Para liderar é preciso ser inteligente?
General de Divisão R1 Joarez Alves Pereira Junior
Logicamente que a inteligência é inerente à raça humana. Ser inteligente, na perspectiva que aqui se pretende, é possuir inteligência acima da média das pessoas.
Primeiramente, é preciso diferenciar inteligência de conhecimento.
O conhecimento é o entendimento sobre algo, geralmente obtido por meio de um processo de aprendizagem ou pela observação da experiência vivida, por si próprio ou por outrem.
Definir grau de inteligência das pessoas, por sua vez, é uma tarefa complexa. Os tradicionais testes de QI (Quociente de Inteligência) foram caindo em descrédito, na medida em que não serviam mais para expressar, em plenitude, o potencial de inteligência de cada indivíduo.
O psicólogo americano Howard Gardner definiu sete tipos de inteligência:
– a lógica, com base na capacidade de memória e talento para lidar com a matemática e a lógica em geral;
– a linguística, expressa pela facilidade de se comunicar tanto de forma oral como escrita;
– a motora, relacionada à expressão corporal, à noção de espaço e distância;
– a espacial, focada na capacidade de criação, imaginação e talento para a arte gráfica;
– a musical, centrada na capacidade superior de ouvir e processar sons, criando músicas e harmonias inéditas;
– a interpessoal, revelada pela capacidade diferenciada de entender os sentimentos das pessoas e pela habilidade social; e
– a intrapessoal, com base na compreensão profunda das próprias emoções, forças e fraquezas, bem como no autocontrole.
E não para por aí. Especialistas já falam em inteligência naturalista, baseada na facilidade da compreensão da natureza e seus processos e na inteligência existencial, ou seja, a capacidade filosófica de refletir sobre a própria existência.
Verdade que é possível ser inteligente e, ainda assim, não se ter conhecimento sobre determinado assunto. O oposto também é correto, são encontradas pessoas de elevado conhecimento em áreas específicas que não são dotadas de inteligência acima da média.
O líder conduz, mostra a direção, dirige o grupo, defini metas a serem alcançadas, impulsiona os outros a produzirem mais, influencia e motiva seus liderados. O líder é autoconfiante, determinado e terá que conquistar a confiança de seus liderados, uma vez que não se reconhece a liderança de uma pessoa na qual não se confia.
É muito difícil mostrar a direção, definir metas, estabelecer objetivos a serem alcançados sem o conhecimento da área na qual se atua. Ter conhecimento é sim condição basilar para liderar. Mas quanto a ser inteligente, estar acima da média? E em qual tipo, ou quais tipos de inteligência? Será esse fator importante para liderar?
Além de uma série de virtudes pessoais, a maioria dos líderes revela ter inteligência acima da média. Particularmente no que se refere às inteligências interpessoal e intrapessoal. Daniel Goleman ficou famoso ao classificar o somatório dessas inteligências como Inteligência Emocional. Ser possuidor de elevado Quociente de Inteligência Emocional diferencia os verdadeiros líderes.
A Inteligência Emocional baseia-se em quatro aspectos. Dois deles estão relacionados à inteligência intrapessoal, quais sejam, o autoconhecimento e o autocontrole. E os outros dois compõem a inteligência interpessoal, a empatia e a capacidade de administrar relacionamentos com pessoas ou grupos.
O domínio dos componentes da inteligência intrapessoal permite ao indivíduo cumprir a primeira etapa do desenvolvimento pessoal como líder: liderar a si mesmo. Como nos ensinou Baltasar Gracián, há séculos, “seja primeiro senhor de si e logo poderá ser dos demais”.
E essa não é tarefa fácil. Primeiramente faz-se necessário o trabalho mental para conhecer-se a si próprio, seus defeitos e limitações. Benjamin Franklin costumava dizer que “há três coisas muito duras: aço, diamante e autoconhecimento”. E parte dessa dificuldade é devido ao processo de acomodação mental ao não nos avaliarmos com o mesmo rigor com o qual avaliamos os outros e pela tendência inata de sermos mais exigentes com os defeitos dos outros do que para com os nossos.
Cumprida essa primeira etapa, passamos à segunda, em nada mais fácil. Cientes dos nossos defeitos e limitações temos que ser submetidos a um processo de disciplina diária e constante, pleno autocontrole, para superar esses defeitos e extrair comportamentos indevidos já enraizados. É muito difícil se predispor a liderar os outros se não for capaz de liderar a si mesmo.
Não menos importante para o líder são os aspectos da inteligência interpessoal.
O primeiro deles é a capacidade de reconhecer emoções nas demais pessoas ou grupos, ou seja, a empatia. O líder deverá ser capaz de conduzir um grupo a lugar que eles não chegariam sem a sua presença, justamente porque influencia e motiva seus liderados. E, colocar-se na posição do outro, compreendendo sentimentos e emoções, impulsiona a capacidade de motivar.
Além de tudo, a empatia facilita, ao líder, convencer os outros a compartilharem da sua visão.
O segundo aspecto da inteligência interpessoal mostra-se igualmente desejável para o líder. É a capacidade diferenciada de administrar relacionamentos com pessoas ou grupos.
A maestria para tanto é revelada, entre outros, por três aspectos: o uso correto da autoridade, ou seja, a habilidade de ser justo, aplicar a justiça com as recompensas e as punições devidas, dando a cada um o que lhe é devido; segundo, ser paciente e atencioso para com os liderados, ouvindo e compartilhado suas dificuldades; e, por fim, tendo tato no trato com as pessoas, desenvolvendo capacidade de comunicação verbal e não verbal com o grupo, praticando a comunicação não violenta e reservando o transmitir violento para o exato momento que seja exigido.
Portanto, dominar os aspectos da Inteligência Emocional é fundamental para criar um clima de confiança para com o líder, sem o qual, a liderança não será exercida, muito menos reconhecida pelos liderados.
Pesquisas sugerem que mais de 50% das pessoas inteligentes o são no que se refere às inteligências linguística e lógica, as mais medidas, inclusive, nos testes de QI. Também são apontadas que as habilidades emocionais estão relativamente definidas em torno dos 25 anos e, a partir daí, os comportamentos tendem a se tornar hábitos arraigados.
A boa notícia é que existem processos que permitem reprogramar o cérebro para comportamentos emocionais mais inteligentes. E essa é a inteligência a ser desenvolvida pelos líderes.