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Em segredo, Amazon faz testes com drones

Mark Scott – The New York Times

Após horas de busca, entrei em uma estrada nas montanhas de Cambridgeshire e encontrei um pontinho atravessando o céu, flutuando gentilmente sobre a brisa a 60 metros do chão. Era um drone da Amazon. Quase invisível a olho nu, a aeronave voava sobre um campo a um quilômetro de onde eu estava, com as luzes dos sensores piscando sob o sol da tarde.

A Amazon, gigante do comércio eletrônico, começou testes secretos de drones neste verão em uma localidade no interior da Inglaterra – seu maior campo de testes, segundo um executivo da empresa. Eu queria descobrir onde ficava esse local secreto para ver como as pessoas vão receber suas compras um dia no futuro.

Os sinais dos testes secretos da Amazon estavam escondidos bem embaixo do nosso nariz. Pilotos haviam recebido aviso de presença de aeronaves não tripuladas na região; um sinal de celular extremamente rápido para uma região tão isolada – necessário para processamento de dados; além da abertura de vagas no centro de pesquisa da Amazon, em Cambridge, relacionadas ao ambicioso plano da empresa de usar drones para entregar produtos.

Na Inglaterra, a Amazon trabalha junto com autoridades locais para testar aspectos de drones. Esta maior liberdade, aliás, fez com que a Amazon se instalasse na Inglaterra em vez dos Estados Unidos, que negaram a aprovação desse tipo de teste. Atualmente, a Amazon está ajustando os sensores do drone.

Uma porta-voz da empresa não quis comentar a respeito da área de testes na Inglaterra.

Segredo. Com o grande número de concorrentes (ver box ao lado), não surpreende que a Amazon queira evitar que seus esforços sejam vigiados. Em Fulbourn, vilarejo mais próximo do local de testes, onde casas com telhado de palha ladeiam a rua principal, poucos sabem que a gigante norte-americana se mudou para a cidade.

“Drones? Aqui?”, perguntou Linda McCarthy, que levava dois labradores para seu passeio matinal. “Nunca ouvi nada.”

Para Julia Napier, uma das fundadoras de uma associação local que cuida das ruas públicas da região, a chegada da Amazon representa uma ameaça à vida selvagem e à área como um todo, algo que a empresa nega.

Sua posição contrária à gigante do e-commerce, porém, não passou despercebida. Segundo Julia, de 78 anos, um funcionário da empresa ligou, tentando convencê-la de que testes com drones eram seguros e não ofereciam risco à vida selvagem. Ela ainda duvida. “Eles estão testando esses drones aqui porque não podem fazer isso nos EUA. Se os americanos não querem, eu também não quero”, disse.

Busca. Rumores sobre aeronaves misteriosas voando baixo no interior me trouxeram para a região. Ainda assim, quando parei o carro em uma manhã, tive a impressão de que estava no lugar errado.

Depois de andar por muitos quilômetros e percorrer praticamente todas as ruas, não me sentia perto de encontrar drones. Menos de 250 metros depois de entrar na trilha de grama às margens de uma fazenda, um guarda com um walkie-talkie apareceu e mostrou uma placa que dizia: “Propriedade privada. Passagem proibida”. Soube que estava no caminho certo.

Enquanto caminhava pela propriedade, minhas suspeitas aumentavam. Em uma das entradas da fazenda, um guarda checava a identidade das pessoas que chegavam ao local. Ao longe, fardos de feno estavam empilhados, provavelmente para testar a capacidade dos drones de voar entre prédios. Então o encontrei.

No fim das contas, espionar o drone foi um anticlímax. Em vez de realizar acrobacias, o aparelho se moveu de um lado para o outro por 20 minutos, lentamente atravessando de uma ponta à outra do campo.

Em lugares como Worsted Lodge – uma região pouco populosa onde há mais animais de criação do que pessoas – os drones podem preencher um nicho para pessoas com pouco acesso a lojas. Mas em áreas urbanas, a chegada de drones de entrega pode rapidamente se converter em um pesadelo logístico – algo que os testes em Cambridgeshire não serão capazes de resolver.

“Como as aeronaves vão encarar os últimos 100 metros?”, questionou Jay Bregman, fundador da Verifly, startup de seguro para drones, quando liguei para perguntar sobre a viabilidade dos planos. “Em lugares como Nova York, isso vai ser muito difícil.”

Rivais também testam entregas com drones

Apesar de ser um dos projetos que mais chamam a atenção do público, a Amazon não é a única a fazer experimentos de entregas com drones. Outras empresas, de todos os segmentos possíveis, já estão fazendo testes similares ao redor do mundo.

Na Nova Zelândia, por exemplo, a rede Domino’s Pizza está testando drones para entregar pizzas. A empresa conta com planos ambiciosos: quer usar a tecnologia em mais 2 mil unidades da rede no futuro. Além disso, a companhia quer colocar o sistema de entregas com drones em prática em algumas unidades da Domino’s no país, até o final de 2016.

Enquanto isso, o Google, em parceria com a rede de fast-food Chipotle, já começou a testar a entrega de burritos com a ajuda de drones na Virgínia, nos EUA.

Já a JD, gigante chinesa do comércio eletrônico, conta com uma frota de drones autônomos que realizam viagens de 24 quilômetros até comunidades rurais por apenas 20% do custo de entregas por caminhão. Apesar de já estar em fase avançada de testes, a entrega ainda depende de pessoas para realizar o trajeto final para o cliente.

 

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