José Renato Gama de Mello Serrano – Cap
CCOPAB
(Rio de Janeiro-RJ)
Fonte: AÇÃO DE CHOQUE
A FORJA DA TROPA BLINDADA DO BRASIL
CIBld – Seção de Doutrina
PARTICIPAÇÃO DO ESQUADRÃO DE FUZILEIROS MECANIZADO NO BATALHÃO DE INFANTARIA DE FORÇA DE PAZ NO CUMPRIMENTO DE MISSÕES DE PAZ NO SISTEMA DE PRONTO-EMPREGO DA ONU
RESUMO
Como forma de interceder em uma situação beligerante, as Nações Unidas utilizam as Forças Armadas dos países membros, que devem estar desdobradas no terreno o quanto antes, no intuito de preservar vidas ameaçadas pelo combate. Para tal, foi criado o acordo prévio para disponibilização de tropas (UNSAS).
Este sistema visa gerar um banco de dados de pessoal e material que os países contribuintes disponibilizariam para enviar em curto espaço de tempo para o local da missão. O Brasil, como signatário deste acordo, se dispôs a enviar, dentre outras unidades, um Batalhão de Infantaria de Força de Paz, que não possui em sua composição um esquadrão de fuzileiros mecanizados.
Entretanto, fruto da experiência do Exército Brasileiro e de outros países no emprego de tropas de cavalaria em missões de estabelecimento, imposição e manutenção da paz, torna-se necessário um estudo para verificar a possibilidade de inclusão desta tropa de cavalaria no referido batalhão.
O objetivo deste estudo é analisar as possibilidades e limitações da participação de um esquadrão de fuzileiros mecanizados em um Batalhão de Infantaria de Força de paz inserido no sistema de acordo prévio para disponibilização de tropas.
1.INTRODUÇÃO
Um dos principais objetivos da Organização das Nações Unidas (ONU) é manter a paz e a segurança internacional. Desde sua criação, em 1945, a ONU reconhece a necessidade de possuir tropas à disposição do seu conselho de segurança no intuito de responder às ameaças à paz internacional (NAÇÕES UNIDAS, 2003, p.03).
A Carta das Nações Unidas menciona no artigo 43 que seus países membros, no intuito de contribuir para a manutenção da segurança internacional e da paz, mediante pedido do Conselho de Segurança ou eventuais acordos, se comprometem a ceder Forças Armadas e outras facilidades que porventura sejam necessárias para tais fins (NAÇÕES UNIDAS, 1945, p.26-7).
A necessidade de se criar um banco de dados pela ONU, onde pudessem ser alocados pessoal e material dos países – membros que tivessem disponibilidade de enviá-los a uma situação – problema vem da década de 50. John Foster Dulles, então secretário de Estado dos Estados Unidos da América, em carta endereçada ao Secretário – Geral da ONU, assumiu o compromisso de engajar a sua nação neste objetivo, demonstrando interesse em dispor material e pessoal para as missões da ONU.
Entretanto, esta iniciativa não foi à frente, tendo em vista que os países membros não estavam dispostos a ceder seus homens e equipamentos a uma Organização sem o devido controle. (FONTOURA, 2009, p.152).
Em junho de 1992, Boutros-Ghali destacou junto ao Conselho de Segurança o papel que organizações regionais poderiam desempenhar, tais como na prevenção da crise, manutenção da paz e reconstrução pós-conflito. (NAÇÕES UNIDAS, 2006, p.02). Já em 1994, o Departamento de Operações de Paz da ONU (DPKO) criou o Acordo prévio para disponibilização de tropas (UNSAS), visando aumentar a quantidade e qualidade dos meios que os países – membros poderiam fornecer (MAZZEI, 2009, p.08).
O UNSAS é um sistema onde seus países signatários disponibilizam recursos específicos em um espaço de tempo predeterminado para uma missão de paz da ONU. (BRASIL, 2006, p.13), onde tudo o que for acordado para emprego na missão permanece no país até a aprovação do mandato.
Desta forma, este sistema teve maior aceitação dos países – membros, uma vez que estes poderiam usar seus meios, mesmo estando a disposição das Nações Unidas. Cabe salientar que a decisão final do envio do material ou pessoal disponibilizado no Sistema cabe ao país que proverá os recursos (FONTOURA, 2009, p. 153).
O Brasil faz parte do grupo de 50 países que criaram a ONU. Desde então, as nossas Forças Armadas estiveram presentes em diversas operações de paz, sob a égide das Nações Unidas ou não, adquirindo experiência e conhecimento em uma área que tem se mostrado eficaz na solução de problemas (BRASIL, 2006, p.13).
