel – alegações que foram contestadas pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Ironicamente, foi a relutância demonstrada por Israel para atacar Jenin com força total, assim como o seu compromisso de proteger vidas e propriedades palestinas a quase todo custo, que resultaram em mais mortes israelenses e palestinas e em mais destruição de propriedades do que teria ocorrido de outra forma.

Em um esforço para evitar baixas civis e uma má publicidade, Israel resistiu ao impulso inicial de utilizar tratores de demolição e tanques de guerra no campo de refugiados. Somente após 13 dos seus soldados terem morrido em uma emboscada foi que o exército autorizou o uso generalizado dos tratores.

Porém, como a batalha já estava em andamento, a operação de entrada dessas máquinas no conflito foi muito menos precisa e bem mais ruinosa do que seria uma batalha com força total desencadeada desde o início.

 
 

Blindados:

As operações urbanas normalmente exigem o uso de Carros de Combate (CC) pesados e leves, além de transportes blindados de tropas. Muitos CC, sofrem em operações urbanas, pois tem angulo de elevação limitado, já que foram projetados para lutarem contra outros Carros de Combate, normalmente em planície ou desertos, e não para acerta alvos localizados a altura do segundo andar de um prédio ou em ângulos bem baixos.

Esses grandes blindados também sofrem com a pouco visibilidade. Assim esses CC ficam vulneráveis a ataques com armas anticarro vindos das sacadas dos prédios. Sua defesa vem da infantaria de apoio e de suas metralhadoras.

Os Carros de Combate também não devem operar em coluna por entre ruas estreitas, pois se o carro da frente e o de trás forem imobilizados toda a coluna para e se torna alvo fácil. 

Os Israelenses em Suez e russos em Grozny já sofreram este tipo de ataque, só para citar dois exemplos. Por isso é melhor utilizar os CC em avenidas largas ou cruzamentos para terem uma clara linha de fogo. Colocados na retaguarda da tropas, estarão disparando muitas vezes "por cima" da cabeça dos seus soldados.

Devido a limitação do uso da artilharia em ambientes urbanos, os CC são o maior provedor de fogo de apoio para os infantes, principalmente contra posições fortificadas. Os carros de combate, e viaturas blindados em alguns casos, podem inclusive abrir passagens através das edificações. A presença de tropas de infantaria junto aos CC inibe a ação do inimigo nos que diz respeito ao uso de armas anticarro e minas.

Helicópteros:

São essências em operações urbanas. Eles são usados para as mais diversas missões de acordo com o seu tipo e configuração.

Transporte: São usados para inserir tropas (normalmente forças especiais) em áreas difícil acesso. Os helicópteros podem ajudar na tomada dos topos dos edifícios mais altos, que é prioritária. Para a instalação de equipes de observação e radiotransmissores. Também são usados para evacuação de feridos e transporte de munição e suprimentos.

Vigilância: Helicópteros pequenos e ágeis podem ser usados para missões de vigilância e reconhecimento.  Eles também podem ser armados com lançadores de foguetes e/ou casulos de metralhadoras para prover fogo de apoio ou ainda serem usados para transportar pequenas equipes de assalto ou reconhecimento.

Ataque: Projetados para a a luta antitanque são mais robustos que os helicópteros normais devido seu armamento, blindagem e comandos duplicados.

Os helicópteros devem ser usados com muito cuidado e planejamento pois são vulneráveis a fogo de armas portáteis e mísseis terra-ar. Torres, linha de força e prédios altos também oferecem perigo para este tipo de aeronave.

 
 

Fotos:28º BIL / EB

Leia mais:  

EB – GLO e Operações Militares em Ambiente Urbano [Link]

¹com Alex Alexandre de Mesquita (publicado em ecsbdefesa) e Tropas e Armas

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