João José Oliveira
O presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, viaja semana que vem para o 52º Salão Internacional de Aeronáutica de Le Bourget – maior feira mundial da aviação que Paris sedia de 19 a 25 de junho -, mais otimista que na última edição do evento bianual, em 2015. Naquela ocasião, a companhia fechou vendas de US$ 3,3 bilhões com encomendas para 103 aeronaves.
"Os programas de desenvolvimento de nossos novos aviões estão rigorosamente em dia, o que é raro na indústria nos dias de hoje. E tudo o que foi sugerido por clientes foi atendido. Por isso, estou otimista que este ano será melhor que 2015", disse. A Embraer está apresentando em Paris os novos modelos de aviões comerciais 175-E2, 190-E2 e 195-E2, o jato executivo Legacy, e o cargueiro militar KC-390.
No radar da Embraer está o plano de anunciar a primeira venda do cargueiro militar KC-390 para um governo estrangeiro. "Esse é nosso foco este ano. Estamos muito perto disso", disse Souza e Silva.
O KC-390 tem hoje uma encomenda de 28 unidades feita pelo o governo brasileiro, em um pedido de R$ 7,2 bilhões, cuja primeira unidade será entregue em 2018. Mas desde ano passado, a Embraer recebeu cartas de intenções de compras para esse modelo de cinco países – Argentina, Chile, Colômbia, República Tcheca e Portugal -, para encomendas que podem somar 32 unidades. Canadá e Nova Zelândia também demonstraram interesse no modelo. "Na medida em que os teste são feitos com sucesso e dentro dos prazos, o interesse [de outros governos] aumenta", afirmou Souza e Silva.
O presidente da Embraer disse que não há risco de a crise fiscal do setor público afetar o programa do KC-390. "Já temos 94% de todo projeto executado. Tivemos problema com fluxo de pagamentos há dois anos, mas renegociamos e, desde então, está tudo em dia agora."
Embora o programa do KC-390 inclua a possibilidade de produzir uma versão civil, o presidente da Embraer descartou iniciar a linha não militar do modelo por enquanto
Já na aviação comercial, Souza e Silva diz que a demanda está aquecida na Ásia, especialmente na China e na Índia. "Nosso foco é aumentar as vendas do E2-190 e E2-195 na Ásia", disse o executivo.
O executivo disse que também vê novas encomendas vindo do maior mercado mundial, o americano, onde a Embraer é líder nos jatos de até 70 assentos que já voam no país. Para Souza e Silva, o fim da concordata da companhia aérea regional Republic Airlines é um dos fatores que vão alimentar novos negócios para a fabricante brasileira. "É nosso maior cliente. Então, [o fim da concordata] é uma excelente notícia", afirmou.
A Republic, que saiu da concordata que pedira ano passado, já comprou ao longo da história 167 aviões da Embraer.
Já a promessa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de implementar uma política comercial externa mais fechada não preocupa o executivo da Embraer. Dos 275 pedidos firmes em carteira que a companhia tem para a nova família de jatos comerciais E2 – que começam a ser entregues em 2018 -, 125 são de duas aéreas regionais americanas, a SkyWest e a Aircastle. "Temos uma aliança de longa data com os Estados Unidos. Temos lá mais de dois mil funcionários, unidades de produção e importamos US$ 2 bilhões em peças e equipamentos", disse ele.
O executivo destacou outro fator que pode gerar demanda americana por aviões da Embraer: a decisão do governo dos EUA de questionar aportes do governo do Canadá na Bombardier, o que poderia estar prejudicando a Boeing. "A entrada da Boeing mostra que a Bombardier está criando um desequilíbrio de mercado", disse Souza e Silva.
Souza e Silva afirmou ainda que a demanda mundial justifica a aposta da Embraer nas metas financeiras e operacionais para este ano. "O guidance está mantido para este ano", afirmou, sobre a meta de fechar 2017 com receita entre US$ 5,7 bilhões e US$ 6,1 bilhões e entregas de 97 e 102 jatos, no segmento comercial, e de 105 e 125 aviões executivos.
Já no segmento de aviação executiva, o presidente da Embraer vê demanda fraca até 2019. "Parou de piorar. Mas ainda teremos dois anos de estagnação antes que as vendas voltem a crescer. O estoque de usados hoje está na casa de 10% da frota e precisa cair para perto de 4%", disse.