Desde 1947, o Exército Brasileiro participa com pessoal em missões de paz por todo o mundo (FONTOURA, 2011). Contudo, a participação mais efetiva do Exército Brasileiro teve início no ano de 2004. Fruto da resolução 1542, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, A Missão das Nações Unidas para estabilização do Haiti (MINUSTAH), composta inicialmente com um efetivo de 6700 militares, tinha como país comandante o Brasil, que enviou 1200 militares (LESSA, 2007, p.46).
Dentro das Unidades que o Exército Brasileiro dispôs à ONU por ocasião da assinatura do UNSAS, não há previsão de Unidades de Cavalaria. Contudo, fruto da experiência de outros países e das lições aprendidas do emprego da tropa mecanizada nos Batalhões de Infantaria de Força de Paz no Haiti, faz se necessário um estudo para verificar a possibilidade de se possuir uma SU de Cavalaria no Btl Inf F Paz do UNSAS, com o objetivo de atingir o máximo de operacionalidade possível em qualquer teatro de operações.
O presente estudo tem como objetivo geral verificar a possibilidade de participação de um Esquadrão de Fuzileiros Mecanizados inserido no Batalhão de Infantaria de Força de Paz no Sistema de Pronto Emprego da ONU.
2. DESENVOLVIMENTO
2. 1 Metodologia
A revisão de literatura para o presente artigo visa reunir e expor considerações e conceitos sobre as operações de paz da ONU e temas relativos às participações de batalhões de infantaria e subunidades de cavalaria nestas operações e abordar, de maneira direta e concisa, sobre o que cabe ao trabalho em questão, a proposta de participação do esquadrão de fuzileiros mecanizados no batalhão de infantaria de força de paz no cumprimento de missões de paz no sistema de pronto emprego da ONU.
No que diz respeito à natureza, o estudo apresentado caracteriza-se por ser uma pesquisa aplicada, que visa gerar conhecimentos para aplicação prática direcionado à solução de problemas específicos direcionados à manutenção de níveis ótimos de cognição em combate, levando-se em conta o método indutivo de maneira a possibilitar a tomada de decisões sobre a utilização das tropas do UNSAS, das capacidades das tropas de cavalaria e emprego do batalhão de infantaria de força de paz.
Trata-se de um estudo bibliográfico que terá por método a leitura exploratória e seletiva do material de pesquisa, bem como uma revisão integrativa, colaborando para a síntese e análise dos resultados de vários estudos, proporcionando um corpo de literatura atualizado e de fácil compreensão.
A solução do problema de pesquisa em questão iniciou-se com pesquisas documentais e bibliográficas, onde textos referentes ao UNSAS e à tropas de cavalaria em missões de paz foram analisados. Foram levados em consideração casos históricos recentes, bem como as lições aprendidas por outros países no que tange ao UNSAS.
Por fim, foi operacionalizada a análise dos dados obtidos, através das pesquisas bibliográficas, externa e internamente, antes de serem apresentados de forma clara, objetiva e sintética.
2.2 Resultados e Discussão
Em síntese, a pesquisa bibliográfica foi capaz de:
a. descrever como funciona o Sistema de acordo prévio para disponibilização de tropas da ONU;
b. explicar a composição de um Batalhão de Infantaria de Força de Paz da ONU;
c. mostrar de que forma o esquadrão de fuzileiros mecanizados contribuiu para o sucesso do Brasil na MINUSTAH;
d. apresentar as possibilidades e limitações de se possuir uma SU de Cavalaria em um Batalhão de Infantaria de Força de Paz; e
e. concluir sobre como o Esquadrão de Fuzileiros Mecanizados pode contribuir
contribuir para o Btl Inf F Paz do UNSAS.
As tropas vinculadas ao UNSAS possuem a peculiaridade de estarem aptas a serem desdobradas em qualquer local do mundo, independente do terreno, do tipo de conflito ou de quaisquer variantes que venham a intervir na atuação da Força de Paz. Para tal, se faz necessária a flexibilidade de composição do Batalhão de Infantaria de Força de Paz, uma vez que esta tropa é a célula básica para a atuação em um cenário de intervenção militar com tropas pela ONU.
Segundo Conetta (1995, p. 15), o combate em terra requer a utilização de plataformas de combate sobre rodas ou lagartas, que vão desde veículos leves para transporte de pessoal a carros de combate. Em operações de paz, onde o local é incerto, as tropas da ONU devem ser capazes de lançar e extrair seu pessoal do terreno. Desta forma, a Infantaria deve dispor de meios que propiciem estas manobras. Assim, a proporção de frações de cavalaria deve ser maior do que as de infantaria.
Diante do acima exposto a esse respeito, constata-se que outros países possuem histórico de envio de tropas de cavalaria para missões de paz, especificamente sob a égide do UNSAS. Um dos dez principais projetos estabelecidos pelas Forças Armadas Irlandesas no ano de 2005 foi a aquisição de quinze viaturas MOWAG Piranha III para as operações de reconhecimento nas operações de paz da ONU (DFAR, 2005, p.24).
