Enquanto as conversas com a Boeing para um potencial acordo se desenrolam em um plano paralelo, a Embraer segue normalmente sua vida e concentra esforços em fechar encomendas das aeronaves da 2ª geração dos E-Jets. E o cenário é promissor: desde que o primeiro avião E2 foi certificado, em fevereiro, a fábrica de São José dos Campos recebe, toda semana, CEOs de companhias aéreas interessadas nos novos modelos da empresa brasileira, contou ao Broadcast o presidente da Embraer Aviação Comercial, John Slattery.
“A analogia de ‘sucesso’ no meu negócio, nesse ponto do ciclo que estamos, são as vendas. Então meu time e eu estamos implacavelmente focados em concretizar vendas”, disse em entrevista exclusiva durante a 74ª reunião da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), em Sydney. O executivo ressalta que a fabricante está fortemente engajada no programa E2 e que tem se empenhado para vencer a competição nas campanhas abertas pelo mundo.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
As companhias aéreas têm se mostrado mais interessadas no 190-E2 depois de concluída a certificação e a entrada em operação?
A aeronave recebeu certificação tripla, das duas maiores autoridades do mundo a europeia EASA e a norte-americana FAA e da Anac, em fevereiro. Posso dizer que o engajamento por parte das aéreas vai de “interessadas” a “totalmente engajadas”, e isso no mundo inteiro.
Uma demonstração disso é que, se você visitar a fábrica de São José dos Campos, verá que toda semana estamos recebendo pelo menos um CEO de alguma companhia aérea para falar explicitamente sobre o E2. Na verdade, em diversas ocasiões, temos vários CEOs por lá ao mesmo tempo, trocando experiências.
É claro que a Embraer se beneficia por ter 70 operadores da 1ª geração dos E-Jets em 50 países. Mas pelo menos metade das consultas sobre o E2 tem vindo de novos operadores – o que me leva a crer que o mercado a ser atendido e o tamanho da nossa oportunidade são muito maiores em uma base global.
A Embraer havia mostrado a intenção de alcançar as grandes companhias aéreas com o E195-E2. Esse é um plano que se sustenta?
É definitivamente um objetivo estratégico ter o E195-E2 operando com as grandes companhias pelo mundo. E considerando a versatilidade dessa aeronave, também queremos vê-la em operação com as companhias de baixo custo e ultra baixo custo.
O mantra da “frota de um único tipo” já está ultrapassado. Hoje as aéreas buscam lucratividade, retorno sobre capital investido, fluxo de caixa livre. Elas já estão mais engajadas em adicionar às suas frotas um segundo tipo de aeronave, que trará benefícios imediatos à última linha do balanço.
Como está o desenvolvimento do programa E2? Segue dentro do cronograma e do orçamento para todas as três aeronaves?
Sobre o 190-E2, que acabou de entrar em serviço, a aeronave está voando oito ciclos por dia com a Widerøe, a uma taxa de 100% de “schedule reliability” que mede a capacidade do avião de cumprir sua programação de voo sem atrasos ou cancelamentos. Já o 195-E2 também segue dentro do cronograma para certificação na primeira metade de 2019, estou ansioso para ver essa aeronave voando com a Azul.
Em relação ao “bebê” da família, o 175-E2, posso confirmar que está programado para certificação na segunda metade de 2021, como previsto. Como você sabe, tivemos que fazer uma ligeira alteração do cronograma, mas depois disso o programa prossegue conforme estipulado.
Embora os E2 não tenham vindo necessariamente para substituir a 1ª geração, quais são as perspectivas para os modelos mais antigos?
A fábrica de São José dos Campos funciona hoje com uma linha híbrida, então temos capacidade de produzir o E1 por muitos e muitos anos. Enquanto as aéreas nos pedirem para produzir o E1, com alguma estabilidade em termos de encomendas, faremos isso.
Sendo mais específico, estamos falando do mercado norte-americano e dos 175 e 175-SC. Caso não haja uma mudança na cláusula de escopo determinação do sindicato de pilotos que impede, hoje, as operações do 175-E2 nos EUA e as aéreas ainda demandarem o modelo da 1ª geração, queremos poder nos posicionar para isso.
O que você pode comentar sobre as campanhas que estão acontecendo pelo mundo, como a da JetBlue?
Sobre a JetBlue, eu asseguro que a Embraer está bastante focada nessa batalha. Acredito que o 195-E2 é a solução perfeita para os planos futuros da empresa. Mas, como qualquer outra campanha, é uma luta cruel.
Há muitas campanhas pelo mundo e em vários estágios. Posso dizer que tenho conversado com todos os 70 operadores do E1. E também estou falando com vários potenciais novos clientes, particularmente para o 195-E2.
Acho que este ano será crucial para a Embraer e para o E-Jets. A analogia de “sucesso” no meu negócio, nesse ponto do ciclo que estamos, são as vendas. Então meu time e eu estamos implacavelmente focados em concretizar vendas.
O ambiente competitivo mais acirrado, com os novos players asiáticos e com a Airbus entrando no programa CSeries, preocupa a empresa?
O fato de estar havendo alguma consolidação na indústria cria uma nova dinâmica – e uma dinâmica séria -, mas o nosso foco está em engajar o cliente. Estou tranquilo com a competição: em bases iguais, a família E-Jet é uma solução melhor do que os CSeries e melhor do que o ultrapassado CRJ ambos da Bombardier. Também é uma solução bem competitiva para aéreas que querem complementar sua frota de 737s e A320s.
Nós gostamos do desafio do ambiente competitivo, mas temos de ver como isso se materializará, estamos acompanhando bem de perto.
Em relação ao potencial acordo com a Boeing, como as negociações têm progredido?
Minha posição é a de que devemos respeitar a integridade do processo. Confiamos no Paulo presidente para nos liderar nisso, temos um amplo grupo que representa o interesse da Embraer, dos acionistas, e do governo. Não posso dar mais visibilidade ou comentar sobre esse assunto. (Letícia Fucuchima – leticia.fucuchima@estadao.com)