Assis Moreira E João José Oliveira
A Embraer deve fechar mais negócios na China durante a visita do presidente Michel Temer ao país, a exemplo do que ocorre em praticamente toda visita presidencial ao parceiro chinês.
O Valor apurou que, na visita de Temer esta semana a Pequim, a expectativa do lado brasileiro é de que o governo da China conceda autorizações para a Embraer vender mais 20 jatos regionais – cujos preços de tabela seria da ordem de US$ 1,5 bilhão.
Também é esperado o sinal verde do governo para que a fabricante brasileira faça a entrega de 18 aparelhos do modelo E190-E2, a nova geração de aviões comerciais da Embraer, já vendidos mas não faturados, em um negócio da ordem de US$ 1 bilhão a preço de tabela.
A companhia compradora desses 18 aviões é a holding Hainan. As novas aeronaves são destinadas às suas subsidiárias Tianjin e Fuzhou, que pertencem ao grupo HNA, o mesmo que tem participação minoritária na brasileira Azul e está perto de concluir a operação de compra da Odebrecht no aeroporto do Galeão (RJ).
É que na China a empresa aérea precisa obter licença do governo chinês para fazer aquisição do que já contratou com o fabricante, gerando uma situação complicada para observadores de fora.
Na última visita de Temer ao país, por exemplo, o Brasil esperava autorizações para a venda de 30 aparelhos, mas, no final, os chineses só autorizaram seis. Segundo dados atualizados pela Embraer na sexta-feira a pedido do Valor, além desses 18 jatos, existem 26 pedidos firmes para jatos da Embraer na China cujas entregas ainda não foram feitas.
São quatro jatos E-190 (um para a aérea Hebei e três para a Colorful), dez unidades do E-195 e dois E190-E2 (para a Tianjin Airlines). Adicionalmente, a ICBC Leasing possui pedido firme para mais dez jatos E190-E2. A preços de tabela da companhia, esses 26 aviões representariam valor de vendas de aproximadamente US$ 1,2 bilhão.
Desde que começou a atuar na China, a Embraer somou 221 pedidos firmes por aviões – sendo 187 jatos comerciais e 34 executivos. A empresa lidera o mercado de aviação regional chinês no segmento de jatos de 70 a 130 assentos, com quase 80% da participação de mercado.
As aeronaves comerciais da fabricante brasileira atualmente transportam mais de 17 milhões de passageiros por ano em mais de 370 rotas, conectando 130 cidades no país. A Embraer chegou a ter uma unidade industrial na China, entre 2003 e 2016, a Harbin Embraer Aircraft Industry (Heai), resultado de uma joint-venture com a estatal chinesa Avic, que envolveu as também chinesas Harbin Aviation Industry e a Harbin Hafei Aviation Industry.
Inicialmente, a unidade da Embraer fabricava o jato comercial ERJ-145, de 50 assentos, que passou a ter pouca demanda na medida em que o mercado chinês crescia rapidamente. A Embraer então pretendia produzir lá modelos maiores, como o E190. Mas o projeto foi barrado pela China, que negou à empresa brasileira a autorização para esse programa.
O motivo é que Pequim já tinha colocado de pé o próprio programa de uma fabricante nacional, a Comac, para esse segmento de aeronaves. Mas a demanda para os jatos da Embraer pode crescer novamente, porque no segundo semestre do ano passado, o governo chinês lançou um programa para acelerar a expansão de sua aviação regional.
Entre as medidas, está uma regulação mais flexível, que permite voos de aeronaves abaixo de três mil metros de altitude, além da construção de 200 novos aeroportos para aviação geral, elevando a 500 o total de terminais. De acordo com estudos da fabricante brasileira, a China vai necessitar de 1.070 novos aviões no segmento de 70 a 130 assentos nos próximos 20 anos.
De olho nessa nova onda, a Embraer realiza na China, amanhã e quarta-feira, o Fórum Regional de Aviação da China, em Yinchuan, Ningxia, com o objetivo promover a aviação regional e compartilhar as melhores práticas e experiências.