Em entrevista ao Correio Militar do Sul, o Comandante do CMS General-de-Exército Carlos Bolívar Goellner fala sobre a evolução do Comando Militar do Sul (CMS).
O Comando Militar do Sul engloba Organizações Militares sediadas nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, possuindo em sua constituição duas Divisões de Exército, duas Regiões Militares, oito Brigadas e 162 Organizações Militares, resultando num efetivo de cerca de 50 mil militares, ou seja, 1/4 do efetivo do Exército Brasileiro.
Em sua área concentram-se: 90% dos blindados, 100% da Artilharia Autopropulsada, 75% da Artilharia, 75% da Engenharia e 75% da Cavalaria Mecanizada dos meios da Força Terrestre.
Correio CMS – Qual é o cenário atual das Forças Armadas?
Gen Bolívar – Os conflitos seguem um ciclo validado pela história e pela cultura. Esse ciclo natural é caracterizado pela adaptação às novas situações e as consequentes respostas apresentadas, conforme as vicissitudes de cada época. O salto tecnológico, experimentado nos últimos vinte anos, incorporou novos elementos de incerteza e instabilidade, favoreceu a proliferação de ameaças de toda ordem que passaram a usar a tecnologia como aliada para comprometer a paz, seja em um cenário regional ou internacional. Consequentemente, as Forças Armadas devem manter uma atitude de evolução permanente, para continuar a ser um ator decisivo e dissuasório no momento em que são empregadas.
Correio CMS – O que é o projeto de Transformação do CMS?
Gen Bolívar – O processo de transformação do Comando Militar do Sul dá andamento regional ao Projeto de Transformação do Exército. A guerra é uma circunstancia para qual o Exército deve estar preparado. A percepção das necessidades em face da nova fisionomia dos conflitos, fez com que o CMS desenvolvesse estudos no sentido de dar as respostas ao Projeto de Transformação do Exército. O alinhamento das políticas da Força e os recursos disponíveis fornecem subsídios para que o planejamento da transformação do CMS seja executado de maneira gradual, ininterrupta e coerente com a realidade, ajustada as demandas dos eventuais cenários.
Correio CMS – Que demandas são essas?
Gen Bolívar – O combate moderno impõe características e peculiaridades próprias da nova ordem mundial — um mundo multipolar, com inimigos difusos e que evitam, sobretudo, o combate convencional, com base na premissa de que o equilíbrio relativo do poder de combate dificilmente é homogêneo. O aparecimento de novas ameaças, as chamadas ameaças multidimensionais, colabora pare tornar o ambiente operacional inseguro e complexo. O inimigo gradativamente deixa de ser somente outras forças armadas convencionais pertencentes a outros países.
É nesse novo ambiente que as estruturas organizacionais devem estar preparadas. Assim, há necessidade de criação de uma cultura de emprego eficaz, com base fundamentalmente em capacidades. Nesse futuro incerto, as ameaças serão um inimigo com características híbridas, capaz de combinar as táticas e técnicas do emprego convencional, com ações irregulares executadas num cenário de proposição assimétrica. Com este foco, nossas forças deverão ser aptas para enfrentar e derrotar tal desafio, valorizando o emprego legitimado pelas condicionantes da guerra e pelas regras de engajamento, sendo capazes de se adaptar de modo elástico e versátil a qualquer situação tático-estratégica.
Correio CMS – De que forma ele está Iigado ao Projeto de Transformação do Exército Brasileiro?
Gen Bolívar – As alterações estruturais, o remanejamento de unidades e grandes unidades, a criação de um centro de treinamento, a criação de um grande comando operacional, a otimização de funções na atividade-meio, a criação de grandes comandos administrativos e de saúde fazem com que o liame entre as atividades planejadas pela Transformação do Exército e o que está sendo realizado no CMS seja absolutamente estreito e coerente. Essas particularidades apontam para uma ampliação das capacidades das tropas pertencentes ao CMS. Assim, a reestruturação do CMS se alinha com o está sendo proposto e executado pelo projeto de Transformação do Exército.
Correio CMS – Quais os benefícios que o Projeto trará ao CMS?
Gen Bolívar – Os benefícios ao CMS serão inúmeros, não ficando restritos aos aspectos operacionais do Comando Militar de Área e, por certo, serão sentidos com profundidade na área de gestão. A gestão logística será otimizada com a criação do grupamento logístico, com sistemas mais ágeis e dedicados à sua missão específica, promovendo celeridade nos processos. Ademais, a gestão de pessoal e administrativa será impactada. Com a rearticulação dos serviços administrativos, assuntos corriqueiros, como por exemplo a confecção de uma identidade, a distribuição de uniformes para os novos soldados, serviços previstos para as casas — próprios nacionais, terão sua execução mais rápida, desonerada, porque sistemas dedicados a esse tipo de atividade vão absorver esses encargos. Essa compartimentação de atividades vai facilitara tarefa de quem presta o apoio e de quem está dedicado à atividade-fim do Exército. De maneira bastante ampla, a reengenharia de funções e atividades contempladas na reestruturação do CMS irá favorecer as atividades operacionais e trazer inúmeros benefícios à gestão logística, de pessoal e administrativa, tudo com a finalidade de manter e ampliar a capacidade operacional do CMS, de proporcionar melhores condições de trabalho e de melhorar continuamente a qualidade de vida da família militar.
“O processo de transformação do Comando Militar do Sul dá andamento regional ao Projeto de Transformação do Exército. A guerra é uma circunstância para qual o Exército deve estar preparado.”
Correio CMS – Quais as principais dificuldades para a implantação do Projeto?
Gen Bolívar – O projeto de transformação do CMS está atrelado à Transformação proposta pelo Exército Brasileiro. Toda mudança requer estudos e análises próprias de cada tempo para que sejam efetivadas de modo gradual, sem sobressaltos, e que não façam parte de impulsos momentâneos para que não gerem retrocessos mais adiante. Essa transformação continua asseverando que o Exército valoriza a estratégica da dissuasão e da presença, mesmo optando, de forma seletiva, para uma reestruturação que impacta a articulação de unidades e grandes unidades. A segurança regional no âmbito do CMS faz parte das premissas valoradas nesse processo. Paradigmas, naturalmente, sofrem ajustes e carecem de modificações. Isso implica aperfeiçoamentos, remanejamentos, mudança de atitude diferenciada, para que se vislumbrem os objetivos propostos.
O caminho nem sempre é facilitado pelas contingências, mas os objetivos são plenamente favoráveis e factíveis. O plano do CMS segue uma cronologia impositiva, acomodando as estruturas de maneira a evitar impasses ou dúvidas quanto ás etapas que estão sendo executadas. Ressalta-se que, mesmo com as alterações e modificações em andamento, todas as missões continuam a ser executadas perfeitamente. Esse entendimento de que a transformação é inexorável para que o CMS se torne mais capaz é compartilhado por todos seus integrantes, que somam esforços, vencem antigos paradigmas, e trabalham para manter o CMS apto a cumprir sua missão, respaldando a sua tradição de ser um Comando Militar de excelência.