Com tropas de Cavalaria nas Forças Interinas das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) e na Missão das Nações Unidas na Libéria (UNMIL), o Exército Irlandês merece destaque no emprego da cavalaria. (Disponível em: http://www.military.ie/army/organisation/army-corps/. Acesso em 14 Jun 2013.)
O Exército espanhol possui um considerável histórico no envio de tropas de Cavalaria sob a égide da ONU. Além de sua participação na Força de Proteção das Nações Unidas na Antiga Iugoslávia – (UNPROFOR) – (Disponível em: http://www.ejercito.mde.es/unidades/Zaragoza/brc_castillejo/index.html Acesso em 23 de junho de 2013.), a Brigada de Cavalaria Castillejos II também integrou a UNIFIL nos anos de 2008, 2010 e 2012, além de atuarem no Kosovo, Afeganistão e Bósnia. (Disponível em: http://www.ejercito.mde.es/unidades/Zaragoza/brc_castillejo/Noticias/2012/regresobrilib.html. Acesso em 23 de junho de 2013).
Em 1998, a 1ª Divisão de Cavalaria norte-americana desdobrou tropas na missão de paz da Bósnia-Herzegovina, com o objetivo de que fosse cumprido o que fora estabelecido pelo acordo de Dayton (Em http://www.hood.army.mil/1stcavdiv/about/early.aspx. Acesso em 15 jun2013.)
Em uma situação de normalidade em solo brasileiro, um Batalhão de Infantaria teria dificuldades em possuir em sua composição uma SU de Cavalaria, fruto de aspectos táticos, logísticos e de emprego em geral. Contudo, graças à experiência obtida através dos quase 10 anos de participação do Esqd Fuz Mec no BRABATT, tal situação não será tão difícil.
Com relação à logística de material, convém ressaltar que as viaturas empregadas pelo Esqd Fuz Mec fazem parte da cauda de suprimento do Exército Brasileiro, o que não interferiria no desenrolar das operações. No tocante ao pessoal, o efetivo de uma SU de Cavalaria se equivale a uma Companhia de Fuzileiros, contudo com pequenas mudanças em seus quadros organizacionais.
No tocante ao preparo, o modelo que é realizado pelo Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB) mostra-se eficaz no que diz respeito à capacitação do Batalhão de Infantaria de Força de Paz da ONU para a MINUSTAH. Uma vez que este Batalhão possui um Esqd Fuz Mec em sua composição, o Exército já possui modelos para emprego de uma SU de Cavalaria no referido batalhão.
No que diz respeito ao emprego, o comandante do batalhão é capaz de discernir sobre onde deve empregar a SU de Infantaria ou de Cavalaria, sem abrir mão da possibilidade da criação de Forças Tarefas, com a finalidade de se explorar as capacidades de ambas as tropas em uma mesma SU.
3 CONCLUSÃO
A atuação das tropas de Cavalaria e Infantaria no BRABATT propiciou a ambas as Armas o aumento da flexibilidade, tanto no preparo quanto no emprego das tropas.
Entretanto, cabe ressaltar que a colocação de plataformas de combate mecanizadas em tropas de Infantaria não as transforma em Cavalaria. A capacidade de trabalho e emprego dos militares de Cavalaria, adquiridas nas escolas de formação e na caserna, faz com que estes não sejam apenas condutores de veículos blindados, mas sim peças – chave na manobra do comando do batalhão.
O UNSAS, por suas particularidades citadas ao longo deste trabalho, mostra-se um sistema eficaz para um rápido desdobramento de tropas em regiões de conflito, desde que os países – membros realmente disponham dos meios acordados com a ONU. Neste escopo, a participação do batalhão de infantaria de força de paz materializa as intenções do Brasil em ser um dos países de influência no cenário internacional no contexto das operações de paz da ONU.
Fruto da experiência colhida com tropas de outros países que possuem um largo histórico de envio de tropas de Cavalaria para missões de paz, bem como das possibilidades obtidas pelo BRABAT desdobrado no Haiti com um Esqd Fuz Mec, fica a ideia de que a presença de uma tropa de Cavalaria Mecanizada inserida no Batalhão de Infantaria de Força de Paz permite ao comando do batalhão não só a flexibilidade de emprego e manobra das tropas de Cavalaria sob sua tutela, bem como a possibilidade de possuir peças de manobra de diferentes naturezas, o que permite ampliar a capacidade do batalhão.
Como o Brasil não possui a experiência de enviar tropas para missões de paz por meio do UNSAS e pelo histórico de atuação do Esqd Fuz Mec do BRABAT no Haiti, percebe-se que a presença de uma SU de Cavalaria em um Batalhão de Infantaria de Força de Paz inserido no UNSAS fará com que o Brasil mantenha o sucesso de ontem, hoje e sempre no cenário internacional.
Nota redação On-line DefesaNet:
Recomandamos também a leitura dos seguintes artigos: