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Entrevista com o Brigadeiro Jose Crepaldi – FAB se prepara para receber o Gripen

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Texto do Defense Industry Bulletin, April 2015
Tradução, adaptação e edição: Nicholle Murmel

Com um efetivo total de 700 aeronaves de asa fixa e helicópteros, a Força Aérea Brasileira (FAB) e a Aviação Naval (AvN) operam o maio contingente aéreo da América do Sul e América Latina, e perde no continente apenas para a Força Aérea Americana (USAF). Como parte da atual Estratégia Nacional de Defesa (END) do país, um dos objetivos cruciais é garantir “a independência nacional através de uma capacidade tecnológica superior e autônoma, e do fortalecimento da base industrial de defesa”, segundo o documento.

O caminho para conquistar essa independência é encorajar e receber bem as parcerias com países e empresas estrangeiras. Durante a última International Fighter Conference, que aconteceu em Londres em novembro do ano passado, GEORG MADER conversou com o Brigadeiro Jose Crepaldi, chefe do Departamento de Projetos da FAB, sobre programas-chave para a Força…

DIB: Semanas após a assinatura do contrato com a Saab no dia 27 de outubro, marcando a decisão final sobre o programa FX-2 e a aquisição de 36 caças Gripen E/F, o senhor afirmou que esse número não era “definitivo” e que poderia aumentar para 108! Foi uma surpresa e tanto para o setor…

CREPALDI: [sorrindo] Sim, com certeza foi! Mas não foi algo sensacional. É claro que os recursos financeiros ainda não foram definitivamente alocados para essa iniciativa, mas temos nossos estudos sobre a viabilidade do número de aeronaves, feito em 2007. Por que 108? A ideia por trás desse número é ter esquadrões padronizados dentro da Força, incluindo os caças. Eles serão introduzidos à FAB em três lotes.

DIB: Mas todos esses lotes terão versões mono e biplace, certo?

CREPALDI: Isso mesmo. Mas ainda não foi decidido quantas unidades de dois lugares serão acrescentadas aos dois próximos lotes. O modelo biplace pode fazer muito mais do que conversão ou treinamento. Temos conversado muito com a Foça Aérea da África do Sul já que eles também operam Gripens com dois lugares e os usam em função C2. É esse o nosso plano também. Por isso, insistimos em uma versão biplace “sob medida”, talvez contrastando com o que a Suécia costuma fabricar e operar.

DIB: O senhor se referiu a um estudo – creio que tenha sido um processo longo. O senhor pode relembrar quais foram os referenciais uadotados nos últimos sete anos

CREPALDI: Claro. Foi uma jornada longa, o que não é surpresa diante da escala e volume do programa. Tivemos que escolher um caça multifunção para substituir os Mirage 2000Cs e, no longo prazo, os F-5Ms e os A-1Ms (AM-X), tendo como foco a modernização e padronização do contingente de caças da FAB. Nesse contexto, o número 108 da sua pergunta se refere às nossas necessidades operacionais. Certamente esse número pode mudra – não sabemos o que o future nos reserve ou qual realidade orçamentária enfrentaremos. Podemos planejar, mas, como todo mundo, temos que nos ater ao que os recursos nos ditarem ser possível.

Por outro lado, também tivemos que aumentar a capacidade da indústria aeroespacial em termos de desenvolvimento de novas tecnologias. Então o RFP procurou os fabricantes em outubro de 2008 – e após análise de ofertas, reuniões, avaliações, revisão das ofertas e análise final das melhores opções em 2009 – o relatório final foi enviado ao Ministério da Defesa no começo de 2010.

Então tivemos uma pausa política até dezembro de 2013, quanto a Presidente tomou a decisão de seguir em frente. Claro que, àquela altura, foi necessário atualizar as exigencies e especificações – esse processo demorou cerca de dez meses e rendeu mais 45 volumes de documentos e 15 mil horas de trabalho verificando seis áreas potenciais de risco, e assim por diante.

DIB: Alguns meses após a assinatura desse grande contrato com a Saab houve outro acordo firmado em relação ao Gripen brasileiro. Do que se trata?

CREPALDI: Esse contrato foi com o Comando da Aeronáutica (COMAER) e é um suplemento do documento principal. Ele prevê apoio logístico por parte do fornecedor (contractor logistic support – CLS) para os futuros aviões. Esse acordo cobre servições futuros de manutenção e suporte para os Gripen NG e equipamentos associados, mas só passará a valer quando a entrega dos aviões for completa (entre 2021 e 2026)

DIB: Uma pergunta que eu preciso fazer: o Brasil é um país enorme – suas dimensões equivalem a todo o continente europeu e uma boa porção dos Estados Unidos. O Gripen não é a opção de “pernas mais curtas” comparada aos outroc concorrentes, o Super Hornet e o Rafále?

CREPALDI: Não, não. Esse é um ponto de vista equivocado. Durante nossas avaliações dos três caças concorrentes, todos foram capazes de atender às nossas demandas. Tivemos duas formações partindo de uma base da FAB para uma missão específica e retornando em seguida. E nessas duas coasiões todas as aeronaves completaram o percurso sozinhas, sem necessidade de reabastecimento. Então é incorreto afirmar que o Gripen tem menos alcance. É uma aeronave totalmente nova com um motor novo e que não consome combustível no mesmo ritmo que um twin-engine.

DIB: Em Agosto eu visitei o local de treinamento para os Gripen da Força Aérea sueca, em Såtenas, o Flygchef afirmou na época que esperava os primeiros pilotos brasileiros chegando ao país logo após a assinatura do contrato com a Saab. Sendo assim, podemos dizer que já há aviadores brasileiros na Suécia?

CREPALDI: Sim, creio que poucos dias após o anúncio do contrato os primeiros dois futuros instrutores da FAB chegaram em Såtenas. Eles tiveram a primeira missão de treinamento em um Gripen D na metade de novembro e ficarão na Suécia por seis meses.

DIB: O senhor também apresentará em breve a aeronave de transporte/abastecimento EMBRAER KC-390, que realizou seu primeiro rollout em Gavião Peixoto. Quantos desses aviões serão fabricados? Eles devem, pelo que eu entendi, multiplicar e complementar a capacidade operacional dos Gripen, certo?

CREPALDI: Ao todo, 28 unidades serão adquiridas pela Força Aérea Brasileira, e há também encomendas para exportação. É claro que essas aeronaves vão incrementar a atividade do Gripen, da mesma forma que fariam com os outros concorrentes do FX-2. Precisamos de um aviã-tanque, independente de que caça foi escolhido.

O KC-390 será ótimo – é exatamente o que precisamos. Foi desenvolvido especialmente para atender às necessidades nacionais e totalmente conforme a Estratégia Nacional de Defesa. Ele representa um grande salto em termos de capacidade operacional e multiplicação de força.

Trata-se da maior aeronave já projetada e desenvolvida no brasil – resultado de um acordo assinado em 2009 e do acordo para produção em série e entrega firmado na metade de 2014. Em breve o avião fará seu primeiro voo e esperamos que a FAB comece a receber os seus na segunda metade de 2016.

DIB: Já sabemos que o Gripen brasileiro terá armas de fabricação nacional como o míssil anti-radiação MAR-1, fabricado pela Odebrecht D&T, e o míssil míssil IR/WVR A-Darter, da sul-africana ARMSCOR. Mas e quanto ao BVR?

CREPALDI: Ainda não decidimos… Por enquanto. Na verdade estamos tentando estabelecer negociações com o governo da África do Sul para desenvolver em conjunto um míssil BVR, independente do R-Darter já existente. Somos ambas nações “não alinhadas” no Atlântico-Sul e mantemos uma boa relação há tempos. A África do Sul é muito parecida com o Brasil em termos sociais, mas também de realidade orçamentária, então, logicamente, essa cooperação pode servir aos interesses de ambas as partes no setor de defesa.
 

DIB: Muito obrigado, Brigadeiro – e boa sorte em receber as “asas que protegem o país”.

CREPALDI: [sorrindo] Nosso lema! Muito obrigado pelo interesse!

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